Levantador ajuda o Modena a erguer o troféu da Copa Itália e diz que foi uma vitória especial após ano de mudanças, protestos e de problema de saúde de Bernardinho
Bruninho não conhecia melhor remédio para amenizar aquela dor que a lembrança da final do Mundial da Polônia ainda lhe causava. Arregaçou as mangas, mergulhou no trabalho com o intuito de conquistar um título no Modena. No último domingo, enrolado na bandeira do Brasil, fazia o gesto que havia planejado executar em setembro, em Katowice. Se o tetra com a seleção não veio, a Copa Itália estava nas mãos, depois da vitória por 3 sets a 1 sobre o Trentino, que pôs fim a um jejum de 17 anos sem erguer um troféu. Feliz por ter cumprido a missão, o levantador só conseguia agradecer por todos os momentos difíceis que havia passado na carreira, sobretudo nos últimos meses, que fizeram deste um triunfo especial.
Bruninho comemora o fim do jejum do Modena
de 17 anos sem títulos na competição
(Foto: Instagram)
Ele e seus companheiros queriam transformar aquela prata em ouro no Mundial. Venceram lesões, mudanças no regulamento, ameaças de punições, saíram na frente na decisão contra os donos da casa, mas não conseguiram o que queriam. Na volta para casa, os ecos ainda seriam ouvidos. Os protestos dos atletas contra a Confederação Brasileira de Vôlei (CBV), depois das denúncias de supostas irregularidades na gestão de dinheiro público apontadas no relatório da Controladoria-Geral da União (CGU), tomaram a internet e as quadras. Pouco depois, a Federação Internacional (FIVB) anunciou suspensões e multas ainda relativas ao campeonato do mundo. Bruninho e Bernardinho estavam na lista. E em meio a tudo isso, o capitão da seleção ainda recebeu a notícia de que o pai-técnico havia retirado um tumor maligno do rim. Nos últimos dias de 2014, recebeu a visita dele.
- As derrotas acabam sendo complicadas e você tem que passar por elas para amadurecer e fazer com que aquela dor seja transformada em algo a mais. Depois do Mundial, eu tinha que entender e fazer um crescimento de alguma maneira. Tinha que treinar muito e era importante conquistar um título. E esse foi o meu primeiro na Itália. A cidade respira vôlei e está em festa. Sobre meu pai, até para a família ele escondeu um pouco (risos). Eu estava em Campinas, e ele me disse que ia fazer uma pequena cirurgia, minimizou. Depois quando saiu ele falando, fiquei um pouco assustado porque é um choque. Ele se cuida muito, não fuma, não bebe, não tem vício e não tinha um caso na família. Eu fico preocupado e pergunto toda vez agora, mas como foi descoberto no início, não teve problema - disse.
Bruninho levanta o troféu de campeão da Copa da Itália de vôlei (Foto: Instagram)
- Murilo e Gustavo me disseram que a reunião foi produtiva e é um inicio. Mesmo que a gente dê um ou dois passos para trás, tem que fazer o negócio certo. Fazer com que o vôlei se torne respeitado por todos dentro e fora de quadra. A nova gestão está se posicionando com relação a isso e quer que a transparência ocorra. A gente quer uma gestão transparente, que possa dar frutos ao vôlei, que os dirigentes sejam apaixonados pelo esporte e que não queiram só comandar, mas que o vôlei vá para frente. Essa é a oportunidade de mudar, e temos que dar esse voto de confiança para a nova gestão. O mundo do vôlei está de olho e vai cobrar. A gente não quer que o que aconteceu antes seja escondido. Se tiverem irregularidades, que os culpados sejam punidos.
Foi nas redes sociais que o levantador e outros grandes nomes da modalidade mostraram seu descontentamento com as denúncias de possível corrupção. As punições da FIVB, presidida por Ary Graça - ex-presidente da CBV -, também ganharam lugar. Elas chegaram a ser encaradas pela própria CBV como uma retaliação ao seu "posicionamento frente aos indícios de irregularidades apresentados pela CGU". Em seguida, a Confederação anunciou que não sediaria mais a fase final da Liga Mundial, que serviria como evento-teste para os Jogos do Rio 2016. Sobre a desistência, a FIVB afirmou que seu presidente não tem qualquer ingerência na decisão de seu painel disciplinar. E que, caso a CBV confirme a decisão, terá de arcar com todas as penalidades impostas pelo regulamento esportivo e pela constituição da Federação.
Bruninho recebeu a visita de Bernardinho,
Fernanda Venturini e da namorada no
fim do ano (Foto: Instagram)
Não sei se isso vai atrapalhar na nossa preparação em 2015, mas é um problema. O mais importante é que quem estiver na seleção deverá estar blindado com relação a isso. Só tem que pensar em fazer o trabalho certo e esquecer qualquer problema extraquadra para que a gente não sofra represália.
Em entrevista ao jornal "O Globo", no último domingo, Bernardinho revelou que Bruninho recebeu e-mail do mandatário da FIVB, dizendo que iria processá-lo, logo após o jogador ter se manifestado publicamente sobre as denúncias na CBV, na ocasião sob o seu comando. Bruninho confirma o episódio e lamenta.
- Ele disse que estava decepcionado com minha reação. Acho que inverteu o papel, porque a decepção é nossa, pois sempre acreditamos em tudo o que foi feito. E não era feito. Eu não o acusei. Em todos os meus comentários não coloquei nome de ninguém. Não sei se a carapuça está servindo ou não. A minha consciência está limpa com relação a isso. Nós queremos que as coisas sejam transparentes. Tudo isso tem repercutido muito aqui fora do país também. Muita gente parabeniza pelas manifestações feitas no Brasil, porque acham interessante estarmos lá no alto do ranking e ainda assim não nos calarmos diante dos problemas que vieram à tona. As pessoas estão curiosas. Nós vemos tanta coisa errada que, no nosso meio, temos que tentar fazer o certo.
para voltar ao alto do pódio
Bruninho quer ver o Brasil de novo no alto
do pódio (Foto: Divulgação / FIVB)
- Sou muito autocrítico. Não sou um jogador que nasceu com aquele talento para ser levantador, mas com talento para o vôlei. Tive que ser mais treinado do que Maurício, Ricardinho e William. Sei que posso melhorar em tudo, tenho que treinar muito e posso ser melhor fisicamente também. O vôlei está cada vez mais físico, e você tem que preparar cada vez melhor. Olhando os resultados, foi um ano bom para a seleção, chegamos a mais duas finais.
Ninguém chegou tanto quanto a gente, mas é lógico que fica um gosto amargo porque a gente não ganhou. Não é fracasso perder uma final, mas machuca, mostra que falta algo. Nós nos pressionamos muito, por mais que saibamos que é complicado chegar a uma decisão pelo equilíbrio grande que há hoje. A gente vem passando por um momento de renovação, e essa experiência vai amadurecendo a todos e talvez ajude no futuro. Não podemos perder o foco.
Para buscar inspiração, a biografia de Gustavo Kuerten mereceu a atenção de Bruninho no fim do ano. O tenista foi um de seus maiores ídolos na adolescência e sinônimo de superação de obstáculos na vida e na carreira.
- Guga é um monstro, um dos grandes ídolos do esporte. É um cara persistente, que lutou até o fim com a lesão dele e foi até onde pôde. Fez do esporte dele uma febre. É um exemplo de determinação.
FONTE;
http://glo.bo/1Bl4qVz
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