sábado, 23 de janeiro de 2016

Tudo pela fé: antes de Vitor, religião já mudou até carreira de goleiro de Copa


Para cumprir o que prega a religião Adventista, atletas deixam de treinar e jogar entre a noite de sexta-feira e o sábado e chegam até a recusar propostas milionárias




Por
Londrina



A decisão do goleiro Vitor, do Londrina, de cumprir o que a religião Adventista prega e deixar de treinar e jogar entre a noite de sexta-feira e o sábado, não é única no mundo do futebol. Por conta da opção, alguns jogadores chegam a recusar propostas milionárias e a oportunidade de jogar fora do país. O esporte fica em segundo plano. Há também casos de atletas que buscam conciliar a fé e o futebol, e ainda quem prefere deixar o preceito religioso de lado e seguir jogando normalmente.




Vitor goleiro Londrina (Foto: Reprodução/RPC)
Goleiro Vitor é o último exemplo: não vai mais 
treinar entre a noite de sexta e sábado 
(Foto: Reprodução/RPC)


O zagueiro Vicente abriu mão do dinheiro e da possibilidade de jogar fora do Brasil por causa da religião. Decidido em seguir o que orienta a religião Adventista, ele dispensou uma proposta do Al-Tadhamo, do Kuwait. Depois disso, conseguiu continuar atuando em Roraima, mas logo teve que deixar o futebol.

- Eu me identifico com a decisão do Vitor e fiquei feliz pela decisão dele, por compartilhar da mesma fé. Nossos casos são parecidos, a gente já estava no meio do futebol, com objetivos traçados, com propostas. Quando eu parei, também estava no auge. Tive muitas propostas para voltar ao Oriente Médio e ganhar muito dinheiro. É preciso ter muita fé e muita coragem para tomar essa decisão - disse Vicente.


Tive muitas propostas para voltar ao Oriente Médio e ganhar muito dinheiro. É preciso ter muita fé e muita coragem para tomar essa decisão"
Vicente, zagueiro brasileiro que jogou no Catar

Após comunicar sua opção, o goleiro Vítor perdeu a posição de titular no time do Londrina. O técnico Claudio Tencati confirmou que, por causa da escolha do jogador, ele irá para a reserva, enquanto Marcelo Rangel assume a camisa 1 do Tubarão no Campeonato Paranaense. Vitor, que recusou uma proposta da Chapecoense por causa da decisão, não terá seu contrato renovado. Mesmo assim, o jogador mostra estar tranquilo com as consequências.

Outro goleiro que teve decisão parecida foi o argentino Carlos Roa. Titular da Argentina na Copa do Mundo de 1998, ele recusou uma proposta milionária do Manchester United por decidir reservar um ano para se dedicar à religião. Voltou ao futebol, mas continuou seguindo o preceito de guardar o sábado.

Por outro lado, há quem prefira seguir no futebol, apesar das barreiras impostas pela religião. Aos 20 anos, o zagueiro Vinicius Matos, do Vitória, vive o dilema entre seguir o que a Igreja Adventista prega e o caminho do futebol. Embora saiba das determinações religiosas, o jogador optou por continuar o sonho e seguir os passos no futebol, sem abrir mão da fé.


Confira outras histórias de jogadores que optaram pela religião adventista:


NOVO COMANDO

Sem opções no profissional, Vicente atua agora no futebol amador (Foto: Arquivo Pessoal)
Sem opções no profissional, Vicente atua agora
 no futebol amador (Foto: Arquivo Pessoal)


Atuando como zagueiro, Vicente esteve no Bonsucesso e no Boavista, ambos do Rio de Janeiro,  chegou a jogar uma temporada no Catar, em 2010, e passou por cinco clubes de Roraima. Em 2013, ele recebeu uma proposta do Al-Tadhamo, do Kuwait, mas foi dispensado após somente duas semanas no clube, justamente por causa da opção pelo preceito de guardar o sábado.

Mesmo assim, Vicente conseguiu continuar no futebol por três temporadas. Ainda em 2013, disputou a Série D pelo Náutico-RR, mas ficou fora em dois jogos. No ano seguinte, mais uma vez pelo time roraimense, disputou a Copa Verde, a Copa do Brasil e o estadual. Como os jogos geralmente foram aos sábados, ele conta que desfalcou o time em praticamente metade da competição. Em 2015, ele disputou o estadual pelo Baré, último clube profissional.

Vicente conta que teve que abrir mão de propostas de clubes de São Paulo e até para retornar ao Catar e ao Kwait, tudo por causa da opção religiosa. Agora, aos 25 anos, ele atua como personal trainer após se formar em Educação Física, pelo Instituto Federal de Ciência e Tecnologia de Roraima (IFRR).

- Eu sempre tive o sonho de criança de ser jogador de futebol. Porém, eu decidi colocar Deus acima de tudo. Quando eu parei também estava no auge. Tive muitas propostas para voltar ao Oriente Médio e ganhar muito dinheiro. Mas foi quando eu tive o conhecimento da Bíblia e decidi tomar a decisão. Sempre busquei continuar jogando, mas compreendo a dificuldade dos clubes se adequarem a isso.


O SONHO ALÉM DA FÉ


Vinicius Matos Vitória (Foto: Francisco Galvão/EC Vitória)
Vinicius Matos enfrenta dilema ao jogar aos
 sábados pelo Vitória (Foto: Francisco
 Galvão/EC Vitória)


Aos 20 anos, o zagueiro Vinicius Matos também é adventista, mas ainda tenta conciliar o futebol com a religião. Participando da Igreja há pouco mais de um ano, o jogador do Vitória admite que muitas vezes vive um conflito por causa dos preceitos bíblicos, mas segue firme no propósito de continuar a carreira. Apesar da crença, ele segue realizando os treinos e participando dos jogos normalmente, mesmo durante a noite de sexta-feira e o sábado.

- Sei que preciso guardar o sábado, mas o pai da minha namorada, que é pastor, sempre tenta me acalmar, me dá conselhos. O futebol é o meu grande sonho, eu pretendo continuar nesse caminho. Já mudei vários hábitos, tirei o palavrão, parei de sair para festas, estou buscando ser uma pessoa melhor a cada dia. Hoje eu não pretendo parar e continuo focado no futebol.

Vinicius conta ainda que ficou um período no Sevilla, da Espanha, em observação. Quando informou a opção religiosa, os dirigentes trataram o assunto de forma tranquila, já que a maioria dos jogos ocorre na noite de sábado e no domingo. Porém, o negócio não foi concretizado devido ao fim da janela de transferência.


NÃO AO MANCHESTER ONITED

David Batty pênalti Carlos Roa jogo 1998 (Foto: Getty Images)
Carlos Roa pega pênalti na Copa do Mundo
 de 1998: proposta recusada no melhor 
momento da carreira (Foto: Getty Images)


Titular da seleção argentina na Copa do Mundo de 1998, na França, o goleiro Carlos Roa ganhou destaque com a camisa do Mallorca, da Espanha, no ano seguinte. As boas atuações despertaram o interesse do Manchester United, que ofereceu US$ 10 milhões pelo jogador. Participante da Igreja Adventista, Roa recusou a proposta e chegou a anunciar a aposentadoria para se dedicar à religião.
Após nove meses, retornou ao Mallorca para cumprir o restante do contrato, com a condição de não treinar ou jogar entre a noite de sexta-feira e o sábado. Depois, o goleiro seguiu para o Albacete, onde descobriu um câncer, em 2004. Ficou fora dos gramados por mais 10 meses, conseguiu se recuperar da doença e voltou para a Argentina, onde encerrou a carreira no Olimpo, em 2006.
geração kaká

Formado nas categorias de base do São Paulo, Erik fez parte da geração do meia Kaká, atualmente no Orlando City. Por ser adventista, o jogador desistiu da carreira profissional, principalmente pelo problema de ter que atuar aos sábados. Disputou partidas amadoras e se tornou professor de matemática.


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