quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Hortência critica boicote de clubes: "Não pode envolver atleta nessa briga"


Campeã mundial sai em defesa de jogadoras que tiveram de pedir dispensa da seleção brasileira: "Sou contra usar a jogadora para conseguir o seu objetivo"




Por
São Paulo


Hortência (Foto: Marcos Guerra)Hortência defende jogadoras 
que pediram dispensa da 
seleção (Foto: Marcos Guerra)


“Por motivos pessoais e que fogem ao meu controle, venho por meio desta apresentar meu pedido de dispensa nessa fase de preparação da Seleção Brasileira”. Foi difícil para sete jogadoras assinar a carta e, assim, autenticar o pedido de dispensa da equipe nacional. Houve atleta que chorou ao firmar o papel, porque “razões particulares” não traduziam o real motivo de ficar fora do time de Antônio Carlos Barbosa para o torneio do evento-teste das Olimpíadas do Rio de Janeiro, entre 15 e 17 de janeiro. O boicote promovido por um colegiado formado por quatro clubes (Corinthians/Americana, América-PE, Santo André e Presidente Venceslau) as impediu de vestir a camisa verde-amarela, o que foi reprovado por Hortência. A campeã mundial e vice-campeã olímpica saiu em defesa das sete jogadoras.

- Os clubes estão descontentes com a forma da gestão da Confederação Brasileira de Basquete (CBB). Eles resolveram se unir para reivindicar algumas coisas. Acho que algumas reivindicações são pertinentes, mas discordo da maneira que isso foi feito. Acho que tinha de ser feito em uma reunião, entre quatro paredes. Sou contra ir lavar roupa suja na imprensa e principalmente sou contra usar a jogadora para conseguir o seu objetivo. Umas aceitaram, outras não. Compreendo que algumas têm o seu dia a dia, precisam do clube, precisam daquele dinheiro, precisam estar trabalhando. Mas acho que não pode envolver atleta nessa briga, principalmente quando você proíbe atleta de vestir a camisa da seleção brasileira. Não passa pela minha cabeça. Não dá para entender - disse a comentarista do Time de Ouro da TV Globo.

O grupo de jogadoras que pediram dispensa por “motivos pessoais” conta com Adrianinha (América-PE), Gilmara (Corinthians/Americana), Jaqueline (Santo André), Joice (Corinthians/Americana), Tainá (América-PE), Tássia (Santo André) e Tatiane (América-PE).

O técnico Barbosa ainda sofreu dois desfalques por lesão:
Damiris (Corinthians/Americana) e Nádia (Sampaio Basquete). Assim, apenas três jogadoras das 12 na lista inicial se apresentaram na quarta-feira: Iziane e Isabela Ramona, do Sampaio Basquete, e Clarissa, que furou o boicote apoiado por seu time, o Corinthians/Americana. Foi preciso uma convocação de emergência para a seleção se apresentar com 11 atletas - uma jogadora ainda completará o time.

Seleção feminina de basquete - apresentação (Foto: Marcos Guerra)
Com 11 jogadoras e convocação emergencial, 
seleção iniciou treinos para o evento-teste 
(Foto: Marcos Guerra)


O colegiado, liderado pelo gestor do Corinthians/Americana Ricardo Molina, exige que os seis técnicos que dirigem os clubes da Liga Feminina de Basquete (LBF) façam parte do departamento técnico da seleção brasileira feminina. Para o colegiado, o diretor de seleções Vanderlei Mazzuchini foca suas atenções na equipe masculina. A CBB alega que a estrutura dada para homens e mulheres é a mesma, inclusive o valor das diárias em viagens, e afirma que o colegiado quer dar um golpe para comandar a seleção feminina, e isso, para a entidade, é inaceitável.

A CBB ainda cumpriu duas solicitações do colegiado, trocando o técnico Luiz Augusto Zanon por Barbosa - oficialmente Zanon deixou o cargo por causa de um problema de saúde - e nomeando Adriana Santos para o novo cargo de coordenadora da seleção feminina.


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Hortência já foi diretora de seleções da CBB e diretora executiva da LBF e, por isso, tem relacionamento tanto com clubes como com a CBB. Ela acompanha toda a movimentação nos bastidores e só toma um lado: o das jogadoras.

- Imagina a jogadora que peitou o clube e está na seleção agora. Ela (Clarissa) vai jogar tranquila sabendo que pode ser demitida? É difícil. Não sou contra algumas reinvindicações, só discordo do momento e da maneira que fizeram. Tinha de ser feito lá trás ou esperar as Olimpíadas. Imagina uma jogadora, que não tem culpa nenhuma nesse processo, ser proibida de vestir a camisa de seu país. Imagino como elas se sentiram. Qual a opção que elas tiveram? “Eu preciso do meu trabalho e ao mesmo tempo eu amo vestir a camisa do meu país e estar participando das Olimpíadas em casa”. É uma decisão muito difícil. Eu não gostaria de estar no lugar delas - disse Hortência.

Hortência (Foto: Marcos Guerra)
Hortência concorda com algumas 
reivindicações, mas não com a 
maneira e o momento que 
foram feitas pelo colegiado 
de clubes (Foto: Marcos Guerra)


A CBB e o técnico Barbosa já garantiram que as portas da seleção brasileira estão abertas para as jogadoras que pediram dispensa na caminho rumo às Olimpíadas do Rio de Janeiro. Sem elas, o Brasil encara Austrália, Argentina e Venezuela no evento-teste.


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