Aos 48 anos, ex-tenista gaúcha, dona do WTA de Barcelona de 88, ressalta batalhada jovem pernambucana ao levar título em Bogotá: "Fiquei muito feliz por ter sido ela"
Niege Dias em partida no WTA de Barcelona de 1988, quando foi campeã (Foto: Arquivo pessoal)
Por 27 anos, o último título do Brasil em torneios de
primeira linha da WTA (Associação de Tênis Feminino) havia sido conquistado pela gaúcha Niege Dias, no saibro
de Barcelona, em 1988. Esse jejum chegou ao fim no último domingo, quando a
pernambucana Teliana Pereira, de 26 anos, conquistou o WTA de Bogotá, na
Colômbia, também no saibro. Depois de levantar a taça, a brasileira disse não
conhecer Niege, mas já tinha ouvido falar da compatriota que fez história na
Espanha: “Sei porque, há dois anos, quando fiz semifinais aqui, foi um grande
resultado para o Brasil e ouvi o nome dela”. Se Teliana não conhece muito a
história de Niege, a ex-tenista conhece bastante a jovem brasileira e vibrou
muito com a conquista da pernambucana. Mesmo que agora todos saibam a idade
dela.
- Foi muito legal, acompanhei pela internet. Mas não tem ideia da
gozação aqui no clube agora: "Niege, agora todo mundo sabe a sua
idade" (risos) - disse a ex-jogadora, que aos 48 anos é Head Pro de um clube com
aulas de tênis em Porto Alegre, onde mora. Para ela, ninguém melhor
que Teliana para chegar ao título no circuito.
- Já vi ela jogar em Florianópolis e fiquei muito feliz por
ter sido ela, porque sei que é uma batalhadora por tudo que passou. Ela merece.
Todo mundo batalha, mas acho que para ela tem um gostinho especial. É uma
batalhadora, uma lutadora, e isso não tem preço - afirmou, por telefone.
Teliana Pereira subiu quase 50 posições no ranking divulgado
pela WTA na última segunda-feira. Ela ocupa agora a 81ª posição, seu
melhor lugar na carreira até aqui. É ainda a sexta brasileira mais bem
ranqueada na história,
que tem Maria Esther Bueno como ex-número 1 e, logo em seguida, Niege
Dias como
ex-31ª colocada. As três são as únicas brasileiras a terem vencido um
WTA. Patrícia Medrado (48ª, em 1982), Claudia Monteiro (72ª, em 1982)
e Andréa Vieira (76ª, em 1989) também já chegaram a rankings melhores
que o
ocupado hoje por Teliana. Para Niege, a pernambucana, moradora de
Curitiba, tem totais condições de chegar ainda mais longe,
principalmente se
continuar trabalhando firme como tem feito.
Ex-tenista Niege Dias hoje dá aulas de tênis em
clube de Porto Alegre (Foto:
Reprodução/Facebook)
- É um funil daqui para frente, e hoje para jogar tênis são
várias coisas. Ela vai treinar, vai ter que passar para outro nível, e vai ter
que trabalhar, todo mundo trabalha, até o Federer trabalha, até o Djokovic
tenta fazer algo diferente, e acho que ela pode. Tem que acreditar dia após
dia, torneio após torneio. Com esse ranking, ela vai estar direto nos Grand
Slams e nos torneios maiores, então tem que aproveitar. Fica mais difícil
agora, mas tem que aproveitar o embalo da boa fase.
Além do WTA em Barcelona, a ex-tenista gaúcha também foi
campeã de simples no Aberto do Brasil então realizado no Guarujá-SP, em 1987. Niege
ressalta que a formação de um tenista é demorada, mas acredita que Teliana tem
o perfil necessário para se manter no caminho certo, além de saber valorizar
cada conquista.
saiba mais
- É complicado (formar um tenista), é que nem com o Guga, não sabemos quando vamos ter um outro tão cedo, demorou para termos. Acho que outra Maria Esther não vamos ter nunca mais, ela é única. Mas, ao mesmo tempo, a Teliana tem um perfil diferente. Algo que digo é: uma coisa é tu querer, outra coisa é tu trabalhar, são coisas diferentes. Todo mundo acha que o tênis é só glamour, mas no esporte de alto rendimento não é. É muito sacrifício e dedicação, e a Teliana tem esse perfil de batalhar, de não descuidar, de saber as dificuldades que passou. Não que as outras não deem valor, mas acho que ela realmente sabe das dificuldades, não teve facilidades na vida. Para ela sempre foi difícil desde pequena. Acho que todo mundo quer, mas para querer tem que ir atrás, e a Teliana tem a maturidade e o perfil de buscar. Ela também não tem 15 anos, já é madura, já passou por muita coisa e isso ajuda bastante - afirmou Niege, que integrou a equipe feminina do Brasil por sete anos seguidos na Fed Cup.
Se Teliana chega ao seu primeiro título de WTA aos 26 anos,
nesta mesma idade Niege Dias já estava “aposentada” das quadras há quatro anos.
A gaúcha jogou apenas quatro anos como profissional e decidiu abandonar o
circuito aos 22 anos, mas sem arrependimentos.
- Parei bem cedinho. Queria ter uma vida normal, sou muito
feliz hoje. Sou muito “low profile”, fico no Sul, na minha. Fiz a escolha
certa, foi uma escolha muito madura apesar dos 22 anos. Nunca me arrependi.
Estou bem feliz no que estou fazendo.
Niege Dias deixou o circuito com apenas 22 anos (Foto: Arquivo pessoal)
Tudo aconteceu de uma forma muito rápida para a ex-tenista,
que aos 13 anos já disputava o Grand Slam juvenil de Rolanda Garros, na França.
No primeiro ano como profissional, Niege já ocupava um lugar entre as 70
melhores do mundo, aos 18 anos.
- Comecei com oito anos, mas foi tudo muito rápido. Aos 12
anos já tinha sido vice-campeão do Orange Bowl (torneio de juniores nos Estados
Unidos), aos 13 joguei o juvenil de Wimbledon, naquela época isso era muito
cedo. Joguei meu último ano de juvenil e logo estava no WTA de Miami, que
naquela época era o Lipton, e passei do qualifying e joguei três rodadas.
Quando me vi, no primeiro ano depois do juvenil já estava entre as 70 do mundo,
jogando Wimbledon, Rolando Garros e US Open. Foi tudo muito rápido - ressaltou.
Ao lembrar os tempos de circuito profissional na década de
80, Niege Dias destacou que há diferenças significativas em quesitos técnico, físico
e de logística. Mas ela não vê facilidade em nenhuma época, e por isso valoriza
tanto o feito de Teliana na Colômbia.
- Hoje está tudo maior e mais organizado, além da mídia. Não
tínhamos tanto acesso. Hoje também existe tem mais acesso a viajar com
treinador, equipe, mais informação da parte física e fisiológica. Antes, para
saber sobre o adversário, tinha que perguntar a outra tenista: “você jogou com
fulana, como ela joga?”. Não que seja mais fácil ou difícil, sempre é difícil,
por isso que dou tanto valor ao que a Teliana fez, porque não é fácil -
concluiu.
FONTE:
Nenhum comentário:
Postar um comentário