quinta-feira, 29 de setembro de 2016

De volta à França após grave lesão, Alejo aposta em bi mundial de Medina



MUNDIAL  DE SURFE


Trauma do passado agora é motivação para etapa de Hossegor do Circuito Mundial



Por
Rio de Janeiro



O mar estava perfeito. Ondas pesadas, quebrando lisas para os dois lados, tubos profundos. A imagem parecia de filme quando Alejo Muniz remou para uma direita, na primeira fase da etapa de Hossegor, na França, em 2015. A bateria era contra o havaiano John John Florence e o francês Jeremy Flores. Dropou, cavou, acelerou no tubo e... ficou lá dentro. Certamente, seria outro notão (já havia tirado um 9.10 na primeira onda), mas, naquele momento, começava o pesadelo de Alejo. Seu joelho esquerdo foi esmagado contra a prancha pela força da onda, e seu ligamento colateral foi gravemente lesionado. Minutos de angústia se sucederam até sua saída do mar, que ocorreu com auxílio de um jet ski. Com muita dor, sem conseguir pisar e amparado pelos salva-vidas, foi levado na caçamba de uma caminhonete às pressas para o hospital.

Com muita dor, Alejo Muniz é resgatado de caminhonete, ainda na praia (Foto: Divulgação WSL)
Com muita dor, Alejo Muniz é resgatado de 
caminhonete, ainda na praia em Hossegor 
(Foto: Divulgação WSL)

De volta ao Brasil, passou por procedimento cirúrgico em São Paulo. A grave lesão, que o tirou das três etapas finais do Circuito Mundial de Surfe (CT) em 2015, ainda o deixou ausente das duas primeiras etapas da perna australiana daquele ano. Felizmente, Alejo já havia conquistado pontos suficientes para manter-se na elite em 2016, e a força dos seus fãs foi fundamental no processo de retorno ao mar. 



Alejo em fisioterapia intensiva (Foto: Instagram)
Alejo em fisioterapia intensiva 
(Foto: Instagram)


Nascido na em Mar del Plata, na Argentina, Alejo mudou-se com a família para o Brasil aos dois anos de idade e fixou-se em Bombinhas, Santa Catarina. Em 2005, aos 15 anos, conseguiu a nacionalidade brasileira e desde então compete sob as cores da bandeira verde e amarela. Aos 26 anos, diante dos melhores surfistas do mundo e com uma responsabilidade grande nas costas, Alejo já provou sua capacidade de recuperação: em 2014, não obteve pontuação necessária para manter-se na divisão de elite do surfe mundial e, no ano seguinte, com sangue nos olhos, reconquistou a sua vaga no “Dream Tour” (Circuito dos Sonhos) ao competir na árdua divisão de acesso (QS).

Atualmente, ocupa a 29ª colocação no ranking mundial e precisa terminar a temporada de 2016 entre os 22 primeiros colocados para se manter na elite em 2017. Depois de Hossegor, na França (entre os dias 4 e 15 de outubro), restam apenas duas etapas do CT: Peniche, em Portugal, e o Pipeline Masters, no Havaí, em dezembro. Esta semana, Alejo competiu na etapa de Cascais do QS, mas acabou caindo no round 3.

Estilo e radicalidade, mascas de Alejo Muniz (Foto: Matt Dunbar / WSL)Estilo e radicalidade, marcas de Alejo Muniz (Foto: Matt Dunbar / WSL)


Um ano após o acidente e às vésperas da etapa de Hossegor, o GloboEsporte.com bateu um papo com o atleta, conhecido pela radicalidade de seu estilo baseado na força das manobras, principalmente, em ondas fortes como as da França. E Alejo fez um rascunho do momento atual.


GLOBOESPORTE.COM:Com 12.500 pontos, na 29º colocação (a sete posições para reclassificação para o ano que vem), você está agora em Portugal, onde participa do QS 10000 de Cascais para somar pontos importantes no ranking da divisão de acesso e garantir sua presença entre os Top 34 de 2017. Além das etapas restantes do CT (França, Portugal e Havaí), pretende ainda participar de outros QS ou focar somente na elite?
Alejo Muniz: Além dessas etapas aqui na Europa, que são um QS – o que estou participando agora em Cascais, Portugal - e 2 CT – França e novamente Portugal -, vou competir em casa nos QS da Joaquina, em Florianópolis, que vale 6.000 e nos QS do Havaí, válidos para a tradicional tríplice coroa havaiana. Depois, tem o evento mais esperado do ano, em Pipeline, que encerra a temporada. Mas meu foco maior é pontuar pelos eventos da elite. É por lá que pretendo buscar minha reclassificação.

Sobre o retorno para a França: após sua última participação traumática em Hossegor, onde se lesionou, sente ainda algum desconforto, seja ele físico ou psicológico?
Ainda não sei como vai ser... Mas me sinto preparado para chegar lá e surfar bem, sem nem pensar na minha lesão e nos traumas do passado. Não sinto desconfortos. Estou motivado para dar a volta por cima no mesmo lugar onde tive a minha pior lesão na carreira. Um ano depois, sei que dei meu máximo nesse meio tempo.

Em relação à lesão, como foi, na prática, todo o processo de recuperação?
Foi o momento mais difícil da minha carreira até agora. Fisicamente não foi fácil. Foram quatro meses de fisioterapia intensa, sem parar, das 7h da manhã até as 7h da noite. Mas acho que psicologicamente foi ainda mais difícil. Controlar a ansiedade, a vontade de surfar... As perguntas inevitavelmente vinham à cabeça: Quando vou voltar? Como vai ser esse retorno? Mas graças a Deus tive uma equipe muito forte do meu lado, que me ajudou na recuperação física e psicológica.

Um balanço deste ano até agora... e a meta daqui pra frente?
Ainda não obtive os resultados que queria esse ano. Não foi um ano fácil. Surfar na elite do surfe mundial é um desafio constante. Minha meta agora é classificar para o ano que vem e aí sim, começar do zero, para poder voltar com força total e competir bem do início ao fim do ano.

O que tem feito de preparação durante o ano, e para essa etapa de Hossegor, especificamente? Está treinando onde?
Nada em especial para Hossegor, pois é um “beach break” (ondas que quebram em fundo de areia) imprevisível. Tenho surfado ao máximo, fortalecendo a musculatura do meu joelho.
 
No ano retrasado, quando o Medina sagrou-se o primeiro campeão mundial brasileiro, sua participação no Havaí foi decisiva, eliminando oponentes direto... Como vê a briga pelo título esse ano?
Vejo o Gabriel Medina bicampeão. Acho ele o surfista mais preparado, mais completo, e está, mais do que nunca, com “sangue nos olhos” por vitórias.

Como foi esse misto de sensações, já que aquele ano não foi tão frutífero para você?
Confesso que foi estranho no início, pois eu queria me classificar. Mas, no final das contas, foi só felicidade: fiz um dos melhores campeonatos da minha vida e contribuí para o meu amigo ser o primeiro brasileiro campeão mundial da história.

Apesar de muita gente achar que vocês, surfistas, levam a vida dos sonhos, quais as dificuldades e desafios inerentes à profissão?
Temos muitos compromissos, muitas responsabilidades. Não é uma vida normal. Temos que treinar muito forte, com muita dedicação. Abrimos mão de muitas coisas em busca do nosso sonho. O surfe é a nossa profissão. Todo atleta, independentemente do esporte, precisa desse foco para se destacar.


FONTE:
http://globoesporte.globo.com/radicais/surfe/mundial-de-surfe/noticia/2016/09/de-volta-franca-apos-grave-lesao-alejo-aposta-em-bi-mundial-de-medina.html

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