Eu comento esportes: "Melhor que Beckenbauer", Neuer vira líbero e guia o sonho do tetra

terça-feira, 1 de julho de 2014

"Melhor que Beckenbauer", Neuer vira líbero e guia o sonho do tetra

Goleiro tem atuação decisiva contra Argélia ao tocar 21 vezes na bola fora da área. Ida conturbada para o Bayern e titularidade relâmpago na seleção estão no currículo

Por Sergio Gandolphi e Victor CanedoSanta Cruz Cabrália, BA

Legado do Bayern de pep

O destino sorriu para Manuel Neuer. E ele sorriu de volta, metaforicamente, numa época em que a Alemanha lamentava o suicídio de Robert Enke e a lesão de Rene Adler. De terceira opção, o goleiro virou o titular na Copa do Mundo da África do Sul, firmou-se como o melhor do mundo em 2013 – para os votantes da Fifa e Uefa – e hoje faz hora extra até como líbero de sua seleção. O sonho do tetracampeonato passa muito pelas suas mãos, é claro, mas também pelos pés do grandalhão de 1,93m.

Contra a Argélia, na última segunda-feira, Neuer foi fundamental. Talvez decisivo para a classificação às quartas de final com a vitória nada previsível por 2 a 1 no Beira-Rio. Vazado apenas nos acréscimos do segundo tempo da prorrogação, ele salvou sua frágil defesa um punhado de vezes. Não apenas com defesas, como sugere a expressão trazida do vôlei: o goleiro se aventurou fora da área, cortou no tempo certo vários ataques dos africanos e, quando possível, também guiou as ações ofensivas de seu time.

Manuel Neuer dominou o gol alemão nas oitavas

de final com uma atuação soberba

(Foto: Getty Images)

Foram 53 passes efetuados durante todo o jogo. Neuer acertou 42 deles, mais do que o atacante Thomas Müller, por exemplo (36). Tocou na bola 21 vezes longe do seu habitat, um recorde para qualquer goleiro neste Mundial – o que gerou montagens curiosas na internet (confira abaixo). O estilo ousado (alguns chamam de louco) chamou a atenção até mesmo do zagueiro Rio Ferdinand, ex-Manchester United, que o elegeu como substituto ideal para a posição. O preparador de goleiros Andreas Kopke não titubeou ao elogiá-lo.

Eu raramente vi um líbero melhor. Talvez nem mesmo Beckenbauer

Andreas Kopke, preparador de goleiros da Alemanha

– Eu raramente vi um líbero melhor. Talvez nem mesmo Franz Beckenbauer (risos). Para mim ele é o goleiro mais completo do mundo. Não vejo alguém melhor.

A declaração, é claro, tem um quê de humor – ainda assim, foi destacada na página oficial da DFB (Federação Alemã de Futebol). Mas a comparação, ao menos na casa da superstição, traz recordações animadoras. Foi com líberos que a Alemanha se sagrou campeã do mundo nas últimas duas vezes: em 1974, com o próprio Kaiser, e em 1990, com Lothar Matthäus. As palavras do técnico Joachim Löw também mostram satisfação.

– Ele fez uma partida extraordinária. Não teve que ficar ali na linha de meta, o que foi importante é que realmente participou da partida. Nos lançamentos ele nos salvou com frequência. Jogou como líbero, saiu da área várias vezes e, na ultima fração de segundo, nos salvou desses artilheiros rapidíssimos.

Legado do Bayern de pep

Neuer carrega esta característica do Bayern de Pep Guardiola, que costuma abusar do camisa 1 para não perder a posse de bola. Inclusive trouxe ao Brasil uma lesão no ombro por ir até a linha lateral dividir jogada com Robert Lewandowski na final da Copa da Alemanha, em maio, contra o Borussia Dortmund.

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– Eu não mudei o meu estilo de jogo. Eu geralmente jogo assim. O campo estava molhado, o que tornou as coisas um pouco mais fáceis. Eu me sinto mais confortável desse jeito, embora não fique chateado se passar dez ou 15 minutos sem contato com a bola. Mas eu quero ajudar, quero estar envolvido também na construção das jogadas.

Ele completará 50 jogos com a seleção alemã na próxima sexta-feira. Numa ocasião sugestiva: o clássico contra a França, pelas quartas de final, no Maracanã, palco que na semana seguinte receberá a decisão. O retrospecto é quase impecável: são 38 vitórias, oito empates e três derrotas nas 49 partidas até aqui.