quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Volta a Conselheiro Galvão: atletas na rua, problemas e corneta para Dorival


campeonato carioca

TAÇA GUANABARA
PRIMEIRO TURNO

Após oito anos, Fla retorna ao subúrbio para encarar Madureira e encontra situações conhecidas de outros tempos: trânsito ruim, entradas apertadas...

Por Janir Júnior Rio de Janeiro

Na tarde de sol desta quarta-feira, em pleno horário comercial, o Flamengo voltou a jogar no estádio da Rua Conselheiro Galvão depois de oito anos. O dono da carrocinha Rei da Pipoca de Madureira, com os escudos de ambos os times estampados, estacionou em frente à sede e contabilizou lucros. O vendedor de pipas do Mercadão inflacionou o preço. Uma família flamenguista veio de Petrópolis para torcer para o... Madureira. Cambistas, trânsito parado, problemas de acesso, jogadores desembarcando no meio da rua para entrar no estádio, reclamação de torcedores. Do lado de dentro, Eduardo Bandeira de Mello teve uma nova missão presidencial com pequenos torcedores do Tricolor Suburbano. E as “cornetas” soaram bem ao pé do ouvido de Dorival Júnior.

Galeria futebol Madureira Flamengo (Foto: Editoria de Arte / Globoesporte.com)
Horas antes da partida, já com ingressos esgotados, os cambistas agiam livremente próximo à sede do Madureira. Torcedores reclamavam dos preços das entradas no Carioca, e também do horário da partida. As pequenas portas de entradas dificultavam o acesso ao interior do estádio. Nas ruas próximas, trânsito embolado.

- Estou de férias no colégio, mas tive que “matar” o cursinho para estar no jogo – revelou um torcedor, com receio de se identificar para não ser descoberto pela mãe.

Flamengo x Madureira rua guarda trânsito (Foto: Janir Junior)Trânsito no entorno do estádio ficou complicado devido ao jogo (Foto: Janir Junior)

César desceu a serra de Petrópolis com os filhos João, 11 anos, e José, 6. Comerciante, o pai costuma fazer compras no Mercadão de Madureira. E sempre dá uma passada no estádio para acompanhar jogos e treinos das categorias de base do Tricolor Suburbano. O carinho pelo clube cresceu, ele comprou camisas para toda família. E foi o retrato de uma miscelânea clubística.

- Eu e José somos flamenguistas. João é vascaíno. Mas temos muito carinho pelo Madureira. Então, viemos torcer pelo tricolor, mas também para tentar ver os jogadores do Flamengo de perto – afirmou César.

Pai e filhos conseguiram o objetivo. Pouco depois de 15h, chegou o ônibus do Madureira. Os jogadores desceram no meio da rua, foram cumprimentados por alguns conhecidos e familiares.

Em seguida, foi a vez do Urubuzão, depois de ficar preso no trânsito, encostar do lado de fora do estádio, para delírio de centenas de torcedores que não se furtaram em tomar a rua para acompanhar seus ídolos de perto.
Enquanto jogadores desciam e entravam a pé em meio a um corredor formado pela torcida, alguns membros da comissão técnica driblavam carros para conseguir entrar na sede do Madureira.

- Monte de gente sem ter o que fazer – esbravejou uma senhora que passava pelo tumulto para fazer compras no Mercadão de Madureira.
Arquibancada improvisada e a missão presidencial
Com o apito do árbitro, torcedores - muitos vestidos com uniformes de trabalho - proliferaram em uma parte do terraço do Mercadão de Madureira, que trazia na parede a sugestiva inscrição: “torcendo junto com você”.

Do lado oposto, um solitário senhor sentado sobre uma caixa d’água observava toda movimentação.

A acanhada tribuna de imprensa não foi suficiente para abrigar a maior parte de jornalistas que acompanhou a partida.

torcida na laje no jogo do Flamengo x Madureira (Foto: Jorge William / Ag. O Globo)Jogo é visto do telhado de construções vizinhas. No fim, placar marca 1 a 1 (Foto: Jorge William / Ag. O Globo)

O staff da diretoria rubro-negra se acomodou em uma parte da tribuna. Presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello esbanjou simpatia e seu lado torcedor. Com a bola rolando, comemorou o gol de Ibson, levou as mãos à cabeça, lamentou e conversou com o vice de futebol, Wallim Vasconcellos, e o diretor Paulo Pelaipe, que estavam ao seu lado.

No intervalo, a missão presidencial foi outra. Um grupo de pequenos torcedores mirins do Madureira se aproximou para tirar foto com Bandeira. Como a tribuna era em uma parte mais alta, o presidente pegou uma a uma no colo, levantou até uma bancada e realizou o desejo de todas.

Corneta ao pé do ouvido de Dorival
Durante o jogo, foram retiradas três pipas que caíram no gramado. Enquanto isso, parte da torcida “passava o cerol” em Dorival Júnior. Com o banco de reservas colado à arquibancada, o técnico ouviu pedidos por jogadores, xingamentos e reclamações a todo o instante do técnico que existe em cada torcedor.

Eduardo Bandeira tietado no jogo do Flamengo (Foto: Janir Júnior)O presidente Bandeira de Mello posa junto a pequeno torcedor do Madureira (Foto: Janir Júnior)

No fim, a coletiva de imprensa teve que ser improvisada no banco de reservas do time visitante. Foi a senha para mais corneta ao pé do ouvido do treinador.
- Dodô, e o Love, hein?! – questionou um torcedor, abusando da intimidade com Dorival.
Pouco depois, cobrança:

- Esse time tem que jogar bola.

Também teve apoio:
- Dorival, acredito no seu trabalho.

O treinador garante não ter se incomodado.
- Tenho 30 anos de futebol, se fosse me incomodar... Eles falam para botar esse, tirar aquele... Você bota todo mundo e tira todo mundo em 90 minutos.

Jogadores Flamengo Madureira (Foto: Janir Junior)Dorival chega a Conselheiro Galvão: no fim, técnico é alvo da corneta da torcida (Foto: Janir Junior)

Com o fim dos trabalhos, o placar manual indicava que o Madureira havia feito um gol, assim como o visitante. Conselheiro Galvão, por sinal, além de não ter placar eletrônico também não possui refletores. Por isso, o jogo teve de ser disputado à tarde.

Aos poucos, os torcedores rubro-negros deixaram o estádio. Do lado de fora, o Rei da Pipoca de Madureira continuava com as vendas a pleno vapor, numa tarde de folclore do futebol e problemas que não aconteciam há oito anos em Conselheiro Galvão.

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