Sem expressão no México, Querétaro escapou da segunda divisão nos bastidores, foi adquirido por dono de uma grande empresa e agora se prepara para lutar por títulos
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Se alguém falasse para um torcedor do Querétaro em maio de 2013 que Ronaldinho Gaúcho jogaria no time, não seria levado a sério. Naquela época, a equipe havia acabado de ser rebaixada para a segunda divisão mexicana, após ficar em último lugar na tabela geral. Dez meses depois, a situação é completamente diferente: o clube não só escapou do descenso graças a uma manobra de seu antigo dono, como foi vendido e virou propriedade de uma das maiores empresas do país. O primeiro passo para atrair a atenção do mundo veio com o anúncio do craque brasileiro.
Fundado em 1950, o Querétaro sempre viveu às voltas com
problemas financeiros e tem uma sala de troféus modesta: apenas três títulos da
segunda divisão. No México, os clubes são espécies de franquias, como na NBA, e
podem mudar de cidade se o proprietário assim decidir. No meio destas
transações, os Gallos Blancos já estão
em sua sexta identidade.
A última “fundação” foi a mais decisiva para o clube. Em
maio de 2013, apesar de uma campanha de recuperação, o time terminou na
lanterna da tabela geral. O rebaixamento parecia consumado, até que uma manobra
nos bastidores manteve a cidade de Santiago de Querétaro com uma equipe na
elite.
Fachada da sede do Querétaro: nova força
do futebol mexicano (Foto: Facebook)
FUGA DO REBAIXAMENTO NOS BASTIDORES
Dono
dos Gallos Blancos, o empresário Amado Omar Yáñez Osuna comprou outro
clube, o Jaguares de
Chiapa, também da primeira divisão, e anunciou que iria transferi-lo
para Querétaro, efetivamente mantendo sua equipe na elite. O que se
seguiu foi um
efeito dominó: o San Luis assumiu o lugar do Jaguares e virou o Chiapas
Futebol
Clube; o Veracruz, recém-promovido, mudou-se para San Luis de Potosí e
tornou-se Atlético San Luis; por fim, o La Piedad foi para Veracruz.
Compreensivelmente, a série de mudanças causou polêmica no
futebol mexicano. O Querétaro original, rebaixado, deixou de existir como
entidade. Os novos Gallos Blancos estavam na elite, mas os problemas não haviam
acabado. Logo em seguida, Amado Yáñez se viu às voltas com
problemas judiciais, teve seus bens bloqueados, e os jogadores passaram a conviver com atrasos salariais.
- A gente ficou três meses sem receber no torneio passado (Clausura
de 2014, disputado no primeiro semestre). O dono não queria se desfazer do
time, mas o clube ia desaparecer, porque não havia como mantê-lo com a briga na
Justiça – contou o atacante Ricardo Jesus, desde janeiro no Querétaro.
Querétaro escapou do rebaixamento
(Foto: Reprodução / Facebook )
A solução veio em junho deste ano. O Grupo Empresarial Ángeles,
um dos mais importantes do México, dono da maior rede de hospitais privados do país, além de
outros negócios, resolveu investir no futebol e comprou o Querétaro. A primeira impressão deixou o elenco
satisfeito.
- Os donos que assumiram o clube são pessoas muito sérias,
têm várias empresas. Eu sabia que podia vir algo grande deles, mas não
imaginava o Ronaldinho Gaúcho. Eles estão fazendo algo grande aqui, tem tudo
para ser um trabalho bem feito – disse William, outro brasileiro do clube.
MECENAS DISCRETO
Olegário Vázquez em sua apresentação como dono do Querétaro, em junho (Foto: Facebook)
A figura mais midiática da empresa é Olegário Vázquez, o
mesmo que anunciou no Twitter a contratação de Ronaldinho. Filho do fundador do
grupo, é visto como um dos empresários mais importantes do México e ajudou a
diversificar os negócios. Hoje, o Grupo Ángeles tem investimentos na saúde, no
turismo, no mercado financeiro, na comunicação (possui rádios, jornais e dois
canais de televisão – é este braço da companhia, o Grupo Imagen, que adquiriu
diretamente o Querétaro) e, claro, futebol.
Naturalmente, Olegário Vázquez não vive o dia-a-dia do
Querétaro. Aparece em momentos importantes e deve marcar presença na
apresentação oficial de Ronaldinho Gaúcho. Na maior parte do tempo, porém,
mantém a discrição e evita interferir no clube.
- A gente teve contato com os donos quando eles se
apresentaram. No primeiro jogo, apareceram o senhor e o filho com a família no
vestiário. Às vezes eles vêm, conversam conosco no vestiário, mas aparecem
pouco – contou Ricardo Jesus.
Segundo o jornalista
inglês Tom Marshall, que vive em Guadalajara e acompanha o futebol
mexicano para publicações europeias, a ideia dos empresários em chegar
ao esporte mais popular do país é ganhar ainda mais influência, o que
explica a chegada de Ronaldinho.
- Se eu tivesse que
adivinhar, eu diria que a compra do Querétaro foi para tentar conseguir
algo em termos de direitos de transmissão de TV. O México, como país,
está se abrindo, e há uma disputa atual entre empresas de
telecomunicações e companhias de televisão, o que explica Carlos Slim
(homem mais rico do mundo) tendo uma parte no León e no Pachuca. O Grupo
Imagen provavelmente quer influência, e comprar um clube e fazer
grandes contratações é uma maneira de ganhar espaço.
Olegário Vázquez se apresenta aos
jogadores do Querétaro
(Foto: Facebook)
Assim, não existe temor de que esta seja apenas uma aventura
de Vázquez no futebol, contratando craques mundiais como Ronaldinho e gastando
grandes somas de dinheiro.
- Essas pessoas realmente fazem um bom trabalho. Eles não
iam trazer um foco grande para cá, com a contratação do Ronaldinho, sem poder
arcar com as responsabilidades – argumentou William.
EVOLUÇÃO NO CAMPEONATO MEXICANO
Sob nova direção, o Querétaro melhorou sua campanha e reforçou o elenco. Além de William e Ricardo, Ronaldinho vai encontrar no elenco outros três brasileiros: o meia Danilinho, ex-Atlético-MG, o atacante Camilo, com passagem pela MLS, e o naturalizado mexicano Sinha, outro nome famoso do plantel.
William, Camilo e Ricardo Jesus são
três dos cinco compatriotas de
Ronaldinho (Foto:Reprodução
/ Facebook )
Na atual temporada, o Querétaro está em oitavo lugar na
tabela do Torneio Apertura, o que lhe garantiria uma vaga na segunda fase,
disputada em mata-mata, com os oito melhores times. No segundo semestre do ano
passado, a equipe conseguiu a classificação, mas caiu nas quartas de final.
Fora
dos gramados, a estrutura do Querétaro ainda pode
melhorar. William, por exemplo, considera as instalações do Palmeiras,
onde
iniciou a carreira, mais avançadas que as dos Gallos Blancos. Já Ricardo
Jesus acredita
que, com o dinheiro disponível no momento, em breve serão feitas
melhorias. O estádio, por sua vez, é elogiado: La Corregidora tem
capacidade para 45 mil pessoas.
- O Querétaro é um time médio com uma estrutura boa, mas não
top. O clube dá todo o material de trabalho, mas eu acho que tem muito a
crescer. E tem dinheiro para isso, para melhorar muito – explicou Ricardo.
Estádio La Corregidora é o novo palco
de Ronaldinho Gaúcho (Foto: Facebook)
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