sábado, 14 de dezembro de 2013

Em nome de filho morto este ano, pai e mãe vão ao Marrocos ver o Atlético

Família Bolina segue em peso a Marrakesh na segunda-feira para apoiar o Galo, que os ajudou a conviver com a perda de Felipe, vítima de acidente de carro em março

Por Divinópolis, MG

- Quando o Galo fez o primeiro gol no primeiro jogo, nós nos abraçamos e ele me disse: "Pai, nós vamos ganhar essa Libertadores, o Galo vai ser campeão".

É dessa forma que Eugênio Paceli lembra um dos últimos momentos ao lado do filho, Felipe, de 25 anos. Junto à família, eles assistiram à estreia do Atlético-MG na Libertadores. Mas a parceria foi interrompida por uma tragédia: o jovem foi vítima de um acidente de carro no dia 24 de março, numa estrada entre as cidades de Pedra do Indaiá e Santo Antônio do Monte. Sem cinto de segurança, foi arremessado para fora do automóvel após perder o controle do carro e morreu a poucos quilômetros de casa. 

Família Bolina , Thiago, Luciana, Paceli, Simone, Santo Antônio do Monte torcedores atleticanos Atlético-MG Marrocos Mundial de Clubes (Foto: Luciana Bolina/Arquivo pessoal) 
Família Bolina: Luciana, Eugênio, Simone e Thiago: 
amor ao Galo ajuda a superar perda do jovem Felipe
(Foto: Luciana Bolina/Arquivo Pessoal)
 
Na superação da tragédia, o pai, a mãe, Simone, e os irmãos, Thiago e Luciana, encontraram na paixão pelo Galo a força necessária para seguir em frente. A família acompanhou o time durante todas as fases da conquista da América e, agora, se prepara para a viagem a Marrakesh, onde o time disputará o Mundial de Clubes.

DE MG PARA MARROCOS
Felipe Bolina João Pedro  Santo Antônio do Monte atleticanos Atlético-MG (Foto: Luciana Bolina/Arquivo pessoal)Felipe e o pequeno João Pedro
(Foto: Luciana Bolina/Arquivo pessoal)
 
Na segunda-feira, 18 integrantes da família Bolina vão encarar dez horas de viagem. Com a esperança de ver o Atlético ganhar o título no dia 21, eles só voltam ao Brasil no dia 24, véspera do Natal.

– Vale a pena. É tudo pelo Galo e eu acredito que vamos voltar com mais essa vitória de presente – afirmou a caçula da família, Luciana Bolina.


Se hoje a expectativa pelo embarque é acompanhada por um sorriso no rosto, muita força foi necessária para superar os momentos difíceis em 2013. A mistura de sentimentos uniu ainda mais a família durante a campanha do Atlético-MG e também em busca de uma lição de vida. O sonho da consagração continental do clube ao lado do filho não se realizou, mas todos torceram pela realização do desejo de Felipe.

– Contra o São Paulo, nas oitavas de final, foi minha primeira partida sem ele, e a única coisa que me lembro é que eu gritava "Ipe!" - que era como eu o chamava desde criança - após cada gol – disse, emocionado, Eugênio.

AMOR AO FUTEBOL, AMOR À VIDA
Eugênio Paceli e o neto, Família Bolina de Santo Antônio do Monte torcedores Atlético-MG viajam rumo ao Marrocos para o Mundial de Clubes (Foto: Família Bolina/Arquivo pessoal)Eugênio e o neto: extensão do companheiro que se foi (Foto: Família Bolina/Arquivo pessoal)
 
A vida e o futebol têm suas semelhanças. A família poderia ter desistido, mergulhado em um vazio como o de um estádio sem torcida. Mas eles driblaram a tristeza por uma nova chance.

– Os dias após a perda do meu filho tiveram algumas horas envolvidas pelo Atlético-MG. O Galo passou a ser o nosso amor, fuga, desculpa para viajar, o alvo da família no fim de semana. Achava que seria impossível, mas percebi uma força para seguir em frente e sonhar que algo maravilhoso ainda estaria por vir – afirmou o pai.

 A nova oportunidade de viver um pouco mais perto de Felipe foi encontrada no filho deixado por ele, João Pedro, de 4 anos. O primeiro neto de Eugênio e Simone, se tornou a extensão do filho perdido.

– Esse foi o ano mais triste da minha vida, mas também foi o ano que Deus permitiu ao Galo alcançar a maior vitória em seus 105 anos de existência. Se 2013 for comparado a um jogo, eu perdi por 100 a 1, mas o Atlético-MG fez um gol para o meu coração de pai. Na data do título da Libertadores, fazia quatro meses que Felipe havia morrido, mas tive a graça de ver essa vitória ao lado do meu neto, um pedacinho do meu filho e de Deus – contou o pai.

ajudinha que veio do céu
Cada vitória do Atlético-MG significava um ganho para a família. No memorável jogo contra o Tijuana, quando Victor defendeu um pênalti aos 47 minutos do segundo tempo, garantindo a classificação para as semifinais, todos os Bolinas estavam no Independência.

– O tempo passava e o Galo não se encontrava no jogo. Quando o juiz marcou, sentei e pensei: "Senhor, nunca imaginei que existia algum sofrimento novo que o atleticano ainda não tinha experimentado". Pedi então ao "Ipe" que, se possível, defendesse o pênalti, e ele foi defendido – lembrou Eugênio Paceli.

Família Bolina de Santo Antônio do Monte torcedores Atlético-MG viajam rumo ao Marrocos para o Mundial de Clubes (Foto: Família Bolina/Arquivo pessoal) 
Lembrança de Felipe será levada pela família para Marrakesh
(Foto: Família Bolina/Arquivo pessoal)

Um jogo sofrido, que pode ser comparado ao ano da família Bolina. Mas a “libertação” da família veio com o título inédito do Atlético-MG.

– Ser atleticano é algo divino. A paixão do torcedor é algo que não se explica. A fogueira se mantém aquecida pelo amor branco e preto. Acima de tudo, a conquista da Libertadores devolveu ao nosso coração a alegria de ser atleticano – contou o pai.


Ser atleticano é algo divino
Eugênio Paceli

  A conquista do título foi um presente não só para os torcedores, mas também para uma apaixonada pelo Galo, Simone, que comemorou o aniversário quatro dias depois.

– O Felipe sempre foi um torcedor apaixonado pelo time, atleticano de coração. Estar na final foi uma forma de homenagear a memória dele. Era como se ele estivesse ali com a gente. Essa vitória foi um presente para todos nós – disse a mãe de Felipe.

GALO FORTE E VINGADOR
Em agosto, a cidade de Felipe, Santo Antônio do Monte, recebeu uma festa em homenagem à conquista inédita da Taça Libertadores. No evento, o presidente do clube, Alexandre Kalil, esteve presente na comemoração e conheceu a história da família Bolina. O mandatário alvinegro foi presenteado com uma camisa estampada com uma foto de Felipe.

Família Bolina de Santo Antônio do Monte torcedores Atlético-MG  camisa  Felipe Bolina Alexandre Kalil presidente do Galo (Foto: Ademar Oliveira/Arquivo pessoal)Kalil durante festa em Santo Antônio recebe camisa em homenagem a Felipe
(Foto: Ademar Oliveira/Arquivo pessoal)
 
Prestes a embarcar para Marrakesh, a emoção fala alto e os pedidos ao céu para uma ajudinha extra ao Galo vão soar em coro pelos integrantes da família Bolina, com a certeza de que o filho e irmão querido vai dar uma força a mais.

– Serão dois jogos, quer dizer 180 minutos de fortes emoções. Se o dia for do Galo forte e vingador, nossas chances de conquistar esse título serão maiores. Não costumo misturar futebol e religião, mas que Deus, Jesus, Nossa Senhora e meu querido irmão, que está junto deles, vão vibrar pelo Galo, isso eu sei – falou Thiago.

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