PARAOLIMPÍADA RIO 2016
Após duas Paralimpíadas competindo no tênis de mesa, brasileira é sensação do tiro com arco nos Jogos de 2016 e dribla obstáculos por medalha inédita na carreira
Dizer que esperava um ciclo tranquilo seria ingenuidade para uma atleta
tão experiente. O que Jane Karla não poderia imaginar é que o período entre os
Jogos de Londres e os do Rio fosse tão tumultuado. Quinta colocada em Londres
no tênis de mesa, a brasileira hoje é a sensação da equipe verde-amarela de
tiro com arco, estreante em Paralimpíadas. A transição veio acompanhada de
mudanças no corpo, na rotina da casa e de um susto: no início do ano, Jane e
família foram feitos reféns de bandidos, que levaram R$ 50 mil em equipamentos.
Mais uma vez, o esporte ajudou a sarar as feridas, e a atleta agora busca uma
medalha inédita, tanto para ela quanto para o Brasil.
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A ascensão de Jane foi meteórica.
O status de bicampeã parapan-americana não pesou para que ela seguisse na seleção treinando à distância. Seria preciso mudar-se de Aparecida de Goiânia para São Paulo para poder trabalhar com o grupo. Como preferia manter a estrutura familiar como estava, ela arriscou no campo esportivo. Conheceu a esgrima, mas também não havia como treinar com armas brancas onde morava. Assim, conheceu o tiro com arco. Foi amor à primeira vista.
Foi um casamento perfeito. No tênis de mesa, Jane precisava jogar de pé, e as horas nesta posição maltratavam suas pernas, onde possui placas de platina – ela teve o diagnóstico de poliomielite aos três anos de idade, o que causava limitações de movimento. O novo esporte era praticado sentado na cadeira de rodas.
Com força de vontade, Jane adaptou-se à rotina de atiradora. Precisou
acostumar-se à cadeira de rodas, teve que incrementar a musculação para membros
superiores e treinar a pontaria à distância. Nada que a assustasse.
- O tênis de mesa não exige tanta força, então eu trabalhava braço para não sentir dores, mas não era tanto quanto a gente usa agora. Cada puxada do arco de libras minha dá o equivalente a 25 quilos cada puxada, e eu faço 300 tiros por dia. Isso exige muito mesmo do braço. Eu até brinquei com os meninos: o próximo esporte que vou fazer é o halterofilismo (risos). Porque estou realmente bem forte. Antes, eu faço aquela puxada, né, e lá eu puxava 20, 30kg. Agora eu puxo 70kg de boa – contou.
O esforço foi recompensado rapidamente. A goiana conseguiu equipamento emprestado e foi chamada “para completar a equipe” no Parapan da categoria em Rosário, na Argentina. Em sua primeira competição, voltou para casa com um bronze. O incentivo familiar foi tão grande que o esposo Joachim, técnico de tênis de mesa, passou a se dedicar em tempo integral a auxiliá-la no tiro com arco. E até a filha, Lethícia, abandonou as bolinhas e raquetes para se arriscar na nova modalidade da mãe.
A vontade de evoluir era tanta que passou a treinar no quintal de casa, muitas vezes usando o farol de um carro cedido por um patrocinador para iluminar o alvo. Assim, apurou a pontaria a ponto de chegar ao Parapan de Toronto como esperança de pódio. Confirmou o favoritismo e faturou o primeiro ouro do país na modalidade. Na sequência, veio a vaga para a Rio 2016.
- Para mim essa e uma grande novidade por ser um novo esporte. Estou me
sentindo muito feliz por ter conseguido pelo pouco tempo nesse esporte. Meu
ciclo, que eu estava fazendo era no tênis de mesa, acabou começando em 1º de
janeiro de 2015 com essa mudança. E estou aqui, sentindo essa emoção, essa
vontade de conquistar um grande resultado para a gente, Quero fazer meu melhor
porque eu sou uma estreante ainda no esporte e estou aprendendo com ele. E, se
Deus quiser, esse melhor meu pode ser ainda premiado com uma medalha. Quem
sabe? Quero dar o meu melhor possível para conquistar o melhor resultado
Uma pena que Jane não pôde se limitar aos esforços esportivos para ter o melhor desempenho. Primeiro, teve que lidar com a burocracia de ter os equipamentos que comprou retidos na Alfândega – o material vinha dos Estados Unidos, onde um fabricante havia feito uma promoção. Depois, a violência fez sua família de vítima.
No início de fevereiro deste ano, bandidos invadiram a casa da família e fizeram a atleta, o marido e os dois filhos reféns. Foram horas de terror sob a mira dos assaltantes, que reviraram toda a casa.. Levaram desde eletrodomésticos a roupas, além do carro cedido por um patrocinador. Na mala dele estavam equipamentos de treino, tanto arcos e flechas quanto filmadora e HDs com gravações de treinos e competições.
O prejuízo imediato com o material de uso esportivo foi estimado em R$
50 mil, mas parte foi recuperado pela polícia no dia seguinte. O problema maior
foi o trauma. O marido de Jane foi levado pelos marginais para evitar que a
polícia fosse chamada, sendo liberado apenas horas depois. A casa ainda guarda
as lembranças daquela noite trágica, e a família colocou o imóvel à venda.
- Estou tentando vender porque toda vez que eu chego em casa eu tenho aquele sentimento .... A gente ficou deitado no chão da sala, com arma na cabeça, meu esposo sendo chutado e espancado. Foi horrível. Colocaram meus filhos deitados assim, e eu lá, sem poder fazer nada. Depois eles ainda levaram o carro, com os equipamentos todos dentro. Tem coisa que eu parcelei, eles levaram e eu estou pagando até hoje. Meu esposo foi levado junto, falaram que iriam matar ele. Fiquei realmente muito abalada, mas novamente, depois que comecei de novo foco no esporte, a treinar de novo, me ajudou a dar essa mudada.
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Descrição da imagem: Jane Karla ergue o arco
no Sambódromo, palco da competição
(Foto: Márcio Rodrigues/MPIX/CPB)
A ascensão de Jane foi meteórica.
O status de bicampeã parapan-americana não pesou para que ela seguisse na seleção treinando à distância. Seria preciso mudar-se de Aparecida de Goiânia para São Paulo para poder trabalhar com o grupo. Como preferia manter a estrutura familiar como estava, ela arriscou no campo esportivo. Conheceu a esgrima, mas também não havia como treinar com armas brancas onde morava. Assim, conheceu o tiro com arco. Foi amor à primeira vista.
Foi um casamento perfeito. No tênis de mesa, Jane precisava jogar de pé, e as horas nesta posição maltratavam suas pernas, onde possui placas de platina – ela teve o diagnóstico de poliomielite aos três anos de idade, o que causava limitações de movimento. O novo esporte era praticado sentado na cadeira de rodas.
Descrição da imagem: Jane sorri enquanto mira a flecha (Foto: Márcio Rodrigues / MPIX/CPB)
- O tênis de mesa não exige tanta força, então eu trabalhava braço para não sentir dores, mas não era tanto quanto a gente usa agora. Cada puxada do arco de libras minha dá o equivalente a 25 quilos cada puxada, e eu faço 300 tiros por dia. Isso exige muito mesmo do braço. Eu até brinquei com os meninos: o próximo esporte que vou fazer é o halterofilismo (risos). Porque estou realmente bem forte. Antes, eu faço aquela puxada, né, e lá eu puxava 20, 30kg. Agora eu puxo 70kg de boa – contou.
O esforço foi recompensado rapidamente. A goiana conseguiu equipamento emprestado e foi chamada “para completar a equipe” no Parapan da categoria em Rosário, na Argentina. Em sua primeira competição, voltou para casa com um bronze. O incentivo familiar foi tão grande que o esposo Joachim, técnico de tênis de mesa, passou a se dedicar em tempo integral a auxiliá-la no tiro com arco. E até a filha, Lethícia, abandonou as bolinhas e raquetes para se arriscar na nova modalidade da mãe.
A vontade de evoluir era tanta que passou a treinar no quintal de casa, muitas vezes usando o farol de um carro cedido por um patrocinador para iluminar o alvo. Assim, apurou a pontaria a ponto de chegar ao Parapan de Toronto como esperança de pódio. Confirmou o favoritismo e faturou o primeiro ouro do país na modalidade. Na sequência, veio a vaga para a Rio 2016.
Descrição da imagem: Jane mostra unhas pintadas em homenagem à Paralimpíada (Foto: Helena Rebello)
Uma pena que Jane não pôde se limitar aos esforços esportivos para ter o melhor desempenho. Primeiro, teve que lidar com a burocracia de ter os equipamentos que comprou retidos na Alfândega – o material vinha dos Estados Unidos, onde um fabricante havia feito uma promoção. Depois, a violência fez sua família de vítima.
No início de fevereiro deste ano, bandidos invadiram a casa da família e fizeram a atleta, o marido e os dois filhos reféns. Foram horas de terror sob a mira dos assaltantes, que reviraram toda a casa.. Levaram desde eletrodomésticos a roupas, além do carro cedido por um patrocinador. Na mala dele estavam equipamentos de treino, tanto arcos e flechas quanto filmadora e HDs com gravações de treinos e competições.
Descrição da imagem: Jane conversa com marido
e policiais na ocasião do roubo à família
(Foto: Elton Shairaishi)
- Estou tentando vender porque toda vez que eu chego em casa eu tenho aquele sentimento .... A gente ficou deitado no chão da sala, com arma na cabeça, meu esposo sendo chutado e espancado. Foi horrível. Colocaram meus filhos deitados assim, e eu lá, sem poder fazer nada. Depois eles ainda levaram o carro, com os equipamentos todos dentro. Tem coisa que eu parcelei, eles levaram e eu estou pagando até hoje. Meu esposo foi levado junto, falaram que iriam matar ele. Fiquei realmente muito abalada, mas novamente, depois que comecei de novo foco no esporte, a treinar de novo, me ajudou a dar essa mudada.
Descrição da imagem: Jane Karla sorri (Foto: Márcio Rodrigues / MPIX/CPB)
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