Mesmo sem meninas do seu peso para serem sparrings, Aline Silva não pôde trazer Flávio Ramos para o Pan de Toronto; Confederação diz que situação não vai mudar
Aline Silva brigará pelo bronze na luta olímpica em Toronto (Foto: GloboEsporte.com)
Assim, nas semanas de preparação pré-Pan, no Japão, nos treinos em solo canadense e também no aquecimento dos combates, Aline teve que trabalhar com meninas mais leves e garante que isso fez diferença.
A brasileira ainda não encontrou junto à confederação uma forma de resolver o impasse. E nem parece perto de fazê-lo. Enquanto ela diz esperar compreensão dos dirigentes e o entendimento da importância da presença de Flávio ao seu lado, o presidente Pedro Gama diz que são muitos os motivos que afastam Flávio das viagens da delegação e frisa que a situação não irá mudar. Para Aline, até no aquecimento antes da luta contra a americana Adeline Gray, Flávio fez falta.
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- A ausência dele atrapalhou durante o treinamento e na minha preparação. A Adeline estava aquecendo bem com um parceiro e eu pego emprestado de um, de outro... No treinamento também foi assim. Faz toda a diferença. Não em questão técnica, mas em ritmo de luta, agressividade. Seu corpo se adapta. Com meninas mais leves, seu corpo vai devagar. Com ele, vou para cima, tomo pancada, faço força, sinto ele entrando com força. A minha confederação ainda não achou um meio de trazê-lo, por ser homem, meu marido. As meninas mais leves tiveram sparrings, trouxeram parceiras. Eu dei azar. Tive meninas machucadas e fiquei sem treino - disse Aline.
Pedro Gama Filho, presidente da Confederação Brasileira de Wrestling (Foto: Divulgação/CBLA)
- No Japão não tinha um peso pesado. Ela disse que fez falta, são opiniões. Ela lutou com a melhor do mundo, campeã mundial, caiu numa posição de perna. Difícil. É fácil dizer que fez falta ou não. Eu prefiro dizer que ela perdeu para a melhor do mundo de novo. Teve chance de vencer... Temos uma equipe técnica para pensar nisso. Tenho os treinadores. Eu como presidente acato o que vem da equipe técnica. Tem muita coisa envolvida. É uma equipe feminina, você mistura família no ambiente de uma equipe esportiva, apesar de toda a ajuda dele no Brasil. Ela pode passar por isso pelo resto da carreira. Mas temos atletas do peso. Elas estão no Brasil. O Flávio treina com ela no Brasil, quando viaja, você tem um limite de orçamento. Leva mais uma pessoa... Nenhuma outra menina ela. A diferença da Aline é que é pesada. A partir do momento que começa a diferenciar, cria um problema interno. Temos que buscar soluções - garante Pedro Gama.
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- Não o reconheceram. Talvez não vejam que é bom para o meu treino. Acham que é conveniente viajar com o marido. Mas não é. Nenhuma pessoa está disposta a me dar 200 golpes até eu defender. Qualquer atleta não ficaria quatro horas assim comigo. A menina diz que não está se sentindo bem... Ele treina doente, machucado. Ele sabe que eu preciso. Acho gente com padrão técnico, peso, mas não tão doado comigo. Ele vai treinar o golpe da americana em mim para eu defender. Ele deve estar totalmente irritado. Assiste todas as lutas, as das minhas adversárias. Me dá apoio técnico, apesar de não ser capacitado como técnico. E não é por isso que ele não vem. Ele só precisa servir seu corpo para mim. As meninas vieram com outras parceiras só para servir seus corpos para elas. Ele não vem porque é homem e meu marido ainda - reitera Aline.
Aline Silva ao lado do marido, Flávio Ramos,
seu sparring nos treinos (Foto: Flavio
Perez/Onboard Sports)
A brasileira diz, inclusive, que o problema da confederação não é financeiro, algo citado por Pedro Gama sobre as viagens.
- Não é por falta de dinheiro, nada disso. A estrutura está ótima. Viajamos muito, temos muito apoio. A equipe é multidisciplinar. O que falta é o parceiro de treino. É uma situação nova para a confederação também, ter um homem como parceiro oficial de treino de uma mulher. É uma luta que tenho que ganhar, mostrando nosso profissionalismo. Não sei o que preciso fazer para eles entenderam minha necessidade de treinar. Depois dessa temporada, eu acredito que pode mudar. Não é preconceito, nem machismo. Eles não souberam lidar com a situação. Só tem mulher na equipe, é quarto feminino, é tudo mais simples. Você abre um precedente com o masculino e não sabe como a mídia vai lidar, as meninas. Tem uma porção de coisa. As meninas levam bem no Brasil. A gente convive assim lá no Rio, no dia a dia é assim. É uma coisa deles terem mais segurança para tomarem uma atitude dessa - finaliza Aline.
FONTE:
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