domingo, 6 de novembro de 2011

Ídolo no Ceará, Dimas Filgueiras jogou com Garrincha e escrevia suas cartas

Soldado Alvinegro' volta ao comando do Vozão pela 40ª vez para tentar livrar o time da Série B. Técnico lembra passado ao lado de grandes craques no Bota


Por Raphael Andriolo Direto de Fortaleza

Dimas Filgueiras nasceu e foi criado no morro de São Carlos, no bairro do Estácio, Rio de Janeiro. Mas esse carioca de 67 anos é ídolo bem longe das suas origens. Na última semana, ele assumiu o comando técnico do Ceará pela 40ª vez e foi recebido com festa pelos torcedores. O que pouca gente sabe é que o "Soldado Alvinegro", como é carinhosamente chamado pela torcida do Vozão, jogou 12 anos pelo Botafogo e atuou ao lado de grandes craques, como Garrincha, Zagallo, Nilton Santos, entre outras feras.
- Fui tetracampeão juvenil, seleção olímpica... Depois fui bicampeão com o Botafogo na década de 60, naquele time bom que tinha Manga, Joel, Nilton Santos, Zagallo, Gérson, Jairzinho, Garrincha... O Zagallo, além de jogar comigo, foi meu treinador no Botafogo - lembrou Dimas, mostrando as fotos e os recortes de jornais da época espalhados na mesa da sua casa, em Fortaleza.

As cartas do Mané...
O convívio com o craque das pernas tortas fez de Dimas mais que um companheiro de time. O ex-lateral-esquerdo tinha a missão de escrever as cartas que Garrincha mandava para as fãs. Mané era uma espécie de Neymar da época, mas sem a badalação das mídias sociais e de tanta imprensa.
– Como eu era uma pessoa que vivia junto com o Garrincha, escrevia as cartas dele nas viagens e tínhamos uma amizade muito grande. Naquela época, o Mané tinha um reduto de fãs e várias mulheres, e era preciso responder às cartas. Aí, era eu quem respondia, né. Ele pedia para mim porque tinha uma certa dificuldade de escrever, e eu tinha essa facilidade. Depois disso, não havia uma excursão que eu não estava dentro - contou dando risadas.

Dimas Filgueiras, técnico Ceará EE (Foto: Raphael Andriolo/Globoesporte.com)Dimas Filgueiras recebe faixa de campeão pelo Botafogo (Foto: Raphael Andriolo/Globoesporte.com)

Do Botafogo Dimas foi para o Fortaleza, arquirrival do Ceará, time que o idolatra. Ele chegou no Tricolor de Aço em 1971 e ficou cerca de um ano. Quando fala sobre o passado vermelho e azul brinca com a ironia do destino:
- Os torcedores do Ceará tem que agradecer muito ao Fortaleza. Se hoje estou aqui e tenho uma história no Ceará foi por causa deles. E estou no clube há 40 anos - brincou.
Uma vida no Ceará


Dimas Filgueiras, técnico Ceará EE (Foto: Raphael Andriolo/Globoesporte.com)Dimas revive o passado com recortes de jornais e
fotos (Foto: Raphael Andriolo/Globoesporte.com

Em 1972, Dimas se transferiu para o Ceará e não saiu mais do clube. Quando se aposentou como jogador começou a ajudar o clube da forma que podia. Virou funcionário e desde então já foi supervisor, diretor, vice-presidente de futebol, coordenador da base e treinador. Ganhou o carinho da torcida e se tornou uma espécie de anjo da guarda. E essa gratidão pode ser vista nas arquibancadas do CT Vovozão e do estádio Presidente Vargas. Ao som de "Olê, olê, olê... Dimas, Dimas...", ele comanda os primeiros treinos após o seu retorno.

- Quando tem crise, chama o Dimas - disse um torcedor.
- Não existe Ceará sem Dimas, nem Dimas sem Ceará - completou outro alvinegro.
Já são 485 jogos no comando da equipe, segundo informações do clube. E Dimas não esconde de ninguém que o Ceará, para ele, é como se fosse um filho mais velho. O segredo dessa bela história? Gentileza.
– Eu não mando, eu peço. Quarenta anos não são 40 dias. O Ceará é uma coisa que mora dentro do meu coração.
O apelido "Soldado Alvinegro" veio de um repórter, que o comparou com um militar no quartel e, quando chamado, está sempre à disposição. E com a frequente dança dos técnicos no futebol brasileiro, uma pergunta ficou no ar: ainda existe amor à camisa? E se você recebesse uma bela proposta de outro time?
Dimas comanda primeiro coletivo em seu retorno ao Ceará (Foto: Divulgação / Ceará)Dimas comanda primeiro coletivo em seu retorno ao
Ceará (Foto: Divulgação / Ceará)
– Existe, pelo menos da minha parte. E nunca! Eu sou treinador do Ceará e de mais ninguém. Não tem proposta que me tire de dentro do Ceará. Nem dinheiro, o dinheiro não é tudo na vida - declarou.

Missão: xô, rebaixamento
Dimas reconhece que não esperava o 40º chamado do Ceará, mas aceitou prontamente a missão de livrar o time do rebaixamento no Campeonato Brasileiro. No primeiro desafio, derrota para o Fluminense (1 a 2). Agora o treinador tem apenas seis jogos para tirar o grupo do 17º lugar na tabela de classificação, com 32 pontos. E confiança não falta ao Soldado.

– Sempre digo que sentar naquela cadeira ali é como sentar-se numa cadeira elétrica. Acho que o Ceará tem total condições de reverter esse quadro e chegar à Sul-Americana. A fase ruim passou, agora é a fase boa. Vamos para o tudo ou nada - finalizou Dimas.

Em confronto direto para escapar da zona de perigo, o Ceará enfrenta o Avaí neste domingo, às 17h (horário de Brasília), na Ressacada. Você confere a partida em Tempo Real no
GLOBOESPORTE.COM.

FONTE:
http://globoesporte.globo.com/programas/esporte-espetacular/noticia/2011/11/idolo-no-ceara-dimas-filgueiras-jogou-com-garrincha-e-escrevia-suas-cartas.html

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