terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Lembra Dele? Corte na Copa de 98 ainda incomoda Flávio Conceição


Ex-volante é dono do Nova Odessa Atlético Clube e também trabalha no
ramo imobiliário. Mundial da França é a principal frustração da carreira

Por Guto Marchiori Americana, SP

Flávio Conceição - ex-jogador (Foto: Guto Marchiori/Globoesporte.com)Flávio Conceição lamenta não ter disputado a Copa de 1998 (Foto: Guto Marchiori/Globoesporte.com)

O que poderia faltar para um currículo com passagens por Palmeiras, Real Madrid, Deportivo La Coruña, Borussia Dortmund e Seleção? Diante de tantas potências, fica difícil imaginar, mas o ex-volante Flávio Conceição, hoje dono de um clube federado no interior de São Paulo, tem a resposta na ponta da língua: uma Copa do Mundo. Ter ficado fora do Mundial de 1998 é a principal frustração da carreira. Titular durante o ciclo de preparação, como no título da Copa América de 1997, foi cortado às vésperas da divulgação da lista final devido a uma torção no joelho, mas, até hoje, não engole a justificativa do departamento médico da CBF e mostra mágoa com a maneira como a situação foi conduzida. Quatorze anos depois, a ferida continua aberta.

- Fui titular da Seleção praticamente por dois anos antes de ficar fora da Copa. Eu tive a torção no joelho, acho que foi o direito, se não me engano. O falecido médico Lídio de Toledo me ligou e perguntou como eu estava. Eu disse: "Se eu não jogar no sábado, você pode me cortar". Esse papo ocorreu numa segunda-feira. Na quinta-feira, ele me liga novamente e me dá a notícia: "Olha, você está cortado. Vamos chamar outro para o seu lugar, pois não podemos esperar mais" - relata o ex-volante.

- Eu insisti em querer saber o motivo daquilo, mas ele desligou o telefone na minha cara. Retornei a ligação do Dr. Lídio. Ele atendeu e me disse que havia conversado com o médico do La Coruña e sabia que eu não tinha condições de jogo. Liguei na hora para o médico do time, que me disse: "Flávio, ninguém ligou para mim. Como eu vou dizer que você não tem condições de jogo se você está escalado para jogar no sábado?". Joguei no sábado, fiz gol e fiquei fora da Copa de 98 sem saber o motivo até hoje - completa Conceição.

A versão final - e oficial - sobre a ausência de Flávio Conceição é que ele não iria se recuperar a tempo da contusão para ficar à disposição do técnico Zagallo (veja vídeo acima com declarações do jogador na época do corte). Para o ex-volante, ele pode até ter sido vítima de um boicote envolvendo fornecedoras de material esportivo. Sem realmente saber o motivo, Conceição lamenta não ter realizado o sonho de criança, talvez o único porém de uma trajetória de títulos por onde passou.

Flávio Conceição - ex-jogador (Foto: Guto Marchiori/Globoesporte.com)Conceição posa ao lado do quadro em que ele está com a Seleção (Foto: Guto Marchiori / Globoesporte.com)

- Não me passaram mais nada depois disso. Inclusive surgiu que tinha uma imposição que só iriam jogadores da Nike, e eu tinha um patrocínio da Reebok. Então passa um monte de coisa pela minha cabeça, mas até hoje eu não sei. Não sei dizer se foi algum tipo de boicote. No futebol, infelizmente, tem coisas que a gente não entende. Eu fiquei triste pra caramba, porque vinha de um trabalho muito bom, jogando bem na Olimpíada, dois anos como titular na Seleção. E quando chega na hora de comer o filé, o cara te tira sem explicação alguma. Me tirou o direito da Copa de 98. Esse era meu filé mignon. É o sonho de qualquer jogador.

Apesar de estar fora do futebol, Flávio Conceição não foge da raia quando o assunto é a atual Seleção. O ex-volante é claro sobre o que pensa do atual time, dirigido desde 2010 por Mano Menezes e que será comandado por Luiz Felipe Scolari a partir de fevereiro, no amistoso contra a Inglaterra.

- Pra falar a verdade, não gostava do trabalho do Mano. Não via o Mano como treinador da Seleção. É uma Seleção triste. Não sei se isso é a época.Quando eu fui, tinha Ronaldo, Romário, Zinho... era uma Seleção alegre. Sempre estava brincando, se divertindo. Hoje você vê o Neymar se sacrificando pra voltar e marcar. Parece uma seleção europeia dos tempos em que eu jogava. Hoje você vê o futebol que a gente jogava antes com a Espanha.

Aposentadoria e nova área de atuação

Sete anos. Esse é o tempo em que Flávio Conceição está oficialmente aposentado. Aos 38 anos, o ex-volante teve grandes momentos na carreira, mas a aposentadoria veio precoce, aos 32, devido a lesões que o incomodavam bastante. Bem-sucedido com as camisas de Palmeiras, La Coruña e Real Madrid, Conceição se dedica atualmente à função de empresário. Morando na cidade de Americana, ele alterna seu tempo cuidando do Nova Odessa Atlético Clube, comprado por ele em 2009, e também de empreendimentos imobiliários.

Flávio Conceição - ex-jogador (Foto: Guto Marchiori/Globoesporte.com)Ex-jogador é dono de um clube e trabalha com o ramo imobiliário (Foto: Guto Marchiori / Globoesporte.com)

- Tenho um clube que é federado. Chama NOAC (Nova Odessa Atlético Clube). Eu tinha começado esse projeto há dois anos e encerrei no começo deste ano. Pretendemos começar a disputar os campeonatos a partir deste ano. Hoje o clube está no papel. Ele existe, mas não tem nenhum jogador. Ano que vem pretendo colocar o time na Série B do Paulista (quarta divisão). Eu tenho uma empresa em que compro e vendo imóveis. Estou com um projeto futuro envolvendo alguns empreendimentos grandes - afirmou.

Entre uma reunião e outra, ele aproveita para manter a forma atuando em partidas de futebol com amigos. Resultado disso foi o braço esquerdo fraturado. Em um momento descontraído, o ex-volante revela que atua mais avançado nas peladas. E não decepciona.

- Jogo no fim de semana com os amigos. Tem que ficar em atividade para o corpo não aumentar. O pessoal respeita. Conheço todo mundo lá. O braço mesmo foi um acidente. Não foi porque o cara entrou de maneira maldosa. Na brincadeira, eu jogo lá na frente. Sou um centroavante nato - garante.
Passaporte para Europa

Flávio Conceição foi revelado pelo Rio Branco-SP, em 1992, e um ano depois já integrava o elenco do Palmeiras. Por meio do time do coração, chegaria à Europa. Em quase três anos no Verdão, o volante ganhou espaço sob o comando do técnico Vanderlei Luxemburgo, principalmente após a ida de Mazinho ao Celta de Vigo, da Espanha. E conquistou títulos: campeão do Torneio Rio-SP de 1993, bicampeão paulista (1994 e 1996) e bicampeão brasileiro (1993 e 1994).

Em 1996, o volante era um dos destaques do Palmeiras e titular absoluto no time que havia conquistado o título paulista. Chamado por Zagallo para integrar a equipe olímpica para os Jogos de Atlanta, nos Estados Unidos, Conceição foi um dos destaques, mas lamenta um descuido fatal da Seleção, que ganhava a semifinal da Nigéria por 3 a 1 e permitiu a virada dos africanos para 4 a 3. No jogo, fez dois gols (relembre no vídeo). Na disputa do terceiro lugar, garantiu a medalha de bronze.

- A Olimpíada de 96 foi meu passaporte para a Europa. Não ganhamos a medalha de ouro, mas para mim foi o bilhete para o futebol europeu. Foi um absurdo a gente não ter ganho aquela semifinal. Estava tudo tranquilo e, de uma hora para a outra, a Nigéria tirou a chance de disputar o ouro da nossa mão. Até hoje me pergunto: "Como perdemos um jogo que estava ganho?".

Flávio Conceição - ex-jogador (Foto: Guto Marchiori/Globoesporte.com)Conceição mostra algumas das conquistas que teve como volante (Foto: Guto Marchiori/Globoesporte.com)




Flávio Conceição - ex-jogador (Foto: Guto Marchiori/Globoesporte.com)Conceição mostra braço faturado durante futebol entre amigos (Foto: Guto Marchiori  /Globoesporte.com)

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2 comentários:

val disse...

Se nossa seleção tivesse um jogador como este,os jogos seriam outros,o cara foi o melhor em sua posição .

val disse...

Se nossa seleção tivesse um jogador como este,os jogos seriam outros,o cara foi o melhor em sua posição .