quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Indignadas com ranking, jogadoras cogitam união para acabar com pontos


Dani Lins e Fabi falam em criar grupo de diálogo com clubes e CBV para evitar casos de Jaque, Lili e Fê Garay. Thaisa alfineta Talmo. Radamés e técnicos defendem tese




Por
Rio de Janeiro



A insatisfação vem de alguns anos, o ranqueamento de atletas da Superliga, por um sistema de pontos, definitivamente não caiu nas graças das artistas do espetáculo. Os recentes casos de Jaqueline, Elisângela e, agora, Fernanda Garay, que não renovou seu contrato com o Dinamo Krasnodar por conta da crise financeira do clube russo, só aumentam a irritação de Dani Lins, Fabiana, Thaisa & Cia. Prova disso está em postagens nas redes sociais do trio e de outras selecionáveis, com o pedido de extinção da pontuação individual e o teto por time.


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Talmo Fabiana Ellen Vôlei Sesi-SP (Foto: Fabio Leme)
Talmo e Fabiana têm pensamentos 
diferentes no caso que envolveu 
Elisângela (Foto: Fabio Leme)


A cobrança maior recai no colo da Confederação Brasileira de Voleibol (CBV), entidade que administra o esporte, mas a postura dos clubes não é esquecida, tampouco inocentada. As dificuldades encontradas para renomadas atletas em achar posicionamento dentro dos principais candidatos ao título e também às recém-chegadas ao adulto são apontados como os problemas mais dramáticos do ranking. Uma espécie de "Bom Senso Futebol Clube" começa a ganhar força, e a formação de um grupo para reivindicar direitos passa a ser vista como essencial.

Hoje, é a Lili que tem 37 anos. Depois, pode acontecer comigo, posso querer jogar e não ter clube.
Eu, Fabiana, sou contra o ranking
Fabiana, capitã do Sesi-SP e da seleção

- A gente tem que se unir o mais forte possível, reunir o maior número de jogadoras para acabar com esse ranking. Não sei se é o certo ou errado, mas o que a gente faz é colocar nas redes sociais, tenta movimentar isso de alguma forma. Acho que temos que fazer isso não só pelas redes, temos que nos reunir, sim, e falar com os clubes. Realmente, os clubes fizeram uma votação (caso Lili) e não votaram a favor. Infelizmente, a gente fica nas mãos deles. Não defendo só o caso da Lili, tiveram outras várias jogadoras que tiveram que parar obrigatoriamente, várias jogadoras que saem do juvenil e nem sabem para onde vão. Times mais abaixo (na tabela) acabam por falta de investimento, patrocínio, e para onde essas jogadoras vão? Isso é uma coisa triste que vejo no nosso país, uma coisa que me deixa chateada. Tenho falado com Fernanda, situação complicada, antes das Olimpíadas. Ela deveria estar focada em estar bem no clube, mas está pensando em outras coisas. Imagina se ela fica sem jogar, entendeu? É uma coisa que te deixa sem dormir. A gente tem fé em Deus, acredita que ela vai conseguir achar um clube, mas temos que ir contra isso, que está prejudicando. Todo mundo quer aprender aqui, jogar aqui, mas, ao mesmo tempo, tem o caso da Fernanda, da Lili e de outras várias jogadoras. Você não poder jogar no seu próprio país, na sua casa, me deixa triste. Hoje, é a Lili que tem 37 anos. Depois, pode acontecer comigo, posso querer jogar e não ter clube. Eu, Fabiana, sou contra o ranking - desabafou a capitã da seleção brasileira Fabiana, durante a apresentação oficial da Superliga, nesta terça-feira, no Rio de Janeiro.

Depois de Elisângela, que não pôde permanecer no Osasco para a disputa da Superliga por ser atleta com pontuação 1, num time com os 43 pontos limite permitidos pela regra do torneio, agora é Fernanda Garay quem se vê em uma situação delicada. Jogadora do Dinamo Krasnodar até a última temporada, a ponteira do Brasil não renovou seu contrato por falta de verba dos russos - ela tem salários atrasados.

Saiba mais: Garay revela conversa com clubes do Brasil e salários atrasados na Rússia

Lise Thaisa Luizomar Dani Lins vôlei Osasco (Foto: Fabio Leme)
Thaisa e Dani Lins são jogadoras pontuação 7 
e querem o fim do ranking (Foto: Fabio Leme)


Uma volta ao Brasil seria uma boa opção, principalmente por os principais campeonatos europeus estarem em andamento e a maioria dos grandes times está com o elenco fechado. Porém, por ser bicampeã olímpica, Garay tem a pontuação máxima (7) e não tem espaço nos clubes que devem disputar o título da Superliga (Rio, Osasco, Sesi-SP e Praia Clube). Para voltar ao país, teria que atuar por uma equipe de menor expressão e também com um investimento mais enxuto. O Bauru fez proposta. O Minas, do auxiliar técnico de Zé Roberto na seleção, Paulo Coco, também quer contar com a jogadora, mas corre atrás de investidor.

- Gostaria muito de contar com ela, se pintar a possibilidade. Mas não é fácil, precisamos de parceria, um investidor. Conversas estão acontecendo com a diretoria, mas não sei qual é a realidade dela fora do Brasil, qual a situação (financeira). Conversamos durante o Sul-Americano, ela me contou que estava com problemas lá (Rússia), mas que ia tentar resolver sua situação - contou Paulo Coco, treinador do Minas.

Mari Paraíba Rosamaria Paulo Coco Minas vôlei (Foto: Fabio Leme)
A intenção do Minas é fazer Fernanda Garay 
ser companheira de Mari Paraíba e Rosamaria, 
mabas treinadas por Paulo Coco (Foto: Fabio Leme)


Sem definição, Fernanda Garay mantém a forma física e técnica  no Osasco.
-  A maioria dos times já está com seu elenco definido e, dificilmente, acontece de contratar uma jogadora agora. Porém, a regra permite que até dezembro você consiga escrever alguma jogadora. Alguns times me procuraram, a gente está conversando, negociando, e eu espero que nos próximos dias tenha uma camisa para vestir - disse Garay ao SporTV.

Levantadora do Osasco e da seleção, Dani Lins lembra que outros casos podem acontecer com atletas atuando fora, caso optassem ou fosse obrigadas a retornarem neste momento ao Brasil. Contrária a qualquer tipo de enfrentamento com clubes e confederação, ela diz acreditar ser na união das atletas uma alternativa para o fim do ranking.

- Nós queríamos estar fazendo uma Superliga muito melhor, trazendo todas as jogadoras para o Brasil, como a Sheilla (joga na Turquia), a Fabíola (também do Dinamo Krasnodar). Seria melhor para a seleção brasileira. Eles (dirigentes da CBV) falam que os clubes aceitaram (o regulamento), mas tem que partir da CBV acabar com o ranking. Revolução, essas coisas, não dão certo. A gente sofre muito, nossos patrocinadores sofrem e os torcedores também, pois querem ver a gente jogar. Mas, a verdade, é que nós temos que conversar, sim, sentar seriamente com todo mundo e resolver - afirmou Dani Lins, que disse acreditar ver Garay atuando por uma equipe o mais rápido possível.

Thaisa vôlei Osaco (Foto: Fabio Leme)
Thaisa não poupou treinadores que votaram contra Elisângela ter sua pontuação zerada (Foto: Fabio Leme)


Conhecida por dizer o que pensa, Thaisa revelou ter tentando exercer sua condição de protagonista em uma antiga reunião da CBV, mas alegou não ter sido ouvida. A central do Osasco confidenciou que dentro dos próprios times existem barreiras para casos como o de Elisângela.

- A gente tentou fazer isso, já cheguei em reunião da CBV e não tive voz. Só que eles esquecem que, se não tiverem as atletas, não tem patrocinador, clube e campeonato. Quando tiver uma reunião, tem que chegar lá, votar contra o ranking e acabar com isso. A Fabi (Fabiana) pediu para o técnico dela (Talmo) e ele não deu a menor bola para o caso (Lili) e disse "não". Está nem aí. O Wagão (Pinheiros) também, inclusive, já trabalhou com ela. Como assim? Eles têm que colocar a mão na consciência, é muito clubismo. Às vezes, esquecem das atletas. O que adianta eles trazerem atletas de fora, se as nossas estão saindo? Tem alguma coisa errada - disse a bicampeã olímpica, outra com pontuação máxima, assim como Dani Lins e Fabizona.


TÉCNICOS E CBV OPINAM  E CONCORDAM COM MUDANÇAS

Citado como um dos contrários a zerar a pontuação de Elisângela, o técnico do Sesi-SP, Talmo de Oliveira, não teve sua resposta enviada pela assessoria de imprensa do clube onde dirige até a publicação desta matéria. Wagão, comandante do Pinheiros, explicou os motivos que o fizeram não dar apoio ao pedido de muitas companheiras da veterana de 37 anos.

- O Pinheiros entende que a regra determinada na reunião de clube tem que ser seguida. Abrir uma exceção, a 20 dias do início da Superliga, poderia originar outros pedidos de outras jogadoras. A gente acha que não cabe. Tudo isso expôs as jogadoras e a gente também, uma situação constrangedora. Acredito que todos possamos sentar e resolver para a próxima Superliga. A gente não votou contra a Lili, não foi nem voto. Quero que todas joguem - defendeu-se Wagão.

Diretor de competições da Superliga, o ex-treinador da seleção brasileira, Radamés Lattari, seguiu a mesma linha de discurso. Mesmo sendo a entidade máxima do esporte no país, ele não vê com bons olhos a CBV tomar uma atitude que vá contra ao que foi definido pelos clubes.

- Todo ano, em fevereiro, se tem a primeira reunião sobre o texto do ranking. Nesse ano, os 24 clubes (masculino e feminino) acharam que esse texto deveria valer por dois anos, uma unanimidade, ninguém votou contra. No dia 1º de abril, teve a votação das pontuações. Não pode ser a CBV que vai modificar isso, se é ela quem gere a competição dos 24 clubes que votaram a favor disso. É uma situação que não nos metemos. Na próxima reunião, em fevereiro de 2016, vamos colocar a pauta em assunto. Se os clubes acharem por bem modificar o sistema de pontuação, assim o faremos - falou o dirigente.

Radamés Lattari CBV (Foto: Alexandre Arruda / CBV)
Radamés Lattari discursa durante 
apresentação da Superliga 2015
/2016 (Foto: Alexandre Arruda / CBV)


SITUAÇÃO DE GARAY  PREOCUPA ZÉ ROBERTO

Depois de Fernanda Garay, quem se mostra mais preocupado com o momento da ponteira da seleção brasileira é o técnico José Roberto Guimarães. Além de não ter a atleta em quadra praticamente o segundo semestre todo de 2015, por conta de uma lesão no quadril, ele define como problemático uma jogadora de seu patamar desempregada a oito meses do início dos Jogos Olímpicos.
- Preocupante, muito preocupante. Tenho mantido contato com ela e sei que ela tem contatos no  Brasil e na Europa. A expectativa é grande, mas é outra jogadora que não está jogando em um ano pré-olímpico. Quero que ela escolha o que for melhor para ela. Na Europa, os campeonatos já começaram, no Brasil ainda vai começar. Só gostaria que ela jogasse num grande centro - declarou o tricampeão olímpico.


FONTE:
http://globoesporte.globo.com/volei/noticia/2015/11/indignadas-com-ranking-jogadoras-cogitam-uniao-para-acabar-com-pontos.html

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