quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

O que matou Dona Marisa é o exato oposto do que a fará viver eternamente. Por Carlos Fernandes



FONTE:
http://www.diariodocentrodomundo.com.br/o-que-matou-dona-marisa-e-o-exato-oposto-do-que-a-fara-viver-eternamente-por-carlos-fernandes/


por : 

Marisa Letícia
Marisa Letícia

O dramaturgo inglês, William Shakespeare, uma vez disse que choramos ao nascer porque chegamos a esse imenso cenário de dementes.
Assim parece ser quando nos deparamos, incrédulos e impotentes, com a tamanha deficiência moral daqueles que se mostram incapazes de sequer respeitar a dor de quem cumpre a terrível missão de enterrar os seus mortos.
A morte da ex-primeira dama Marisa Letícia, esposa do maior líder popular da história desse país, confirmou o estado patológico e terminal praticamente irreversível que assola uma parcela assombrosa de nossa sociedade.
Mais do que isso, nos demonstrou com o seu próprio exemplo, a astronômica diferença entre as verdadeiras causas da morte e os infindáveis caminhos que podem ser trilhados por essa incorruptível condição humana.
Dona Marisa não morreu em função de um Acidente Vascular Cerebral, esse foi apenas o instrumento à mão utilizado por algo infinitamente maior e mais cruel que a seguiu ininterruptamente desde o momento em que se recusou permanecer na sua socialmente predestinada condição de miserável.
O que matou dona Marisa foi o ódio destinado àqueles que não se calam, foi a intolerância daqueles que não admitem serem contestados, foi o preconceito de quem jamais admitiu que um pobre possa vencer na vida, foi a megalomania de um judiciário podre e o escárnio dos que tem aversão a tudo que é legítimo, legal e democrático.
É um sentimento estarrecedor descobrir o quão somos responsáveis pela morte de alguém a partir do momento em que  influenciamos ou encorajamos a barbárie, quando difundimos a idéia de que os fins justificam os meios, quando nos afastamos de tudo o que nos torna humanos.
Diariamente pessoas morrem no mundo inteiro pelo simples fato de sua condição social, de sua raça, de seu gênero, de sua etnia, de sua crença ou de seus ideais. Morrem, enfim, por serem considerados “diferentes”, “inferiores”, “descartáveis”.
Quem compartilha dessas sandices não é menos responsável do que aqueles que de fato espancaram, lincharam ou puxaram o gatilho. Da mesma forma, são responsáveis diretos pelos que sofrem e morrem de depressão, de desilusão, de angústia, de solidão e de suas terríveis consequências físicas e psicológicas.
Assim o foi com dona Marisa. Perseguida, humilhada, invadida na sua privacidade, alvo dos mais vergonhosos comentários, a mulher que ajudou a construir um Brasil mais justo resistiu aos seus carrascos enquanto pôde, mas uma hora o resultado de tantas feridas abertas cobraria o seu preço.
A morte de dona Marisa precisa ser vingada. Mas como certamente ela exigiria, não deve ser jamais com as mesmas armas que a mataram.
Enquanto houver um único sentimento de amor, respeito, humildade, carinho, generosidade, compreensão, tolerância, justiça jurídica e social, democracia e luta pelos direitos sociais, Marisa Letícia Lula da Silva, a nossa dona Marisa, viverá.

Carlos Fernandes
Sobre o Autor
Economista com MBA na PUC-Rio, Carlos Fernandes trabalha na direção geral de uma das maiores instituições financeiras da América Latina

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