terça-feira, 4 de novembro de 2014

Rivais na Copa do Brasil, Santos e Cruzeiro também duelam por receitas

Clubes, que decidem uma vaga na final do torneio, terminaram 2013 com receitas parecidas. Com cofres mais saudáveis, mineiros devem ultrapassar paulistas em 2014


Por
São Paulo

Cruzeiro x Santos - mineirão  (Foto: Cristiane Mattos / Futura Press / Agência Estado)Clubes duelam também por receitas (Foto: Cristiane Mattos / Futura Press / Agência Estado)


Santos e Cruzeiro decidem nesta quarta-feira um dos finalistas da Copa do Brasil em duelo na Vila Belmiro, a partir das 22h. Mas o confronto entre paulistas e mineiros, além de definir o futuro das equipes na competição, também impactará uma outra disputa entre os clubes: a da arrecadação.

As duas equipes terminaram a temporada passada em um patamar muito próximo de receitas arrecadadas, com pequena vantagem para os santistas, que fecharam 2013 com R$ 190 milhões contra R$ 188 milhões dos cruzeirenses. Atrás do rival desde 2010, quando Neymar explodiu com a camisa branca, a perspectiva dos dirigentes celestes é ter, já em 2015, o adversário desta semana em seu retrovisor.

A expectativa se explica ao analisar a estrutura de arrecadação das duas equipes e o retorno dos investimentos feitos – com clara vantagem ao Cruzeiro, campeão mineiro e em vias de conquistar o bicampeonato brasileiro. São os comandados de Marcelo Oliveira, também, que entram em campo na quarta mais próximos de um lugar na final da Copa do Brasil, já que venceram a partida de ida por 1 a 0 e, com um empate, se classificam. O Santos terá de bater os visitantes por ao menos dois gols de diferença para ainda lutar pelo título.

Publicada recentemente, uma análise do banco Itaú BBA sobre os balanços das finanças dos clubes brasileiros no ano passado aponta que o Cruzeiro tem alicerces mais sólidos do que o Santos, com maior participação das receitas recorrentes – aquelas que tendem a se repetir ano após ano.

Sócio-torcedor

Boa parte do crescimento de 57% do Cruzeiro em 2013 se deu pela importante participação das rendas de bilheteria e do programa de sócio-torcedor nas contas do clube. Pela primeira vez, esse tipo de receita superou o que foi conquistado com cotas de TV. A ótima campanha no Brasileiro e a reabertura do Mineirão impulsionaram essa arrecadação, que passou de R$ 10,6 milhões em 2012 para aproximadamente R$ 64 milhões na temporada seguinte – valor que deve ser superado novamente em 2014, já que o clube aumentou o número de sócios em mais de 12 mil, passando para os 65 mil atuais.

Torcida do Cruzeiro faz a festa no jogo contra o Botafogo no Mineirão (Foto: Gualter Naves/Light Press)
Em 2013, receitas com bilheteria e sócio-torcedor 
superaram cotas de TV no Cruzeiro (Foto: 
Gualter Naves/Light Press)

- A base de sustentação do Cruzeiro é bem mais saudável que a do Santos. Há um componente equilibrado entre bilheteria e sócio-torcedor e parte desses R$ 64 milhões é do programa, algo que deve se manter ao longo do tempo – afirma Cesar Grafietti, coordenador do estudo realizado pelo Itaú BBA.

Ele aponta os altos custos do clube como ponto de atenção.

- Nos dois últimos anos, as despesas foram maiores do que as receitas. Assim, há a necessidade de se manter os bons resultados em campo – diz Grafietti. O Cruzeiro acumula um déficit de quase R$ 63 milhões desde 2011.

Ressaca pós-Neymar

Os balanços do Santos confirmam o bem que Neymar fez aos cofres do clube enquanto esteve lá. As receitas passaram de R$ 70 milhões, em 2009, quando o jogador ainda era uma promessa, para os R$ 190 milhões do ano passado, o último em que o atacante atuou pelo clube.

Foi o ex-camisa 11, também, uma das principais fontes de arrecadação do Alvinegro em 2013. Sua venda rendeu cerca de R$ 51 milhões ao clube por 55% dos direitos do jogador e um acordo em que o Barcelona comprou a prioridade na negociação de outros três jovens atletas da base – os atacantes Gabriel, Victor Andrade e Giva, sendo que só o primeiro continua no elenco principal.

Neymar Santos x Flamengo (Foto: Adalberto Marques / Agif )
Neymar chora em sua despedida do Santos: 
busca por novo ídolo causou rombo no 
clube (Foto: Adalberto Marques / Agif )


A saída do atleta, porém, está ligada também ao déficit de R$ 40 milhões que o Santos apresentou em 2013. Sem Neymar, o clube passou mais de um ano sem um patrocinador fixo para ocupar o espaço mais nobre de seu uniforme. A bilheteria também caiu para o menor nível em quatro anos: foram apenas R$ 10 milhões, contra um auge de R$ 38 milhões em 2011, quando o time foi campeão da Libertadores.

- Sem seu ídolo, o Santos ainda procura um norte. Acabou gastando mais do que devia - explica Grafietti.

altos investimentos

O Santos investiu como ninguém em 2013: foram R$ 89 milhões, 47% de toda sua receita no ano, segundo a análise do banco, apenas na montagem de um elenco que nada ganhou. O Cruzeiro também abriu os cofres para reforçar o elenco (R$ 35 milhões), mas colheu um Brasileiro, um Mineiro, é líder e favorito ao campeonato nacional deste ano, além de ainda ter chances na Copa do Brasil.

Há um ponto em comum entre os dois clubes, nesse aspecto: o argentino Montillo. Ídolo cruzeirense, o jogador deixou a Toca da Raposa no início de 2013 rumo ao Santos. Os paulistas pagaram, à época, cerca de R$ 16,2 milhões por 60% dos direitos do jogador, e ainda devolveram o volante Henrique, que havia custado R$ 6 milhões em 2011, aos mineiros, que usaram esses recursos para reforçar o time. A apagada passagem do meia pela Vila Belmiro terminou em janeiro, quando foi vendido ao Shandong Luneng, da China.

Se em campo o Santos ainda pode superar o Cruzeiro, fora dele a possibilidade maior é de que a equipe de Belo Horizonte ultrapasse os rivais, com cofres mais saudáveis.


- O Santos deve ter novamente uma queda importante de receita. Não teve vendas de atletas e conta com um volume baixo de bilheteria, enquanto a torcida do Cruzeiro se mostra mais forte. A tendência do Cruzeiro é bem mais positiva do que a do Santos - aponta Grafietti. Procuradas, as duas diretorias não se manifestaram.


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