quinta-feira, 23 de julho de 2015

Seleção, títulos, AVC e Bota: Ricardo Gomes tem novo desafio na carreira

Depois de quatro anos, Ricardo Gomes volta a treinar um time de futebol. Recuperado de um AVC sofrido em 2011, ex-zagueiro é o novo técnico do Botafogo



Por
Rio de Janeiro
Chamada Ricardo Gomes Vasco Entrevista (Foto: Marcos Alves / Agência O Globo)
Quatro anos depois, Ricardo Gomes volta a 
trabalhar como técnico. É o novo comandante 
do Bota (Foto: Marcos Alves 
/ Agência O Globo)


Passaram-se quatro anos. Mas Ricardo Gomes está de volta. Agora, no comando do Botafogo. O treinador aceitou o desafio - e a proposta da diretoria alvinegra - de voltar a chefiar um elenco, desta vez, na tentativa de retorno à Série A do Brasileirão. Ainda não há data confirmada de quando iniciará o trabalho - ele e o presidente Carlos Eduardo Pereira se reunirão para definir -, e o certo, por ora, é que o interino Jair Ventura comandará o time carioca contra o Bahia, neste sábado. Ricardo chega para assumir o posto deixado por René Simões, demitido na última semana, após perder para o Figueirense no Engenhão e ser eliminado da Copa do Brasil.

Ricardo Gomes não trabalha como treinador desde 2011, quando sofreu um AVC (acidente vascular cerebral) durante clássico do Vasco contra o Flamengo, no dia 28 de agosto (veja no vídeo abaixo o atendimento ao técnico no Engenhão). No ano anterior, trabalhando no São Paulo, ele teve uma vasculite, considerada um pequeno AVC, e também precisou ficar internato após o clássico contra o Palmeiras, pelo Campeonato Paulista. A recuperação, porém, foi bem mais rápida.

O Ricardo está totalmente liberado para voltar ao trabalho. As funções cerebrais estão normais, há mais de ano, inclusive. Ele quem optou por aguardar um pouco mais de tempo".
Fábio Miranda, médico de Ricardo Gomes

Quem o ajudou - e o salvou - naquela tarde foi chefe do departamento médico do Flamengo, doutor José Luiz Runco. Ex-sócio do Hospital Pasteur, na Zona Norte do Rio de Janeiro, o médico percebeu a gravidade da situação e logo ligou para a diretoria do hospital, pedindo a preparação para uma cirurgia de emergência. Foram 21 dias internado, 15 no CTI e mais seis no quarto. Depois, ao longo dos anos, mais inúmeras sessões de fisioterapia, musculação e fonoaudiologia, além de check-ups frequentes. Hoje, está pronto para recomeçar na profissão.

Quem garante é o médico pessoal do treinador, Fábio Miranda. Não há nenhuma restrição para que o técnico exerça o trabalho normalmente. Há mais de ano, inclusive.

- O Ricardo está totalmente liberado para voltar ao trabalho. As funções cerebrais estão normais, há mais de ano, inclusive. Ele quem optou por aguardar um pouco mais de tempo. Ele tem apenas uma pequena sequela na fala, mastiga um pouco as palavras às vezes, tem um pouco de gagueira. Mas o raciocínio é normal. Sem problema algum - disse.


Em março deste ano, o Vitória tentou a contratação do treinador. A necessidade de recuperação de uma artroscopia no joelho, porém, impediu-o de assumir naquele exato momento, por isso a negociação não avançou. O médico Fábio Miranda também tranquiliza sobre o fato:

- Ele tem problema nos joelhos desde a época de jogador. Talvez venha a precisar de uma nova cirurgia no futuro, mas nada disso impede o trabalho dele como treinador.


TRABALHO COMO DIRIGENTE

Roberto Dinamite e Ricardo Gomes coletiva Vasco (Foto: Marcelo Sadio / Site do Vasco)
Ricardo Gomes foi diretor técnico e diretor 
executivo de futebol em 2013, pelo Vasco 
(Foto: Marcelo Sadio / Site do Vasco)


Entre 2011 e 2015, porém, Ricardo Gomes não deixou de trabalhar com futebol. Ficou bem perto dele, inclusive. No fim de 2012, voltou ao Vasco, à convite de Roberto Dinamite, então presidente do clube. Desta vez, como diretor técnico. Em junho de 2013, após saída de René Simões, assumiu o posto de diretor executivo de futebol. A nova função foi exercida por mais seis meses, apenas. Ao início da temporada 2014, Ricardo deixou o clube para se focar totalmente à recuperação física. O objetivo era voltar aos gramados, como treinador, sua verdadeira paixão.


O ÚLTIMO CLUBE

Ricardo Gomes assumiu o Vasco, seu último clube, em fevereiro de 2011, depois te ter trabalhado no São Paulo nos anos anteriores e não ter dito seu contrato renovado. Nos seis meses que esteve à frente da equipe, conquistou a primeira e única Copa do Brasil do Cruz-Maltino.

Ao fim do ano, compartilhando o trabalho com Cristóvão Borges, seu auxiliar, efetivado no cargo após o AVC, o Vasco chegou ao segundo lugar do Campeonato Brasileiro, em uma grande campanha.

Juninho Pernambucano trabalhou poucos meses com o treinador, uma vez que foi contratado após a Copa do Brasil e, em agosto, Ricardo sofreu o AVC. O curto período, no entanto, não impediu de ser criado um vínculo de amizade entre os dois. Até porque, em 2013, com Ricardo como dirigente, voltaram a trabalhar juntos.

Ricardo Gomes Vasco vestiário Juninho Pernambucano (Foto: Marcelo Sadio / Site Oficial do Vasco da Gama)
Ricardo Gomes e Juninho Pernambucano 
trabalharam juntos (Foto: Marcelo Sadio 
/ Site Oficial do Vasco da Gama)


O agora comentarista da TV Globo vê-o como um bom nome para o Botafogo. Apesar de reconhecer que pode existir um risco em virtude do tempo fora dos vestiários, crê também que o período utilizado estudando e se aperfeiçoando pode ser importante.

- O Ricardo está sem trabalhar como treinador há um tempo, mas ele estudou mais, passou a ver mais jogos, está se preparando. O conhecimento de futebol ele tem. E ele mora no Rio, trabalhou com os times do Rio... Ele merece muito, tem muito conhecimento - falou, completando: - É uma oportunidade bem difícil. O Botafogo perdeu peças importantes. 
Imagino que seja um risco em relação aos resultados, mas é uma felicidade muito grande. Para quem já passou por um problema de saúde na vida, ele serve de inspiração. Foi uma situação muito dramática na época. E vê-lo voltando a comandar um time... torço para que dê tudo certo.

Ele (Ricardo) estudou mais, passou a ver mais jogos, está se preparando. O conhecimento de futebol ele tem. Ele merece muito, tem muito conhecimento".
Juninho Pernambucano, ex-jogador

O ex-meia revela ainda que, nas conversas com o treinador após o problema de saúde, ele sempre dizia que "faria de tudo" para voltar a trabalhar na profissão:

- É uma história de superação. Ninguém tinha esperança. Ele é muito bom, conhece muito bem o futebol, jogou Copa do Mundo, tem conhecimento geral. Fico muito feliz, vou mandar mensagem, ligar para ele. Espero que dê tudo certo. Depois do ocorrido (em 2011), a gente voltou a se encontrar e ele dizia: "O que eu gosto é ali no campo, vou fazer de tudo para poder voltar a ser treinador".



A CARREIRA DE TREINADOR

Foram 13 clubes em quase 20 anos de carreira como técnico. Passagens pelo estrangeiro, pela Seleção e por seis estados brasileiros. Iniciou no Paris Saint-Germain em 1996, clube onde atuou por quatro temporadas enquanto jogador. Dois anos mais tarde, conquistou a Copa da Liga Francesa e a Copa da França. Voltou ao Brasil para ser novamente campeão. Assumiu o Vitória em 1999, em uma equipe cheia de garotos da base, mas que contava com Petkovic. Conquistou o Campeonato Baiano e a Copa do Nordeste.

Passou ainda por Sport, Guarani, Coritiba, Juventude, Fluminense, Flamengo, São Paulo e Vasco, no Brasil. No exterior, comandou o Bordeaux, de 2005 a 2007, quando conquistou mais uma Copa da Liga Francesa, e o Monaco, de 2007 a 2009.

O bom trabalho realizado no Juventude, no começo do século, quando levou o time ao quarto lugar da primeira fase do Brasileirão 2002, resultou em uma oportunidade no comando da seleção olímpica. Nomes como os ex-santistas Diego e Robinho faziam parte da equipe. O Brasil, porém, não fez nada bonito. Precisando apenas de um empate no Pré-Olímpico, o time perdeu por 1 a 0 para o Paraguai e sequer conseguiu se classificar para os Jogos de Atenas, em 2004.


RICARDO, O TREINADOR


O zagueiro Ricardo Gomes iniciou sua carreira profissional no Fluminense, no início da década de 1980. Durante seis anos, conquistou quatro títulos pelo Tricolor: o tricampeonato carioca, em 83, 84 e 85, e foi campeão brasileiro de 84.

Foi a boa campanha de 1984, com as duas conquistas, que lhe rendeu a primeira convocação para a seleção brasileira. Foi titular na conquista da Copa América 1989 e nas eliminatórias para a Copa de 90.Embora tenha sido o capitão no Mundial, o desempenho da equipe não foi o esperado: o Brasil perdeu nas oitavas de final para a Argentina.

Um dos preferidos de Carlos Alberto Parreira, Ricardo Gomes não pode disputar a Copa do Mundo de 1994 em virtude de uma lesão. Foi em um amistoso contra El Salvador, o último antes da competição, quando sentiu uma lesão muscular. Foi cortado (veja gol marcado pelo ex-zagueiro contra a Bolívia nas eliminatórias de 1993 no vídeo acima).

O novo treinador do Botafogo atuou ainda por Benfica, em duas oportunidades, entre 88 e 91, e entre 95 e 96, e pelo Paris Saint-Germain, durante quatro anos, entre 91 e 95.


FONTE:
http://glo.bo/1TSUOsT?utm_source=link&utm_medium=share-bar-desktop&utm_campaign=share-bar

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