sábado, 7 de maio de 2011

Abel manda o recado: ‘Quem escala o meu time sou eu e mais ninguém’


Abel voltará ao time onde conquistou o Carioca de 2005 como técnico, e os de 1971, 73 e 75 como jogador. Foto: Arquivo O Globo
Caio Barbosa

Nos tempos de jogador, ele era chamado pelos colegas de "Meninão", por ser grandalhão, meio bruto, mas de bom coração. Para o médico Luiz Gallo, que durante 30 anos trabalhou no Fluminense e o viu como jogador e técnico, ele é "o cara que toca piano, mas em vez de ajeitar o banquinho antes de tocar, ajeita o piano". Assim é Abel Braga, que nasceu e foi criado no subúrbio carioca, morou, entre outros muitos lugares, em Paris e Marselha, na França, toca mesmo piano e bebe champanhe. Ou seja, é o tipo de gente que lida da mesma forma com o porteiro e o presidente do clube.
É com este espírito agregador que o técnico chega ao Brasil, justamente no Dia dos Namorados, para reatar uma antiga paixão com o Fluminense, com a missão de pôr fim à crise, aos problemas de relacionamento no clube, e levar o Tricolor ao tetracampeonato brasileiro, uma missão difícil, mas que o Meninão assume com muito gosto.
EXTRA: O seu acerto com o Flu foi anunciado com o time na briga pelo Estadual e pela Libertadores, e agora você vai chegar sem título e eliminado. O que muda nos seus planos?
ABEL: Nada. Seria melhor chegar com vitórias, com o time com moral, sem brigas no elenco e politicagem, mas todo mundo aprende nas derrotas. E, pelo que eu estou vendo, muitas dessas coisas erradas vão servir como base para crescer. Já sei que o trabalho vai ser mais árduo, mas aqui (nos Emirados Árabes, onde está encerrando a passagem pelo Al Jazira) eu não tenho mais muitos desafios. Tem horas que a gente precisa de adrenalina para render. Por isso, estou voltando.
EXTRA: No Fluminense de hoje não falta nem adrenalina, nem nitroglicerina...
ABEL: Pois é, mas eu trabalho bem com esse tipo de coisa. Em 2000, no Vasco, a coisa pegava fogo. Romário e Edmundo nem se falavam. Fiz os caras jogarem, ganhamos de 5 a 1 do Flamengo na final da Taça Guanabara. Na Ponte Preta, em 2003, 13 jogadores deixaram o clube, sendo nove titulares, por causa de salários atrasados, e mantivemos o time na Série A. Todos esses problemas ajudaram na minha formação, me ensinaram. Sei lidar com isso.
EXTRA: Será que vai dar para reconciliar (o presidente da patrocinadora) Celso Barros e (o presidente do Fluminense) Peter Siemsen, como foi com Romário e Edmundo? O grupo político do presidente só se refere ao Celso, por exemplo, como "O sabotador". Olha a pedreira!
ABEL: Prefiro achar que são diferenças de pontos de vista. Sempre que falo com o Celso ou com o presidente, eles colocam o Fluminense em primeiro lugar. E não é possível, sinceramente, que alguém dentro do Fluminense pense na possibilidade de o clube sobreviver, hoje, sem a Unimed. Se o Fluminense está onde está é por causa da Unimed, que pegou o clube morto, na Terceira Divisão.
EXTRA: Você e o Celso tiveram desavenças em 2005. Como está a relação entre vocês hoje?
ABEL: Minha mãe me deu educação, me ensinou a reconhecer erros. E o Celso é meio assim. Eu reconheci que errei em alguns pontos, ele reconheceu que errou em outros e isso fortaleceu muito a nossa relação.
EXTRA: E com o presidente? Vocês têm conversado? Que impressão você teve dele?
ABEL: Acho que conversei uma vez sobre a minha ida, depois no meio de um programa de televisão e outra vez junto com o Celso, para a gente deixar claro que está tudo certo. A impressão que tive é a melhor possível. Achei ele consciente e muito coerente. Coerente é a palavra certa, pelo que ouvi. E ele está conhecendo o clube. São apenas quatro meses.
EXTRA: Mas ele te falou que praticamente não há mais departamento de futebol? Não tem vice, gerente, coordenador, nada? Até o supervisor Rodrigo Henriques está com o cargo ameaçado.
ABEL: Tenho certeza de que ele vai arrumar alguém. Não é possível, né? Mas é preciso colocar gente em quem eu possa confiar, senão fica difícil. Se for alguém em quem eu não tenha confiança, como vou pedir as coisas? E eles querem tirar o Rodrigo (Henriques, supervisor)? Não é possível! Ele é um dos três melhores profissionais com quem trabalhei em toda minha carreira. E vou te falar. Para colocar um m..., melhor deixar sem ninguém, que eu resolvo. Eu e minha comissão, que já está acostumada com o meu mau humor (risos). Muito torcedor dando palpite não dá certo.
EXTRA: E ainda tem o poder do Fred, que reina absoluto no elenco e incomoda alguns jogadores. O Deco foi o último. Já não aguenta mais. Como lidar com isso?
ABEL: Fica difícil eu falar sobre isso aqui de longe, mas eu jogo com a verdade, olho no olho. E comigo não tem essa parada de jogador mandar. E duvido que tinha com o Muricy. Quem escala o time sou eu e mais ninguém. Se perdermos o Deco, vai complicar. Já perdemos o Emerson, tem mais gente insatisfeita. Isso tem que ser resolvido. Não podemos desfazer o time que tivemos no ano passado. Com todos juntos, a coisa fluiu. O Muricy deu jeito. Agora não está sendo assim e todos têm de ver que essa situação não é boa para ninguém. Nem para o técnico, para o time, torcida, patrocinador, presidente. Ninguém.

Fred e Emerson comemoram o gol que deu o título brasileiro ao Fluminense
Fred e Emerson comemoram o gol que deu o título brasileiro ao Fluminense Foto: Fernando Maia / O Globo

EXTRA: Por falar em Muricy, ele saiu aborrecido com o descaso em relação à estrutura. Você vai cobrar isso ou não é o papel do treinador?
ABEL: É o papel do treinador porque reflete no futebol. Todo mundo sabe que o Fluminense precisa de uma estrutura decente, mais privacidade, até para evitar os problemas que tivemos. Só não acho que não dê para trabalhar sem isso, tanto que o time foi campeão brasileiro. Eu vi as fotos do Banana Golf (terreno cotado para o novo CT) e fiquei maravilhado. Mas o presidente disse que não teve como comprar. E que vai tentar de todas as maneiras resolver esse problema. Vamos ver no que dá.
EXTRA: E em relação a reforços ou dispensas, você já conversou alguma coisa?
ABEL: O Fluminense tem um treinador. Eu ainda não cheguei. Deixei eles à vontade para dispensar quem quiser, contratar quem quiser. Não vou dar pitaco antes de assinar contrato. Não quero que joguem na minha conta coisas que não fiz. Quando eu chegar, já vai ser com a lista de reforços. Acho que precisamos de um zagueiro. E vamos tentar.
EXTRA: Fabiano Eller? Márcio Rosário? Você gosta deles...
ABEL: Gosto (risos), mas não são eles. Quero um outro perfil. O Márcio é bom zagueiro, mas está falando além da conta, né? Falando besteira no Twitter. Não quero mais problema, não (risos).
EXTRA: E quando você chega?
ABEL: Dia 12 de junho, mas se eu for campeão aqui no Al Jazira, posso antecipar isso daí.

FONTE:
http://extra.globo.com/esporte/fluminense/abel-manda-recado-quem-escala-meu-time-sou-eu-mais-ninguem-1755572.html

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