Com campanhas iguais na segunda metade da competição, São Paulo e Corinthians veem vaga na Libertadores sob risco, e Palmeiras não consegue escapar da degola
O Trio de Ferro paulista enferrujou. Se no Palmeiras os
sinais de oxidação são claros e preocupantes desde o início do Campeonato
Brasileiro, as aspirações de Corinthians e São Paulo, que passaram todo o
primeiro turno como candidatos a destronar o Cruzeiro, começaram a ser
corroídas no começo desta segunda metade do torneio. Os maus resultados, que
mantêm o alviverde na zona de rebaixamento, agora também afastam os rivais da
capital da luta pela taça e ameaçam a participação do estado na próxima Copa Libertadores.
– Quando faz os gols, a defesa ajuda. Quando toma, é só a
defesa. Somos um time. Temos de valorizar, principalmente quando ficamos
invictos. Quem sofre os gols é o time todo, não só a defesa. Tem que recuperar
o time como um todo – disse Milton Cruz, que substitui Muricy no banco desde a
semana passada, quando o titular sofreu uma arritmia cardíaca.
Para os que preferem ver o copo meio cheio, a parte de baixo
da tabela do Brasileiro é um alento. A ameaça de degola ronda ao menos 11
clubes – só sete pontos separam o Palmeiras do Figueirense, 12º colocado (32 a
25) – e os paulistas ainda farão confrontos diretos com boa parte deles.
Cada um, porém, tem seus próprios problemas para se preocupar.
E, para que tenham algo a comemorar no fim da competição, é preciso resolvê-los
com rapidez. Em seis jogos no returno, as três equipes têm campanhas idênticas:
sete pontos, com duas vitórias, um empate e três derrotas – no mesmo período,
Internacional e Atlético-MG somaram 13 pontos e mudaram suas ambições: o
primeiro agora sonha com o título, o segundo entrou, finalmente, no G-4.
São Paulo: crise dentro e fora de campo
A derrocada são-paulina começou, ironicamente, no momento em
que a equipe mais se aproximou da primeira colocação. Após bater o Cruzeiro por
2 a 0 em casa, na 21ª rodada, diminuiu para apenas quatro pontos a vantagem
mineira na ponta. No dia seguinte, o presidente Carlos Miguel Aidar concretizou
a crise que se anunciava ao demitir o ex-mandatário tricolor Juvenal Juvêncio
do cargo que ocupava no comando da base do clube.
O técnico Muricy Ramalho prometeu proteger o elenco das
polêmicas de bastidores, mas a sequência de tropeços deixa dúvidas sobre a
eficácia dessa blindagem. A partir de então, o São Paulo perdeu três vezes – Coritiba,
Corinthians e Fluminense – e empatou com o Flamengo. Se tivesse levado os 12
pontos, deixaria o Morumbi, no último sábado, um ponto à frente do Cruzeiro.
Rogério vê a bola passar em gol do
Flu, na última rodada: São Paulo
não vence há quatro jogos
(Foto: Marcos Ribolli)
O celebrado quarteto ofensivo, com Kaká, Ganso, Alan Kardec
e Pato, esfriou. Mas a defesa tem participação mais objetiva nessa fase ruim:
foram 11 gols sofridos nessas quatro partidas, um terço de todos as bolas que
balançaram a rede da equipe em todo o torneio – apenas Figueirense, Palmeiras e
Vitórias têm desempenho pior até aqui.
Na terceira posição, com 43 pontos, o elenco já não alimenta
mais a esperança de um sétimo título brasileiro.
– Além de estarmos muito atrás do Cruzeiro, cada vez tem
menos jogos – afirmou Luis Fabiano, que elevou o clima do elenco ao reclamar de
ser reserva após a derrota para o Flu.
No sábado, a equipe viaja para enfrentar o Grêmio. Os
gaúchos têm a mesma pontuação e podem tirar o Tricolor do G-4 pela primeira
desde a 15ª rodada. Antes, entretanto, o São Paulo inicia a disputa das oitavas
de final da Copa Sul-Americana, terça, contra o Huachipato, do Chile, no
Morumbi.
corinthians: um visitante inofensivo
Por rodadas, receber o Corinthians em casa era um tormento
para os anfitriões. A equipe de Mano Menezes sempre trazia ao menos um ponto de
suas viagens pelo Brasileiro. Foi só na 17ª partida que o alvinegro perdeu um
jogo como visitante, para o Grêmio, por 2 a 1. Foi, também, a última vez que anotou
um gol longe da Arena de Itaquera.
Neste segundo turno, o time do Parque São Jorge foi
derrotado nas três vezes que deixou São Paulo – mais do que em toda a primeira
metade do torneio, quando perdeu só dois jogos. O ataque passou em branco
contra o Flamengo, Figueirense e Atlético-PR, todos em posições inferiores na
tabela, em derrotas sempre por 1 a 0.
Além da seca de gols, há outro padrão negativo nessa
sequência de reveses corintianos: o baixo número de finalizações. Foram apenas
seis em Florianópolis e Curitiba e só cinco no Rio de Janeiro. Quando mandante,
a produção ofensiva da equipe é bem superior. Em seus domínios, o Corinthians
costuma incomodar mais os goleiros rivais – foram 13 chutes a gol contra a
Chapecoense, 12 no clássico com o São Paulo e 10 na meta do Atlético-MG.
Contra o Atlético-PR, Corinthians
completou quatro partidas sem
marcar gols fora de casa
(Foto: Getty Images)
A ineficácia do setor de frente foi o argumento utilizado
por Mano Menezes para explicar a última derrota.
– Penso que o Corinthians jogou melhor que o Atlético-PR.
Controlou todo o jogo. O torcedor (curitibano) estava vaiando a equipe porque o
Corinthians estava taticamente muito melhor, mas com o seu defeito: concluindo
pouco. É isso que, como time, temos de corrigir. Quando se joga melhor, como
jogamos, você tem de criar oportunidades – analisou o treinador.
Sobrou não só para os atacantes, mas também para os homens
de meio-campo, que, segundo Mano, construíram poucas oportunidades paras os
companheiros.
– Só criando e
concluindo bem que podemos chegar a marcação do nosso gol. Esse jogo é
completamente diferente do de quarta-feira passada (contra o Figueirense).
Jogamos bem como equipe hoje (domingo). O que nos faltou mesmo foi a criação
com mais qualidade, e a definição dessa criação, traduzindo em chances de gol.
O desempenho recente tirou o Corinthians da zona de
classificação para a Libertadores, onde era frequentador assíduo desde a oitava
rodada. Estacionado nos 40 pontos, viu Atlético-MG, Grêmio e Fluminense o
ultrapassarem e, na sétima colocação, já convive com a sombra de Santos e
Sport, quatro pontos abaixo.
Na próxima rodada, sábado, conta com seu principal trunfo, a
Arena, para retomar o caminho do G-4 exatamente contra os pernambucanos.
Depois, porém, a tabela reserva uma preocupação para a torcida alvinegra: o
time fará três partidas longe de São Paulo contra Cruzeiro, Botafogo e
Internacional. A possibilidade de terminar o Brasileiro abaixo da quarta
posição faz o técnico Mano Menezes tratar o confronto com o Atlético-MG, pelas
quartas da Copa do Brasil, como uma “final”. O jogo de ida é nesta quarta, às
22h, em Itaquera.
palmeiras: reação, apesar dos pesares
O Palmeiras é o 17º colocado, dentro da zona de rebaixamento
do Brasileiro e, nas últimas três rodadas, foi goleado pelo Goiás (6 a 0) e
perdeu de virada para o Figueirense (3 a 1). A frieza dos números, entretanto,
mostra uma pequena reação alviverde no torneio. Nos seis primeiros jogos do
segundo turno, a equipe anotou mais pontos do que nas seis partidas anteriores.
Mas ainda pouco: os sete pontos (contra quatro da parte final do primeiro
turno) não foram suficientes para livrar o alviverde da degola.
As duas vitórias alviverdes a partir da 20ª rodada deram um
pouco de oxigênio ao time, mas não servem para projetar um futuro muito melhor.
Os jogadores de Dorival Júnior só conseguiram bater, até aqui, rivais que ocupam
posições abaixo na tabela, o Criciúma (1 a 0) e o Vitória (2 a 0). Como está no
limite dos que caem, resta ao Palmeiras enfrentar apenas o Coritiba entre os
que estão piores classificados.
Lúcio comemora gol contra o Vitória,
mas reação discreta ainda não tirou
Palmeiras do Z-4 (Foto: Marcos Ribolli)
Para evitar o desânimo de seus comandados, o técnico tem
utilizado discursos positivos e motivação para tentar tirar o clube do que pode
ser seu terceiro rebaixamento desde 2002.
– Jamais vou desanimar dentro da minha profissão. Você
exerce uma função e, se chegar desanimado, é natural que teu grupo vai se sentir
da mesma forma. Não existe isso. Estamos trabalhando muito e o Palmeiras vai
sair dessa situação. Se continuarmos trabalhando dessa forma, fatalmente iremos
encontrar nosso caminho – disse Dorival depois do último jogo.
O primeiro é já nesta quinta-feira, no Pacaembu, quando enfrenta a
Chapecoense. A equipe de Santa Catarina tem 28 pontos, mas um triunfo
palmeirense tira o clube do Z-4 por causa do primeiro critério de desempate, o
número de vitórias. Seria um alívio, ainda que insuficiente para abandonar a
calculadora tão cedo.
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