Vitória,
com dois gols de Fred e um de Neymar, dá à Seleção seu quarto título da
Copa das Confederações. Espanha não perdia há 29 jogos
A CRÔNICA
por
Alexandre Alliatti
Não tem balança que defina o peso de uma camisa. Tradição não se mede
com uma régua, não se calcula com uma máquina. Mas existem Campeões, com
letra maiúscula, e campeões. Existem Seleções, com letra maiúscula, e
seleções. E existem pentacampeões. Com vitória de 3 a 0 no Maracanã, o
Brasil mostrou ao (ex?) melhor time do mundo que não é da noite para o
dia que cinco estrelas vão parar em um peito. Fred, destruidor, marcou
duas vezes. Neymar, eleito o melhor em campo, fez o outro. O Brasil é
campeão da Copa das Confederações pela quarta vez. Campeão em uma noite
em que a torcida resumiu tudo ao gritar:
- Ôoooo, o campeão voltou! O campeão voltou!
Fred, destruidor, faz dois gols e Brasil atropela a Espanha no Maracanã (Foto: Reuters)
O campeão voltou jogando um absurdo. David Luiz talvez tenha feito a
melhor partida da vida. Neymar foi infernal como poucos sabem ser. Hulk
assinou seu atestado de permanência no time. E Fred foi Fred, foi
matador, foi aquele sujeito que nasceu para vestir a 9.
Um dia cairia a casa da Espanha, esse timaço que tanto, e a tantos,
encantou nos últimos anos. A Roja não perdia há 29 partidas -
consideradas as oficiais. Pois aconteceu justamente contra um adversário
no qual eles mesmos se espelham, contra a escola que, não por acaso, é
chamada de “jogo bonito”. A Fúria, que certamente seguirá forte na Copa
de 2014, foi engolida em campo. Não é exagero: foi um passeio, um baile,
um chocolate. Uma vitória que a torcida novamente soube resumir:
- Oooooooooolé! Oooooooolé! Oooooooolé!
Um atropelamento
Fred é um caso para se estudar. Ele faz gol de pé – aos montes. Faz gol
no ar – às pencas. Mas, cá entre nós, gol deitado não é em toda lua
cheia que sai. Que gol. Que gol. Eram só dois minutos do primeiro tempo.
Do concreto cheirando a novo do Maracanã, parecia pulsar um organismo
vivo, como se o estádio fosse, por si só, um torcedor – o maior dos
torcedores.
Habitat natural: dentro do gol, Fred comemora (Foto: Ivo Gonzalez / Agencia O Globo)
Hulk recebeu da direita e mandou na área, enquanto urros de otimismo
saíam das cadeiras. Fred foi na jogada. Neymar também. O camisa 9
desabou no chão. E a bola, companheira como o mais fiel dos cães,
resolveu se aninhar nele. Reparemos que o jogador tinha um milésimo de
segundo para pensar, feito o sujeito que precisa decidir se corta o fio
azul ou o vermelho na hora de desativar uma bomba prestes a explodir.
Fred foi ágil. Foi decidido. Deitado, no pequeno espaço de campo onde
estava, encaixou o pé sob a bola e a ergueu. Casillas foi vencido. Gol
do Brasil. Gol de Fred.
Ah, aí o Maracanã entrou numa euforia que parecia guardada nos três
anos em que o estádio ficou fechado. Por uns 15 minutos, a Espanha
pareceu atordoada. Paulinho, por cobertura, quase fez um gol histórico,
mas Casillas salvou. Arbeloa, logo depois, levou amarelo ao evitar
arrancada de Neymar que fatalmente renderia gol. Era impressionante a
superioridade do Brasil.
Neymar comemora segundo gol do Brasil, uma pancada de esquerda (Foto: AP)
Do outro lado, porém, estava a Espanha. Aos poucos, a Fúria começou a
reagir. Voltou a ter mais posse de bola – uma tatuagem de seu futebol.
Deu sinais de que poderia empatar. Iniesta bateu de fora da área, e
Julio César espalmou. Pedro, livre pela direita, bateu cruzado após
passe de Mata, e David Luiz (enorme em campo) cortou quase em cima da
linha.
A Espanha se acalmou, entrou no jogo, enfrentou o Brasil. Mas a Seleção
jamais deixou de buscar o segundo gol. Fred bateu cruzado, para fora.
Também tentou de cabeça, novamente fora do alvo. E recebeu livre, frente
a frente com Casillas, mas chutou em cima do goleiro.
Enquanto isso, Neymar era arisco, envolvente, agudo. Participava dos
ataques. Parecia bufar em busca de um gol. E conseguiu. Foi aos 44
minutos. Ele pegou a bola pela esquerda, acionou Oscar e logo recebeu de
volta. Nem pensou: já emendou um chute seco, forte, no ângulo. Casillas
vai passar o resto da vida procurando a bola. Que pancada: 2 a 0.
Festa completa: mais um de Fred
Piqué expulso por falta em Neymar. Brasil muito
superior em campo (Foto: Reuters)
E não é que tinha como ficar melhor? Veio o segundo tempo, e o Brasil
logo fez mais um. Com Fred, sempre com Fred. Aos dois minutos, Hulk
acionou Neymar, que teve inteligência para dar, vender e emprestar ao
deixar a bola passar para o centroavante. A conclusão foi precisa, no
cantinho. Casillas ainda tocou nela. Em vão: era o terceiro gol.
Acabou. A Espanha, por melhor que seja, por mais talento que tenha, não
poderia virar. Mas bem que tentou. Aos oito minutos, Marcelo fez
pênalti em Navas. Poderia ser a sobrevida do adversário, não fosse esse
domingo um dia dedicado ao Brasil. Sergio Ramos bateu. Para fora. A
torcida vibrou como se fosse gol.
O Brasil seguiu atacando. A Espanha também. Em uma arrancada
verde-amarela, Piqué derrubou Neymar, seu futuro colega de Barcelona, e
foi expulso. Estava aberto o caminho para mais gols.
Mas eles não saíram. O Brasil teve outras chances, inclusive em
contra-ataques com quatro jogadores contra dois. Falhou em um detalhe ou
outro – um conforto permitido àqueles que têm a vitória nas mãos. A
Espanha, com Villa em campo, teve honradez para sempre buscar seu gol,
como se estivesse 0 a 0.
Inútil. Era a noite da queda dos grandes campeões mundiais, dos grandes
bicampeões europeus. Acima de tudo, era a noite do retorno do maior
campeão.
Jogadores festejam em campo após o apito final (Foto: Alexandre Durão / Globoesporte.com)
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