segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Pressa, poucos sorrisos e drible em fãs: o novo adeus de Schumi à F-1


Em seu último final de semana na categoria, alemão se mostra pouco solícito, corre pelo paddock e só relaxa após passar trono ao sucessor Vettel

Por Alexander Grünwald, Felipe Siqueira, Fred Sabino e João Gabriel Rodrigues São Paulo

Difícil saber o que Michael Schumacher pensava enquanto estava ali, parado. O GP do Brasil havia terminado há minutos, e Sebastian Vettel abria os braços para celebrar seu terceiro título na Fórmula 1. Ao lado, ainda de capacete, o heptacampeão apenas esperava. Abraçou o compatriota, 18 anos mais novo, deu o parabéns pelo título e saiu apressado. Acenou para alguns engenheiros da RBR que o cumprimentaram no meio do caminho, desviou de fiscais que pediam uma foto e seguiu para o box da Mercedes.

Saiu de lá e foi ao banheiro. Cruzou o paddock mais uma vez apressado, ignorou novos pedidos no caminho e voltou ao box daquela que seria sua última equipe na Fórmula 1. A pressa foi o que ditou o ritmo de Michael Schumacher em São Paulo. Até chegar o domingo, levava no rosto a expressão de quem queria adiar sua cena final em um espetáculo do qual foi protagonista por quase 20 anos. Os pés, no entanto, não obedeciam. Schumacher corria de um lado para o outro, num contraste com o que a Mercedes o permitiu fazer durante a temporada.

Schumacher GP Brasil (Foto: Getty Images)Schumacher se despediu da Fórmula 1 no Brasil (Foto: Getty Images)

Em seus últimos dias como piloto de Fórmula 1, Schumacher foi um homem de poucos sorrisos. Parava apenas quando cruzava com algum conhecido dos tempos de Ferrari, por exemplo. Tivessem feito uma contagem, deve ter ignorado 100, 200 chamados de fãs em Interlagos. Mesmo no estreito paddock do autódromo paulista, o heptacampeão mundial desviava com desenvoltura de quem aparecesse no caminho. “O homem não está para muitos amigos”, reclamou um segurança, com câmera à mão, também esnobado pelo ídolo.

Schumacher GP do Brasil (Foto: Piervi Fonseca/GP Brasil de F1)Schumi andou sempre correndo pelo paddock
(Foto: Piervi Fonseca/GP Brasil de F1)

Schumacher parecia incomodado pela razão de seu protagonismo. Todos queriam guardar alguma lembrança daquele que seria o último final de semana de uma carreira de vitórias, mas de uma temporada de poucas celebrações. Ao contrário de sua primeira despedida, o alemão não brigava por título, nem ao menos por um lugar no pódio. O heptacampeão mundial trazia no passo apressado o reconhecimento de que não era o melhor dos finais.

- Esta saída da Fórmula 1 vai ser, provavelmente, menos emocional do que foi para mim em 2006, quando ainda estávamos lutando pelo campeonato e tudo foi muito mais intenso. Desta vez, serei capaz de dar mais atenção à minha despedida e espero saboreá-la, também - afirmou, na quinta-feira antes do GP.

Ainda assim, Schumacher atraiu legiões na passagem por São Paulo. Em sua última coletiva de imprensa, logo após o treino classificatório de sábado, encarou uma sala lotada de jornalistas afoitos para ouvir a despedida de um mito. Admitiu sua frustração com o fraco desempenho no ano e não pareceu se empolgar muito com o futuro.


- Não tenho planos concretos. Posso continuar trabalhando na Fórmula 1, mas agora vou ter mais tempo para dedicar à família. Quando tudo terminar, vamos ter ideias, buscar opções, veremos juntos o que fazer.

Schumacher champanhe GP Brasil (Foto: João Gabriel Rodrigues / GLOBOESPORTE.COM)Piloto bebeu champanhe e ficou 11 minutos em coquetel (João Gabriel/ Globoesporte.com)

Na cidade, fugiu também dos tradicionais eventos de patrocinadores. Foi a poucos, a maioria de acesso restrito. Abriu uma exceção para um coquetel em um dos shoppings mais sofisticados de São Paulo. Lá, ficaria meia hora e assinaria exemplares da revista italiana “L’Uomo Vogue”, da qual foi capa neste mês. Chegou 15 minutos atrasado e se assustou com a quantidade de gente que o esperava. Posou para algumas fotos com convidados vips, tomou meia taça de champanhe e foi embora, carregado por sua assessora, exatamente onze minutos depois de chegar. Sem nem pegar numa caneta ou em um exemplar da publicação.

Schumacher GP do Brasil (Foto: João Gabriel Rodrigues / GLOBOESPORTE.COM)Schumacher encontrou amigos da Ferrari
(João Gabriel / GLOBOESPORTE.COM)

No domingo, como nos outros dias, chegou cedo ao autódromo, estacionando a Mercedes de passeio em frente à entrada do paddock. Atravessou a roleta e, mais uma vez apressado, nem se importou com o batalhão de fotógrafos e jornalistas que tentavam arrancar alguma imagem ou declaração. No box, recebeu uma homenagem da equipe pela aposentadoria e abriu, talvez, o maior de seus sorrisos do final de semana no paddock. Depois, esperou. 

Concentrado no grid, nem viu que Rubens Barrichello, ex-companheiro de Ferrari e que comentava a corrida para a TV Globo, o cercava para uma entrevista antes da prova. E fez, na medida do possível, uma boa corrida. Saiu do 13º lugar e pulou para sétimo, após facilitar a ultrapassagem de Vettel, que terminou em sexto e conquistou o título.

Já no fim, com os funcionários das equipes empacotando tudo o que viam pela frente, Schumacher recebia uma nova homenagem. Todos da Mercedes vestiam uma camisa com os feitos do alemão e um agradecimento. Schumi, dessa vez, bebeu toda a taça de champanhe que tinha em mãos. Aceitou, um a um, os inúmeros pedidos de fotos no box. E, novamente, abriu o sorriso com o carinho. Ali, Schumacher tentava retardar o que já era certo.
- Não foi perfeito, mas estou satisfeito.

O heptacampeão enfim relaxou. À noite, foi para uma boate na região dos Jardins. Dançou, bebeu e gargalhou. Com a mesma pressa que circulou pelo paddock no fim de semana, Schumacher não perdeu tempo para começar a aproveitar a vida de um piloto aposentado. O alemão se despediu da Fórmula 1 com sete títulos: 1994, 1995, 2000, 2001, 2002, 2003 e 2004. Aos 43 anos, deixa as pistas com 307 GPs, 91 vitórias, 155 pódios e 68 poles na carreira. Números definitivos. Ou, quem sabe, até a próxima volta.

vettel rbr schumacher mercedes gp do brasil (Foto: Agência Reuters)Schumacher relaxou apenas ao acabar o GP (Foto: Agência Reuters)

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