sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Levanta e luta: Mayra Aguiar recria os 20 minutos cruciais antes do bronze



OLIMPÍADAS RIO 2016

JUDÔ



Gaúcha de 25 anos teve menos de meia hora para se recuperar da derrota na semifinal: "Disse para mim mesma que ia transformar aquilo em uma coisa positiva"



Por
Rio de Janeiro



Não foi nem meia hora. Do momento em que a judoca Mayra Aguiar saiu derrotada na semifinal contra a francesa Audrey Tcheumeo até o retorno para disputar o bronze, foram 20 minutos, não muito mais. E isso para quem estava vendo de fora. Para a gaúcha de 25 anos, foi uma piscada de olhos. E lá estava ela de volta, para vencer a cubana Yallenis Castillo por yuko e pendurar no pescoço sua segunda medalha olímpica(assista ao confronto decisivo no vídeo clicando no LINK da FONTE no final da matéria abaixo).

 Na manhã desta sexta-feira, após uma noite em que não dormiu nem por um segundo, Mayra conseguiu recriar aquele breve período de renascimento antes da luta decisiva na Arena Carioca 2.
- Foi muito rápido mesmo. Se foram pouco mais de 20 minutos, para mim pareceu muito menos. Quando a gente perde uma luta, é horrível. Fica um sentimento amargo. O chão parece que sai, é muito ruim. Porque você chega com um objetivo e acaba perdendo aquilo - lembrou Mayra em entrevista coletiva no Espaço do Time Brasil, na Barra da Tijuca (assista  ao vídeo da derrota na semifinal no vídeo clicando no LINK da FONTE no final da matéria abaixo).

Enquanto caminhava ao lado de Rosicleia Campos, com a técnica batendo em seu ombro em busca de motivação, a cabeça da judoca voltou quatro anos no tempo. A situação idêntica em Londres, quando ela também caiu na semi e voltou para conquistar o bronze, serviu de lição.

- Em Londres eu saí arrasada, chorando, pensando que tinha acabado tudo, que não tinha mais nada. E o pessoal começou a me dar uns tapas, tapas mesmo, na cara até. Dizendo para eu parar com aquilo, para acordar. O Leandro Guilheiro me falou uma coisa que marcou muito: que eu ia me arrepender se eu não desse tudo de mim naquela luta do bronze, que valeria muito a pena. Eu fui e lutei, fui com tudo, e conquistei, foi muito bom. Desta vez, depois da semifinal, eu me lembrei disso - contou.

Lembrei de como vale a pena sair com uma medalha, e não podia deixar isso escapar. Eu disse para mim mesma que ia transformar aquilo em uma coisa positiva. Naquele tempinho que passou, era isso que estava na minha cabeça. E foi maravilhoso, foi lindo"
Mayra Aguiar

Mayra chegou ao tatame de aquecimento e ali ficou esperando o tempo passar. Ainda arrasada, tentava se concentrar ao máximo. Olhou para o lado e viu Yallenis Castillo.

- Olhei para a minha adversária. Ela já estava ali há um tempão, descansando. E tranquila, porque ela vinha de uma vitória na repescagem, então você sai com uma vantagem. Eu estava vindo de uma derrota. Aí eu lembrei de tudo aquilo, lembrei de como vale a pena sair com uma medalha, e não podia deixar isso escapar. Eu disse para mim mesma que ia transformar aquilo em uma coisa positiva. Naquele tempinho que passou, era isso que estava na minha cabeça. E foi maravilhoso, foi lindo - lembrou a medalhista brasileira.

Mayra Aguiar coletiva Espaço Time Brasil judô (Foto: Rodrigo Alves/GloboEsporte.com)
Mayra com a medalha de bronze: renascimento 
após a derrota na semifinal (Foto: Rodrigo 
Alves/GloboEsporte.com)


Confira a seguir outros pontos da entrevista de Mayra nesta sexta-feira.

Noite de sono?
Zero. Já cheguei tarde ontem. Fui ao programa Balada Olímpica, do Flávio Canto. Quando cheguei em casa já eram 4h. Aí eu me deitei e pensei: "Agora vou dormir". Nada. Cabeça agitada, lembrando tudo de novo, corpo todo dolorido. Não consegui dormir nada, estou virada.

O duelo com Keyla Harrison que não aconteceu
Eu também queria. É boa de assistir e boa de lutar também. A gente já lutou diversas vezes. Independente do resultado, eu evoluo com essa luta. Infelizmente não aconteceu. Queria muito uma final para mim, e com ela seria muito legal também. Mas vamos ver. Ela também tinha falado que tinha parado antes e continuou. É difícil parar. Tomara que continue.

Competir em casa
Eu sempre gostei da torcida a favor. Acho lindo. O povo brasileiro, de todas as competições que participei, é o que mais torce, vibra, passa energia. Não posso falar que escuto as palavras, porque fico muito focada, parece que fico um pouco surda. Mas a energia não tem como não sentir. Foi muito forte. Espero poder lutar em casa de novo com essa torcida.

Festa nos braços da torcida
É maravilhoso. Foi a melhor sensação que eu tive na minha vida, de verdade. Foi muito prazeroso. Quando acabou a luta, eu estava cansada. Eu dei um abano, e a galera veio à loucura. Pensei: "Mais uma medalha olímpica". Olhei e eles só fizeram sinal para eu ir, e eu fui, me atirei. Depois vendo o vídeo, parece que eu vivi tudo de novo.

Cair e levantar
É a primeira coisa que a gente aprende. Primeiro cai, depois aprende a jogar. É uma filosofia de se superar. O esporte é muito isso, de superação. A gente luta todo dia para passar os nossos limites. Essa batalha é diária, é uma rotina de atleta que tem que ser muito regrada. Entrei no judô com 6 anos, bem novinha. O que me prendeu foi a competição. Entrei na seleção com 14 anos, foi muito importante ter essa vivência do mundo esportivo. Passei por muita coisa difícil, chegar numa Olimpíada em Pequim e perder na primeira luta. Mas hoje eu vejo o quanto foi importante ter participado logo cedo.

Isolamento
Ajudou muito. Foi uma coisa que eu nunca tinha feito na vida, ficar tanto tempo sem mexer no celular, sem ver redes sociais. Porque é uma coisa de ver. Mas eu achei que seria muita informação. Na última Olimpíada, eu tive experiências muito ruins, de estar acompanhando tudo. Vê uma derrota e acompanha os comentários, vê uma vitória e é aquele êxtase. Agora tive essa experiência. Eu achei que fosse sentir mais falta. Devo fazer mais a partir de agora. Você vive o momento mesmo. Foram duas semanas sem redes sociais, eu vivi o momento plenamente. Treinava forte, na hora do descanso eu descansava. Foi uma experiência muito boa.

Medalhas das mulheres
Às vezes a gente fala em time masculino e feminino, mas eu procuro mais falar do judô inteiro. É um time muito forte, de campeões mesmo. Tenho muito orgulho de fazer parte desse time. Sobre o feminino, é uma equipe muito jovem. Eu entrei com 14 anos, a Rafaela Silva e a Sarah Menezes entraram bem novinhas. São atletas novas, mas muito experientes. A gente vê a evolução no tatame, mas também como pessoa. É quase uma família, crescemos juntos.

Tóquio 2020
Eu já penso. Estou muito empolgada. Falei que queria tirar umas férias depois de competir aqui, mas estou muito empolgada, só penso em voltar e botar o quimono de novo. Em 2020 vai ser no Japão, a casa do judô. Eles devem fazer uma estrutura enorme. No Japão o judô é quase matéria escolar, tem muito praticante. Vou trabalhar. Tem muita coisa para evoluir.

Festa na noite de quinta
Nossa, passei vergonha. Eu estava numa felicidade que não era minha, passou além da conta. A família estava aqui, todo mundo meio louco, subi no palco com a Preta Gil. Mas foi muito gostoso.


FONTE:
http://globoesporte.globo.com/olimpiadas/judo/noticia/2016/08/levanta-e-luta-mayra-aguiar-recria-os-20-minutos-cruciais-antes-do-bronze.html

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