FUTEBOL ESPANHOL
Clube investiu 122,5 milhões de euros em reforços, que não corresponderam, e ainda deixou Daniel Alves ir embora. Base passa por período complicado, sem novas opções para o elenco principal
Por Ivan Raupp, Barcelona, Espanha
O Barcelona começa toda temporada com três objetivos em uma escala de
importância. Em primeiro lugar está a Liga dos Campeões, que é ponto
mais alto da Europa. Em segundo está o Campeonato Espanhol, que também é
visto como muito importante para demarcar a supremacia no próprio país.
Em terceiro vem a Copa do Rei, torneio que é muito pouco valorizado em
relação aos outros dois e que só ganhou mais atenção no passado quando
foi disputado em uma final contra o Real Madrid ou quando completou a
chamada tríplice coroa. Isso explica porque esta temporada do Barça é
considerada por diretoria e torcida um fracasso, apesar de o time ainda
poder terminá-la com um título - exatamente o da Copa do Rei, cuja final
será neste sábado, contra o modesto Alavés, no Vicente Calderón, em
Madri.
O momento mais espetacular desta Champions foi protagonizado pelo
próprio Barcelona, quando conquistou uma incrível "remontada" nas
oitavas de final ao derrotar o Paris Saint-Germain por 6 a 1 no Camp Nou após ter perdido por 4 a 0 na França.
No entanto, a equipe voltou a vacilar nas quartas e não passou da forte
Juventus. Pelo segundo ano consecutivo não chegou às semifinais.
No Espanhol, onde o Barça vinha sendo soberado nos últimos anos, desta
vez quem tomou a liderança e a segurou até o final foi o Real Madrid,
que se tornou campeão nesse domingo. Para piorar, o maior rival também
pode ser campeão da Champions, e pelo segundo ano seguido: vai enfrentar
a Juventus na decisão do dia 3 de junho, em Cardiff, no País de Gales.
Apesar de ter o trio Messi/Suárez/Neymar sempre em destaque - os três
novamente fizeram mais de 100 gols na temporada -, é justo dizer que o
Barcelona não é mais o melhor time do mundo, como já foi considerado
outrora. No confronto com a Juventus,
por exemplo, a equipe italiana mostrou ser superior como conjunto e se
classificou com justiça. E essa queda recente do clube expõe alguns
problemas: muitos milhões foram mal gastos em contratações para a
temporada, atualmente faltam grandes talentos na famosa categoria de
base de La Masia, além de decisões erradas terem sido tomadas pela
diretoria, como a saída de Dan
(Foto: GloboEsporte.com)
Não faltou investimento do clube em contratações. Foram gastos no total
122,5 milhões de euros (R$ 447 milhões, na cotação deste fim de
semana), valor bastante alto. No entanto, o rendimento desses reforços
coloca em xeque a capacidade do secretário técnico Robert Fernández. Dos
seis jogadores que chegaram, apenas um se mostrou à altura do time: o
jovem zagueiro francês Umtiti, que deixou Mascherano na reserva em boa
parte da temporada. Os demais não passaram de meros coadjuvantes. O mais
caro deles, o meio-campista português André Gomes, custou incríveis 35
milhões de euros e não esteve nem perto de justificar esse valor. O
segundo mais caro, o atacante Paco Alcácer, teve pouquíssimas
oportunidades por ser reserva do MSN.
- O Barça fracassou primeiramente porque as contratações, exceto
Umtiti, não deram mostras de que poderiam competir pela titularidade. A
equipe foi muito irregular, combinando fases muito boas com outras muito
ruins - analisou Roger Torelló, jornalista que cobre o clube blaugrana
diariamente para o jornal catalão "Mundo Deportivo".
Outro ponto preocupante é a pouca (ou quase nenhuma) utilização de
novos jogadores das categorias de base. La Masia, que revelou craques
como Messi, Iniesta, Xavi e outros grandes nomes como Piqué, Fábregas e
Busquets, há algum tempo não produz um talento desse porte. Nesta
temporada, o meio-campista Carlos Aleñá, de 19 anos, foi quem mais
apareceu nos treinamentos do time principal, ainda assim com mínima
representatividade. O jogador do Barça B que parece ter ganhado mais
espaço é o brasileiro Marlon, que não é de La Masia, e sim cria de Xerém
e foi comprado pelo clube catalão. O técnico Luis Enrique foi direto
sobre o tema.
- Tirei pouco do Barça B? Se alguns não têm nível suficiente, não há
por que subir com eles ao profissional - disse o comandante, em uma de
suas últimas coletivas de imprensa.
Jogadores do Barça B: fora Marlon, quem lhe é
familiar? (Foto: Reprodução / Twitter)
Desvalorizado pelo Barça, Dani Alves brilha na Juventus
A lateral direita do time de Luis Enrique foi um problemão durante toda
a temporada, e isso evidencia um dos grandes erros cometidos pela
diretoria. Não deram o devido valor a Daniel Alves e deixaram que ele
saísse de graça para a Juventus, campeã italiana,
da Copa a Itália e finalista da Champions - com o brasileiro
protagonista. Enquanto isso, o Barça contou com Sergi Roberto e o
lesionado Aleix Vidal, jogadores muito abaixo de Daniel.
- Eu gosto que me queiram, e se não me querem, me vou. Sair
gratuitamente do Barcelona foi um tapa com classe. Durante minhas três
últimas temporadas, sempre escutava que Alves sairia, mas os diretores
nunca me diziam nada na cara. Foram muito falsos e mal-agradecidos. Não
tiveram respeito comigo. Só me ofereceram a renovação quando a Fifa os
puniu (de contratar). Então, foi quando eu entrei em jogo e assinei uma
renovação com cláusula de saída livre. Os que hoje dirigem o Barça não
têm ideia de como tratar seus jogadores - criticou Dani Alves
recentemente.
Além disso tudo, vale lembrar o contestado trabalho de Luis Enrique,
que sempre viveu às turras com a imprensa catalã. O técnico não
conseguiu fazer o time jogar bem contra os grandes da Europa e tomou a
iniciativa de anunciar sua despedida ao fim da temporada.
- Em alguns momentos Luis Enrique não soube gerir bem a rotatividade do
time, especialmente empenhando-se em apostar no Mathieu, que já tinha
dado sinais de que sua etapa no Barça tinha acabado. Ou então preterindo
Aleix Vidal e obrigando Sergi Roberto a ser lateral-direito, quando ele
deveria ser um recurso pontual na posição por conta da parte física.
Foi uma gestão muito ruim do Lucho e da diretoria, que não tiveram a
noção da importância que Daniel Alves teve nos êxitos do Barça -
completou Roger Torelló, do "Mundo Deportivo".
Daniel Alves levanta a taça da Juventus após
a conquista do Campeonato Italiano no último
domingo (Foto: Reuters)
O substituto de Luis Enrique ainda não foi definido, e o favorito para o
cargo é o espanhol Ernesto Valverde, que está de saída do Athletic
Bilbao. O anúncio oficial será feito no dia 29 de maio. A esperança da
torcida é de que o novo comandante possa mudar o panorama para a próxima
temporada. E claro, de que a diretoria faça um melhor trabalho na
contratação de reforços.
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