Após seis temporadas na França, Marcelo Fronckowiak quer repetir a trajetória vitoriosa da equipe de Bernardinho e contribuir para o vôlei brasileiro
Cultura e música sempre estiveram ligadas à vida de Marcelo
Fronckowiak. Mas foi no esporte que esse gaúcho de Porto Alegre
encontrou sua realização profissional. Gremista fanático, habilidoso com
a bola nos pés - pelo menos é o que ele garante - e capaz de dedilhar
um repertório bacana de bossa nova em seu violão, o novo técnico do time
masculino do Rio de Janeiro flertou com o futebol e até fez parte de
coral infantil quando ainda era moleque. No entanto, graças à
inesquecível Geração de Prata, vice-campeã no Campeonato Mundial da
Argentina, em 1982, e nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1984, ele
se rendeu à paixão pelo voleibol.
Quarto dos cinco filhos do artista plástico Luiz Roberto Fronckowiak e
da funcionária pública aposentada Edi Cogo, Marcelo deu suas primeiras
cortadas no Sogipa, clube tradicional da capital gaúcha que revelou
craques como Renan, Paulo Roese e os campeões olímpicos Paulão e
Janelson. Mas foi na Ulbra que ele fez história no vôlei nacional ao ter
se tornado o primeiro líbero campeão da Superliga e ser, ao lado de
Giovane, os únicos a terem vencido a principal competição do país como
atleta e treinador.
No entanto, o gosto pelos estudos e a paixão pelo idioma e pelo cinema francês o levaram ao Velho Mundo em 2004. Por seis temporadas, Marcelo dirigiu o Tourcoing Lille Metropole e o Harnes, ambos da França, e trocou a visibilidade de técnicos consagrados no Brasil, como Bernardinho e José Roberto Guimarães, por uma nova cultura e uma metodologia esportiva multidisciplinar até então desconhecida para ele.
- Decidi voltar ao Brasil para refazer um caminho que interrompi. Acho que se ficasse mais tempo na França as pessoas iam acabar se esquecendo de mim. Reconheço que não liguei muito para isso em um primeiro momento, mas acho que voltei na hora certa. Tenho uma vontade enorme de ajudar o vôlei brasileiro, como acho que tenho ajudado - afirmou Marcelo.
Ajuda que muitas vezes ele foi obrigado pelo pai a dar dentro de casa na hora de “entregar” os irmãos mais velhos. Apesar de herdar a fama de bagunceiro de Marcos e André em todo início de ano letivo, Marcelo sempre gostou de estudar, e era visto por seu Luiz Roberto como o mais certinho dos três filhos homens.
Boa-praça e articulado com as palavras, Marcelo não fugiu de nenhuma
pergunta nos 45 minutos de entrevista. Sincero e de personalidade forte,
ele aponta o rival Cruzeiro como favorito ao título da Superliga,
discorda que a competição nacional seja a melhor do mundo e afirma que é
a favor da permanência de Bernardinho e Zé Roberto à frente das
seleções brasileiras.
Como o vôlei surgiu na sua vida?
Eu joguei futebol na escola e tinha até habilidade, mas o vôlei surgiu com uma força tão grande com a Geração de Prata que eu tive vontade de participar daquilo. Era notório que vinha para ficar. Influenciado pelo meu irmão mais velho, o André, que também jogava, fui para a Sogipa, clube responsável pela formação de grandes jogadores como Renan, Heloísa, Paulo Roese, Paulão e Janelson, todos com passagens pela seleção. Passei cinco anos lá e depois fui para o Frangosul, meu primeiro time profissional. Ainda peguei o final da extinta Pirelli e depois voltei para o Sul, onde ganhei três títulos sob o comando do Jorginho Schmidt, um com a Frangosul e dois com a Ulbra.
Sempre quis ser técnico?
Sempre. Me sentia um jogador-técnico dentro de quadra. Sempre fui muito líder e na maioria das vezes capitão dos times que defendi. Tive grandes treinadores como Jorge Barros, o Jorjão, Jorge Schmidt e Juarez Santini, caras com trabalhos fantásticos que sempre procurei absorver. Pensava com a cabeça de um técnico e isso estava muito claro para mim. Eu falava e cobrava muito, era bem pentelho, chegava a ser um pouco chato. Sou muito CDF, sempre gostei de ir à escola. Sempre fui um cara estudioso. Quarto filho de uma família de cinco, fui o único que seguiu carreira no esporte. Meus dois irmãos eram da pá-virada, com uma diferença de três e cinco anos, e meu pai via em mim aquele cara certinho e me dava muitas funções, como checar, por exemplo, se eles tinham escovado os dentes. Eu entregava mesmo, era o dedo-duro, o X-9 da família (risos). Na escola, herdava a fama de que eles não eram bons alunos e muito bagunceiros. Quando a professora fazia a chamada e percebia que eu era irmão do Marcos e do André, já ficava preocupada. Eu tinha que explicar que gostava de estudar e era diferente deles. Sou de uma família de artistas. Meu pai é artista plástico.
A cultura então sempre fez parte da sua vida?
Sempre. Como meu pai era artista e trabalhava em casa, tinha uma circulação muito grande de “malucos”. Eram artistas plásticos, músicos, e de vez em quando aparecia um para morar conosco. Apesar de tudo, a gente acabava se afeiçoando. Meu pai é um baita de um pintor, mas está meio no ostracismo. Teve uma certa época áurea na década de 70 e 80, mas não soube conduzir isso.
Como foi essa transição de jogador para técnico?
No primeiro título da Ulbra eu participava do grupo e entrava sempre, mas no ano seguinte decidi parar de jogar e coincidiu de a Ulbra ter um plano para me incorporar à comissão técnica. Só que entrou a regra do Líbero em 98 e eles me convenceram a voltar a jogar. Acabei acumulando as duas funções e fui o primeiro líbero campeão brasileiro. Ganhei três Superligas, duas como jogador e uma como treinador. Mas no fim do ano briguei com todo mundo e saí de lá. Eu era um cara meio esquentado, e a Ulbra me mandou embora. Foram dois anos afastados do vôlei, até que em 2001 eles me chamaram de volta para integrar a comissão técnica do Jorge Schmidt, que no ano seguinte saiu por motivos particulares. Foi quando apostaram em mim. Era muito cru, mas me proporcionaram uma estrutura de trabalho excelente. Casou também porque o investimento financeiro não era muito grande. Eram apenas dois jogadores de nome, o Ricardinho e o Marcelo Negrão, e uma gurizada a fim de aparecer, como Roberto Minuzzi, Jardel, Acácio, Riad e o levantador Rafael Vieira, que está no Trentino. Foi um momento legal e uma aposta que deu certo.
Como a França apareceu na sua vida?A França é uma
paixão. Primeiro pelo idioma, que foi uma coisa que manifestei muito
rápido. O contato inicial aconteceu quando eu tinha entre 18 e 19 anos, e
gostava muito de assistir a filmes franceses. Achava a língua
maravilhosa e decidi me matricular com minha irmã mais velha em um curso
de francês. Fiz seis meses de aula, e a professora disse que eu levava
jeito. Nas viagens à Europa com a Pirelli, a Ulbra e o Frangosul, sempre
passávamos pela França e pela Bélgica, e eu aprendia alguma coisa. Eu e
minha esposa tínhamos vontade de fazer um caminho alternativo para me
testar como profissional, além de viver um pouco do Velho Mundo e
aprender línguas diferentes. Talvez tenha ficado além do tempo
necessário, mas era uma vida tranquila, estável.
A decisão de mudar para a França foi apenas para matar um desejo pessoal de morar na Europa?
Não, o lado da formação profissional também pesou. Achava que era necessário passar por tudo aquilo. Já falava francês e estudei muito antes da mudança. Sabia que lá encontraria mais dificuldade que no Brasil com essa coisa de comissão técnica multidisciplinar. No primeiro ano, fui treinador e preparador físico. Deu um trabalho desgraçado. Foram cinco anos no Tourcoing Lille Metropole e um no Harnes, da Liga B. Foi uma experiência muito legal. Meu filho mais velho, de 15 anos, é bilíngue, e o pequeno domina completamente o idioma, mas já está perdendo. Sei que foi uma mudança sacrificante para minha família, mas valeu a pena. Conhecemos muita coisa, viajamos bastante e fizemos muitos amigos.
Chegou a pensar na possibilidade de dirigir a seleção francesa?
O Philippe Blain ficou esse tempo todo na seleção porque teve resultados importantes nos últimos dez anos. Ele levou a França ao terceiro lugar do Mundial de 2002, foi duas vezes vice-campeão da Europa e uma da Liga Mundial. Há pouco tempo houve uma seleção para escolher o novo treinador, e muita gente me incentivou a concorrer ao cargo, mas decidi voltar ao Brasil e refazer um caminho que interrompi. Acho que se ficasse mais tempo na França as pessoas iam acabar se esquecendo de mim.
Acredita que essa mudança o tenha jogado para o fim da fila entre os possíveis candidatos ao cargo de técnico da seleção no futuro?Eu não liguei para isso no primeiro momento, mas acho que voltei na hora certa. Tenho uma vontade enorme de ajudar o vôlei brasileiro, como acho que tenho ajudado. Além dos jogadores que já citei e hoje são realidade, posso dar mais dois nomes de jogadores que trabalharam comigo no Minas. O central Otávio, que tem uma carreira muito promissora, e o ponteiro Lucarelli, que provavelmente vai fazer parte do próximo ciclo olímpico. A presença do Bernardo na seleção se justifica plenamente por conta dos resultados, mas é óbvio que tenho vontade de fazer parte disso. Se me chamarem para ajudar como braço ou para integrar a comissão técnica, não medirei esforços. Me preparo há muito tempo para isso.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/volei/noticia/2012/10/cdf-na-escola-e-x-9-do-pai-tecnico-do-rio-quer-refazer-caminho-paralisado.html
Técnico do Rio se rendeu ao vôlei por influência da Geração de Prata (Foto: André Durão/Globoesporte.com)
No entanto, o gosto pelos estudos e a paixão pelo idioma e pelo cinema francês o levaram ao Velho Mundo em 2004. Por seis temporadas, Marcelo dirigiu o Tourcoing Lille Metropole e o Harnes, ambos da França, e trocou a visibilidade de técnicos consagrados no Brasil, como Bernardinho e José Roberto Guimarães, por uma nova cultura e uma metodologia esportiva multidisciplinar até então desconhecida para ele.
- Decidi voltar ao Brasil para refazer um caminho que interrompi. Acho que se ficasse mais tempo na França as pessoas iam acabar se esquecendo de mim. Reconheço que não liguei muito para isso em um primeiro momento, mas acho que voltei na hora certa. Tenho uma vontade enorme de ajudar o vôlei brasileiro, como acho que tenho ajudado - afirmou Marcelo.
Ajuda que muitas vezes ele foi obrigado pelo pai a dar dentro de casa na hora de “entregar” os irmãos mais velhos. Apesar de herdar a fama de bagunceiro de Marcos e André em todo início de ano letivo, Marcelo sempre gostou de estudar, e era visto por seu Luiz Roberto como o mais certinho dos três filhos homens.
Marcelo (primeiro em pé à esq.) em coral infantil de
Porto Alegre (Foto: arquivo pessoal)
Porto Alegre (Foto: arquivo pessoal)
- Sempre fui um cara estudioso e era muito CDF. Sempre gostei de ir à
escola. Como meus dois irmãos eram da pá-virada, meu pai via em mim um
cara certinho e me dava muitas funções, como checar, por exemplo, se
eles tinham escovado os dentes. Eu entregava mesmo, era o dedo-duro, o
X-9 da família (risos) - lembrou o treinador do Rio de Janeiro, que
nesta sexta-feira e nos dias 1º e 2 de novembro fará três jogos-treinos
contra a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), mesmo adversário
da estreia na Superliga, dia 24 do mesmo mês.
Como o vôlei surgiu na sua vida?
Eu joguei futebol na escola e tinha até habilidade, mas o vôlei surgiu com uma força tão grande com a Geração de Prata que eu tive vontade de participar daquilo. Era notório que vinha para ficar. Influenciado pelo meu irmão mais velho, o André, que também jogava, fui para a Sogipa, clube responsável pela formação de grandes jogadores como Renan, Heloísa, Paulo Roese, Paulão e Janelson, todos com passagens pela seleção. Passei cinco anos lá e depois fui para o Frangosul, meu primeiro time profissional. Ainda peguei o final da extinta Pirelli e depois voltei para o Sul, onde ganhei três títulos sob o comando do Jorginho Schmidt, um com a Frangosul e dois com a Ulbra.
Pensava com a cabeça de um técnico e isso estava muito claro para mim.
Eu falava e cobrava muito, era bem pentelho, chegava a ser um pouco
chato"
Marcelo Fronckowiak
Sempre. Me sentia um jogador-técnico dentro de quadra. Sempre fui muito líder e na maioria das vezes capitão dos times que defendi. Tive grandes treinadores como Jorge Barros, o Jorjão, Jorge Schmidt e Juarez Santini, caras com trabalhos fantásticos que sempre procurei absorver. Pensava com a cabeça de um técnico e isso estava muito claro para mim. Eu falava e cobrava muito, era bem pentelho, chegava a ser um pouco chato. Sou muito CDF, sempre gostei de ir à escola. Sempre fui um cara estudioso. Quarto filho de uma família de cinco, fui o único que seguiu carreira no esporte. Meus dois irmãos eram da pá-virada, com uma diferença de três e cinco anos, e meu pai via em mim aquele cara certinho e me dava muitas funções, como checar, por exemplo, se eles tinham escovado os dentes. Eu entregava mesmo, era o dedo-duro, o X-9 da família (risos). Na escola, herdava a fama de que eles não eram bons alunos e muito bagunceiros. Quando a professora fazia a chamada e percebia que eu era irmão do Marcos e do André, já ficava preocupada. Eu tinha que explicar que gostava de estudar e era diferente deles. Sou de uma família de artistas. Meu pai é artista plástico.
A cultura então sempre fez parte da sua vida?
Sempre. Como meu pai era artista e trabalhava em casa, tinha uma circulação muito grande de “malucos”. Eram artistas plásticos, músicos, e de vez em quando aparecia um para morar conosco. Apesar de tudo, a gente acabava se afeiçoando. Meu pai é um baita de um pintor, mas está meio no ostracismo. Teve uma certa época áurea na década de 70 e 80, mas não soube conduzir isso.
Como foi essa transição de jogador para técnico?
No primeiro título da Ulbra eu participava do grupo e entrava sempre, mas no ano seguinte decidi parar de jogar e coincidiu de a Ulbra ter um plano para me incorporar à comissão técnica. Só que entrou a regra do Líbero em 98 e eles me convenceram a voltar a jogar. Acabei acumulando as duas funções e fui o primeiro líbero campeão brasileiro. Ganhei três Superligas, duas como jogador e uma como treinador. Mas no fim do ano briguei com todo mundo e saí de lá. Eu era um cara meio esquentado, e a Ulbra me mandou embora. Foram dois anos afastados do vôlei, até que em 2001 eles me chamaram de volta para integrar a comissão técnica do Jorge Schmidt, que no ano seguinte saiu por motivos particulares. Foi quando apostaram em mim. Era muito cru, mas me proporcionaram uma estrutura de trabalho excelente. Casou também porque o investimento financeiro não era muito grande. Eram apenas dois jogadores de nome, o Ricardinho e o Marcelo Negrão, e uma gurizada a fim de aparecer, como Roberto Minuzzi, Jardel, Acácio, Riad e o levantador Rafael Vieira, que está no Trentino. Foi um momento legal e uma aposta que deu certo.
Família Fronckowiak durante temporada na França(Foto: arquivo pessoal)
A decisão de mudar para a França foi apenas para matar um desejo pessoal de morar na Europa?
Não, o lado da formação profissional também pesou. Achava que era necessário passar por tudo aquilo. Já falava francês e estudei muito antes da mudança. Sabia que lá encontraria mais dificuldade que no Brasil com essa coisa de comissão técnica multidisciplinar. No primeiro ano, fui treinador e preparador físico. Deu um trabalho desgraçado. Foram cinco anos no Tourcoing Lille Metropole e um no Harnes, da Liga B. Foi uma experiência muito legal. Meu filho mais velho, de 15 anos, é bilíngue, e o pequeno domina completamente o idioma, mas já está perdendo. Sei que foi uma mudança sacrificante para minha família, mas valeu a pena. Conhecemos muita coisa, viajamos bastante e fizemos muitos amigos.
Chegou a pensar na possibilidade de dirigir a seleção francesa?
O Philippe Blain ficou esse tempo todo na seleção porque teve resultados importantes nos últimos dez anos. Ele levou a França ao terceiro lugar do Mundial de 2002, foi duas vezes vice-campeão da Europa e uma da Liga Mundial. Há pouco tempo houve uma seleção para escolher o novo treinador, e muita gente me incentivou a concorrer ao cargo, mas decidi voltar ao Brasil e refazer um caminho que interrompi. Acho que se ficasse mais tempo na França as pessoas iam acabar se esquecendo de mim.
Acredita que essa mudança o tenha jogado para o fim da fila entre os possíveis candidatos ao cargo de técnico da seleção no futuro?Eu não liguei para isso no primeiro momento, mas acho que voltei na hora certa. Tenho uma vontade enorme de ajudar o vôlei brasileiro, como acho que tenho ajudado. Além dos jogadores que já citei e hoje são realidade, posso dar mais dois nomes de jogadores que trabalharam comigo no Minas. O central Otávio, que tem uma carreira muito promissora, e o ponteiro Lucarelli, que provavelmente vai fazer parte do próximo ciclo olímpico. A presença do Bernardo na seleção se justifica plenamente por conta dos resultados, mas é óbvio que tenho vontade de fazer parte disso. Se me chamarem para ajudar como braço ou para integrar a comissão técnica, não medirei esforços. Me preparo há muito tempo para isso.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/volei/noticia/2012/10/cdf-na-escola-e-x-9-do-pai-tecnico-do-rio-quer-refazer-caminho-paralisado.html
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