quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Após drama, Marcelo Mattos renova esperanças: 'Sairei dessa mais forte'


Operado há oito dias, volante revela que estudou caso antes da decisão e ouve 'cobranças' da família para sair logo de casa: 'Nem eu me aguento'

Por André Casado Rio de Janeiro

Para um jogador como Marcelo Mattos, que poderia ter a palavra competitivo no sobrenome, ficar fora de ação é um momento ruim. Ter uma lesão que se alonga bem mais do que o esperado e que o leva à mesa de cirurgia, então, já pode ser considerado um drama. Desde o dia 9 de maio, o volante não defende o Botafogo. Primeiro, era um edema na coxa direita, que, de certa forma, se alastrou para o púbis. A dor não passou, o venceu em três tentativas de treinar com bola e se transformou em um caso de difícil solução para o departamento médico alvinegro. Tanto que, preocupado com o rumo de sua temporada, ele estudou o problema e se "consultou" até com outros companheiros.

- Li muito na internet, procurei saber detalhes do caso do Kleber Gladiador, liguei para o Wellington Paulista... todos tiveram a mesma lesão e operaram. Deu certo, resolveu. Até o Seedorf ajudou, se interessou, ofereceu amigos para eu falar. Formei minha opinião junto ao pessoal do Botafogo e chegamos à conclusão de que o tratamento poderia não resolver. Era a última opção, mas preferi e foi melhor operar mesmo - conta Marcelo Mattos, em entrevista concedida em sua casa três dias após a cirurgia - hoje, o procedimento completa oito dias.

Marcelo Mattos do Botafogo com a família (Foto: André Casado / Globoesporte.com)Marcelo Mattos se apoia na família para superar dificuldades (Foto: André Casado / Globoesporte.com)

- Ia de 10% de dor até 90%, às vezes, o que me preocupava. Até para pôr uma calça era difícil. Só tinha sofrido com uma fascite plantar (sola do pé) e com as duas panturrilhas, que precisei fazer uma pequena operação - lembra o jogador, de 28 anos, que ficou um tempo parado no clube carioca quando, preso ao Panathinaikos, demorou mais de um mês para acertar a renovação de contrato, no meio do ano passado. O vínculo atual vai até o fim de 2016.

O curioso é que o envolvimento do agora camisa 30 do Glorioso - na numeração definitiva, a 5 foi para Jadson - com traumas e analgésicos vai muito além de sua carreira. Segundo ele, ao terminar o ensino médio, no interior de São Paulo, houve um pacto com os amigos para cursar fisioterapia, caso o futebol não decolasse. Alguns seguiram. Mattos, não. A compreensão científica dos termos, no entanto, ficou para sempre e impressiona
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Há alguns dias caiu o salário na conta, e eu não estou no dia a dia para ajudar. Queria trabalhar, me incomoda. Dá vontade de pedir para receber só quando puder jogar, retribuir ao Botafogo"
Marcelo Mattos

- Meu adutor está inutilizado. Foi cortado, o que se chama tetonomia, e separado dos tendões do púbis. Se alguém quiser, está sem serventia (risos)... Não precisei de raspagem. É um procedimento como se faz com um contrafilé. Gosto do assunto, até trouxe cama fisioterápica da Grécia e outras coisas, mas só para guardar. Não pretendo me especializar depois, não, vão ficar só as pequenas lesões que o futebol deixa - afirmou, no costumeiro tom sereno.
Humor varia e 'perturba' família

O lado positivo dessa dificuldade seria a nova rotina: estar com os filhos, com a esposa. Neste cenário, não. Como se cobra em demasia, Marcelo Mattos não tem sido tão bem quisto em casa em tempo integral. Há um coro para que ele volte aos campos o mais rapidamente possível por um conjunto de razões. A previsão atual é de cerca de 45 dias.

- Peço pelo amor de Deus para ele voltar logo, porque o Marcelo se cobra demais. Adoro ele em casa comigo, com os filhos. Mas vindo do treino, cansado, fica mais bem-humorado. Assim, não é fácil. Ele vai dar um jeitinho para resolver isso logo - diverte-se Maria Leide, mãe de Maria Laura - enteada do marido -, de 12 anos, e Marcelo Antônio, de cinco.
Marcelo Mattos do Botafogo com a família (Foto: André Casado / Globoesporte.com)Mattos vê novos horizontes nos próximos meses
(Foto: André Casado / Globoesporte.com)

- Nem eu me aguento, meu humor varia muito. Um dia você está bem, no outro chega estressado porque já dói de novo. Há alguns dias caiu o salário na conta, e eu não estou no dia a dia para ajudar. Queria trabalhar, me incomoda. Dá vontade de receber só quando puder jogar, retribuir ao Botafogo. Márcio Azevedo fica me cobrando na brincadeira, eu já não aguentava mais: "E aí, vai jogar sábado, Marcelo?". Cara chato (risos) - conta.

O filho caçula faz o papel de fisioterapeuta no confortável apartamento na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Quando não está com as mãos no controle do videogame, faz questão de esticar e dobrar a perna esquerda do pai, ainda sensível, em meio às risadas e à agitação.

O volante acredita que a condição dos gramados brasileiros é a maior vilã para lesões deste tipo, ligadas ao impacto, mas não crê que esse obstáculo o impedirá de se superar. Se não bastassem as dores físicas, a mãe de Mattos faleceu em junho.

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- Agora é só pensar em coisa nova. Foi tudo junto, mas não podia parar, tenho uma família para cuidar. Meu pai, meu guerrerinho que ficou... É um período de luta, mas agora vai vir a vitória. Estou saindo dessa bem mais forte. Vou fazer meu trabalhinho até meus 35, 36 anos. Tinha um treinador, que eu nem falo o nome, que não queria me botar num início de temporada na Grécia. Eu dizia para mim: "ah, eu vou jogar". Não deu outra. No primeiro jogo da Champions League, estava enfrentando o Inter de Milão. Sempre com dignidade - ensinou.

Marcelo Mattos do Botafogo com a família (Foto: André Casado / Globoesporte.com)Pequeno Marcelo Antônio ajuda no alongamento do pai (Foto: André Casado / Globoesporte.com)


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