sexta-feira, 22 de março de 2013

Riad troca a badalação da Zona Sul carioca pela sua 'capital do subúrbio'


Central do Rio de Janeiro, que morou cinco anos na Itália, tentou se adpatar a Ipanema, mas voltou a Brás de Pina após pagar R$ 60 por café da manhã

Por Marcello Pires Rio de Janeiro



Quando desembolsou R$ 60 para tomar um simples café da manhã em Ipanema, com direito a pão francês, mortadela, queijo, duas caixinhas de suco e um iogurte, Riad viu que a Zona Sul não era mesmo sua praia. Nascido e criado em Brás de Pina, o central de 2,05m, que deu suas primeiras cortadas nas categorias de base do Flamengo, antes de rodar o sul do país e conquistar a Itália em cinco temporadas com a camisa do Trentino, decidiu voltar para casa em 2011. Literalmente. Bem-sucedido financeiramente e com o status de brasileiro mais vitorioso do vôlei europeu - com títulos de três Ligas dos Campeões e dois Mundiais Interclubes -  era previsível que Riad escolhesse o Leblon ou a Barra da Tijuca - bairros preferidos de 99% das estrelas do futebol -, para morar, ao trocar o time italiano pela equipe do Rio de Janeiro. Os 11 anos longe de casa e a vida simples desse suburbano assumido, no entanto, deixaram saudades. Caseiro, religioso e averso ao glamour do mundo das celebridades, o filho de seu José Garcia e dona Maria Aparecida preferiu trocar a badalação e o agito da Zona Sul pela mordomia e o conforto da casa dos pais, no bairro onde nasceu e foi criado. A capital do subúrbio carioca, como ele orgulhosamente não se cansa de repetir.


- Pagar R$ 60 por um café da manhã não dá, né! Foi a gota d´água. A verdade é que sou muito caseiro e não me adaptei à Zona Sul. Como passei anos longe, e minha família é muito unida, decidi voltar para casa dos meu pais e morar no bairro onde cresci. Aqui tenho paz, a família por perto e café da manhã a semana inteira pelos mesmos R$ 60 (risos) - afirmou o jogador, uma das armas do Rio de Janeiro no primeiro jogo contra o Minas, neste sábado, pelas semifinais da Superliga masculina, no Maracanãzinho.

A decisão de voltar para casa havia sido tomada assim que Riad acertou com Rio de Janeiro, mas a "pressão" dos companheiros Thiago Sens e Rafael Koettker, somada à comodidade de morar perto dos locais de treino - o AABB, da Lagoa, e o Maracanãzinho, na Tijuca - e de evitar o trânsito rotineiro da Avenida Brasil, fez o central dar uma chance ao luxo da Zona Sul.

Riad rio de janeiro volei (Foto: Marcello Pires)Riad trocou a badalação e o glamour da Zona Sul pelo conforto e a mordomia da casa mãe, Maria Aparecida, localizada no bairro onde o jogador nasceu e foi criado (Foto: Marcello Pires)

Riad chegou a ganhar uma chave dos "novos familiares" e foi morar em Ipanema com os colegas de time, até que o tal café da manhã de R$ 60 caiu como uma bomba no bolso do jogador e ligou o sinal de alerta. Nem os cinco meses de aluguel pagos com antecedência aos parceiros fizeram o jogador repensar sua decisão e mudar de ideia.  Mas essas não foram as únicas razões que o levaram de volta a Brás de Pina. No bairro onde nasceu e foi criado, o central do Rio de Janeiro está sempre perto dos lugares e das lembranças que marcaram sua infância e adolescência. A Paróquia Santa Edwiges foi a primeira parada no passeio de quase duas horas pelas silenciosas e tranquilas ruas do bairro, guiada pelo religioso jogador, interrompida apenas pelo latido de um cachorro.

- Pode ter cachorro, mas não tem engarrafamento nem buzina em lugar nenhum (risos). Essa paz é o ganho que tenho morando aqui. Aqui fui batizado, fiz minha primeira comunhão, estou me preparando para fazer o crisma e quem sabe não será o local que vou me casar. Vai depender da noiva. Já existe uma pessoa, mas estamos conversando e colocando algumas coisas nos seus devidos lugares - revelou Riad.
Riad não chega a ser uma celebridade em Brás de Pina. As aparições do jogador pelas ruas do bairro são tão raras, que alguns vizinhos acham que ele ainda atua no vôlei italiano. De short, camiseta e chinelos, o jogador foi abordado poucas vezes no trajeto até a Praça Anhangá, que incluiu uma passadinha na sua padaria favorita, para comprar um saco de pães pela bagatela de R$ 2,70.

Riad mosaico rio de janeiro volei 2 (Foto: Marcello Pires)Durante o passeio pelas ruas de Brás de Pina, Riad comprou pão na padaria favorita, visitou a Paróquia Santa Edwiges e lembrou as primeiras cortadas na Praça Anhangá (Foto: Marcello Pires)

Saudoso no meio da quadra de cimento onde tudo começou, Riad lembra que os primeiros toques numa bola de vôlei não foram nada promissores. Assim como seu desempenho nos rachas de futebol, que renderam ao centroavante de 2,05m uma coleção de topadas nos dedões dos dois pés.

- Aqui, dei meus primeiros toques na bola e joguei muita pelada descalço. A quadra hoje é de cimento, bem tratada, mas na minha época era maior "rala-coco" mesmo. Perdi a conta de quantas vezes me ralei e arrembentei os dedos aqui. A gente pegava dois postes, uma rede e montava uma quadra de vôlei improvisada. Eu era o responsável por guardar e cuidar dos postes, mas nunca era escolhido e ficava sempre fora - lembrou o jogador de 31 anos, batizado com o nome da capital da Arábia Saudita por vontade do pai, após assistir uma matéria sobre a cidade do Oriente Médio.

A gente pegava dois postes, uma rede e montava uma quadra de vôlei improvisada. Eu era o responsável por guardar e cuidar dos postes, mas nunca era escolhido e ficava sempre de fora"
Riad

O simpático e extrovertido central do Rio de Janeiro, que prefere o frio à praia e se considera um carioca "falso", só fica sem jeito na hora de mostrar a famosa casa dos pais. Em meio a uma obra que já dura mais de um ano, o central revela que a lentidão no retoque final da residência da família Garcia já chegou nos corredores da Zona Sul e virou motivo de chacota.
- Eu prometi um churrasco para o pessoal do time quando a casa ficasse pronta, mas está demorando tanto que eles acham que a obra é uma desculpa para não trazê-los aqui (risos) - brincou Riad.
O capitão e levantador Bruninho confirma a teoria do amigo e deixa claro que é um dos que mais pegam no pé do camisa 15.

- Está em obra mesmo (risos)?. Ele está devendo esse churrasco desde a temporada passada e até agora nada. Essa obra não acaba. Como ele nunca vem para Zona Sul para sair com a gente, estamos loucos para conhecer a casa dele e saber o que tem de tão bom em Brás de Pina. Apesar de ter saído cedo do Brasil e não ser muito conhecido aqui, ele é um jogador que ganhou tudo na Europa e que tem feito uma Superliga maravilhosa - elogiou Bruninho.

Um dos pilares do bloqueio mais eficiente da Superliga, Riad só deixa a vaidade aparecer na hora de enumerar seus vizinhos famosos:
- Vila Cruzeiro do Adriano, Vila da Penha do Romário e Brás de Pina, do Riad, é claro. A capital do subúrbio (risos).

volei rjx rio de janeiro (Foto: André Galindo)Ao lado de Lucão, Riad ajudou o Rio a liderar as estatísticas de bloqueio da Superliga (Foto: André Galindo)

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