Determinado a chegar entre os primeiros em Sopot, saltador passou por via crúcis nos últimos três meses, quando chegou a perder festas de fim de ano por causa de lesão
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O bicampeonato mundial de atletismo
em pista coberta não veio por acaso. Desde o ano passado, Mauro Vinícius da
Silva, o Duda, vinha se preparando para estar em condições de brigar pelo lugar
mais alto do pódio da prova do salto em distância em Sopot, na Polônia. Neste
sábado, a consagração veio com um salto de 8,28m na última tentativa. A marca
garantiu o histórico título brasileiro e coroou uma via crúcis, que se
arrastava por mais de três meses. Do controle do técnico Aristides Junqueira,
ao sacrifício de deixar de participar de festividades de fim de ano, Duda teve
a recompensa com a medalha mais valiosa do esporte.
- Cheguei na Polônia saltando não tão
bem. Na final, acreditei até o último momento. A única coisa que eu mudei no
último salto foi tentar subir um pouco mais. Agora tenho mais um compromisso
que são os Jogos Sul-Americanos do Chile. Como o atletismo é ano após ano, ainda
está cedo para começar a trabalhar para os Jogos Olímpicos. O que podemos fazer
é continuar lutando para manter essa eficiência até lá – disse Duda,
demonstrando a habitual humildade.
Duda comemora o bimundial em pista coberta
abraçado à bandeira do Brasil (Foto: Reuters)
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Sem
recesso e festas de fim de ano
A saga do saltador começou em
dezembro do ano passado. Após sofrer lesão no pé, o atleta ficou 10 dias
afastado dos treinamentos. A única opção para estar apto a realizar todo o
cronograma planejado até o Mundial de Sopot era intensificar o tratamento nas
semanas finais de dezembro. Com isso Duda, teve de sacrificar as festas de fim
de ano. Exceção feita ao dia 1º de janeiro, quando teve folga, o bicampeão mundial
trabalhou todo o período de festividades, no qual a maioria dos atletas costuma
ter um recesso para ficar com a família. Mauro Vinicius se tratou no
Centro Esportivo Eldorado, em São José do Rio Preto (SP).
02
Marcação
cerrada do treinador
Terminado o período de tratamento de
lesão e fisioterapia, Duda passou a receber “marcação cerrada” do seu
treinador. Exigente e perfeccionista, Aristides Junqueira, o Tide, acompanhou o
atleta em quase todos os seus momentos nos últimos dois meses. Zeloso pelos
cuidados físicos de Duda, Tide fez de tudo para que o saltador não se
desgastasse em viagens e nos poucos eventos sociais que participou no período.
Na véspera da abertura do Mundial de Sopot, Tide chegou a pedir para Duda ficar
sentado em um dos cantos da Ergo Arena, enquanto a maioria dos atletas
caminhava pela pista, fazendo um reconhecimento do local onde iriam competir.
- Ele já salta amanhã. Não pode se
desgastar – explicou Tide, na última sexta-feira.
Após o título, o atleta reconheceu a
importância do treinador na trajetória rumo ao segundo título mundial.
- Ele é a pessoa que me prepara,
então, se não fosse ele, eu não teria ganho. Como eu fiz a minha parte, é 50%
para cada um, mas ele é muito importante – afirmou Mauro Vinicius da Silva, na
coletiva de imprensa após a final do salto em distância.
Duda (D) ao lado do supervisor de alto
rendimento da CBAt, Mauro e
Antônio Carlos Gomes
(Foto: Flávio Dilascio)
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Competições
para readquirir a forma
Duda está fora do Brasil desde o
início de fevereiro, quando viajou para Portugal para realizar período de
treinamentos no Centro de Alto Rendimento do Jamor, em Lisboa. De lá, ele foi
para Birmingam, no Reino Unido, onde disputou o GP local, um dos mais
prestigiados pela Federação Internacional de Atletismo (IAAF). Em seguida,
Mauro voltou para Portugal para saltar no Nacional de Clubes, em Pombal. As
marcas obtidas nos dois eventos foram baixas (7.89m e 7,98m) se comparadas ao
seus melhores números. Contudo, o objetivo maior da comissão técnica do
saltador era que ele usasse os dois eventos para readquirir sua melhor forma
física ou aproximar-se dela.
- No fim do ano
passado e início desse ano, perdi treinos de musculação e velocidade. Tudo isso
foi somando para que eu voltasse abaixo da minha forma ideal. Corri atrás
nessas competições na Inglaterra e em Portugal e vim para a Polônia
praticamente na minha forma ideal – contou Duda, antes do Mundial.
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Recuperação
da confiança
Uma das metas traçadas por Mauro e
sua comissão técnica foi recuperar a confiança para saltar bem no Mundial. O
atleta sabia que não vivia um bom momento e que a pressão por bons resultados
em Sopot era enorme. Para resgatar a autoestima, Duda convenceu-se que era
necessário voltar a saltar acima de 8,00m para mostrar que o campeão mundial de
2012 estava mais vivo do que nunca. O salto que resgatou a confiança aconteceu
na sua última tentativa na fase eliminatória do Mundial. Com um 8,02m, Duda se
credenciava para chegar forte na disputa pelo título, neste sábado.
- A confiança é tudo. É incrível como
um atleta confiante adquire uma força imaginável. A técnica aparece, a dor não
aparece. Isso é o máximo em provas como a minha – destacou o bicampeão mundial.
Duda consegue seu maior salto na última
tentativa da final (Foto: Reuters)
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respeito
A comissão técnica de Duda sempre
trabalhou o atleta como possível ganhador de títulos expressivos no atletismo.
Mesmo havendo desconfiança por parte da crítica especializada pelo fato de o
título mundial de 2012, em Istambul, ter sido conquistado sem a presença de
alguns dos maiores nomes do salto em distância, Duda recebeu toda a preparação
digna de um campeão. O saltador foi o primeiro atleta a chegar a Sopot. Na
cidade polonesa, treinou forte quase todos os dias, utilizando a estrutura da
Universidade AWK, em Gdansk, próximo ao hotel onde ficou concentrada a
delegação brasileira. Todo o planejamento traçado acabou levando o atleta a
desenvolver o seu máximo potencial na final.
- Não sei o que muda na minha vida
com o bicampeonato. Só sei que tenho que focar em novas preparações para me
manter bem. Agora eu posso ser pelo menos mais um pouco respeitado pelos
atletas e pessoas que acompanham o atletismo – comentou Duda.
Duda voa e garante o bicampeonato mundial em
pista coberta em Sopot, na Polônia (Foto: AFP)
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