segunda-feira, 6 de junho de 2011

Memórias do tri: batido, Kafelnikov afirma que Guga é o Picasso do tênis

Há dez anos, brasileiro bateu rival russo pela terceira vez em Roland Garros

Por Alexandre Cossenza Florianópolis

Yevgeny Kafelnikov nunca teve muitos amigos no circuito mundial. De modo geral, o russo, quando falava sobre seus adversário, dava indiretas ou até alfinetadas nada sutis. Com Gustavo Kuerten, nunca foi assim. Até que em 2001, depois de eliminado pela terceira vez de Roland Garros pelo brasileiro, Kafelnikov deu a maior prova de seu respeito por Guga.
- É difícil jogar atrás (no placar) contra um jogador como Gustavo o tempo todo. Se você dá liberdade, ele é como Picasso. Ele faz esquerda na paralela, esquerda cruzada, tudo - disse, logo depois da derrota, ainda na sala de entrevistas do torneio francês.
Na época, Guga riu. Disse que Kafelnikov fez tal comentário porque o russo nunca tinha lhe visto pintar. Afirmou que com uma uma folha de papel na frente, teria nível de qualifier (tenista que não tem ranking bom o bastante e só consegue vaga em um torneio depois de passar por um evento classificatório). Hoje, dez anos depois, o catarinense lembra de suas partidas e dá o devido valor ao elogio de um de seus maiores rivais.
- O que ele fazia com a bola de tênis era impressionante. Pra chegar ao ponto de ele trazer isso em pauta, me comparar a um gênio como foi Picasso... Esse nível de comparação para mim é imensurável porque é um cara que entende, que sabe o que fala e, depois, é um cara que fez demais também, que eu admirei muito. Então isso tem um valor enorme. Na época, eu não parava para pensar assim: "é tão boa a minha jogada assim ou não?". Eu tenho que resolver o meu problema de ir lá e ganhar do cara. Só pensava nisso. Mas hoje dá uma sensação mais aprofundada, de entender aquilo.
Na conversa que teve com o GLOBOESPORTE.COM na sede de sua empresa, em Florianópolis, Guga lembrou de como seu técnico Larri Passos mostrava vídeos de Boris Becker e de como seu backhand viajava em trajetórias incomuns.
- A minha esquerda, a bola fazia assim, para fora, com a curva para o outro lado (gesticulando, mostrando uma paralela com leve efeito para a esquerda). A bola ia abrindo. Eu lembro que quando o Larri começou a visualizar a minha esquerda, ele tentava demonstrar a que o Becker fazia. Ele pegava mais chapado, mas a bola saía com esse ângulo para fora. Eu começava a ver minhas bolas fazendo assim. Do nada, eu jogava um ângulo que a bola quase saía da quadra. Então (a comparação com Picasso) tem um valor que é imensamente maior nessas coisas, mas no momento para mim não servia para nada. Naquela hora, ele falando isso, eu falava "legal", mas que venha o Ferrero. Se eu perder pro Ferrero, não me interessa Picasso, Da Vinci, Miró ou qualquer outro. É bom, mas não resolve o meu problema.
O espanhol Juan Carlos Ferrero, seu maior rival no saibro em 2001, seria o próximo adversário, nas semifinais de Roland Garros/2001. A história desse jogo fará parte da série "Memórias do Tri", que comemora o aniversário de dez anos da terceira conquista do catarinense no Grand Slam francês.

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FONTE:
http://globoesporte.globo.com/tenis/noticia/2011/06/memorias-do-tri-batido-kafelnikov-afirma-que-guga-e-o-picasso-do-tenis.html

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