A CRÔNICA
por
Lucas Rizzatti
Enquanto o Grêmio ficou no meio do caminho entre o passado e o futuro, o
Atlético-MG se decidiu pela segunda opção. Alheio às vaias da torcida
ao eterno desafeto Ronaldinho e à expectativa pela estreia de Zé Roberto
e promoção do goleiro Marcelo Grohe, o time de Cuca apostou no talento
de Bernard, 1m62cm e apenas 19 anos. Saiu de seus pés a jogada decisiva
da partida - chapéu duplo na zaga que resultou no gol de Jô. O 1 a 0 na
noite deste domingo dá aos mineiros a liderança do Brasileirão, com 16
pontos, batendo o Vasco no saldo de gols.
A derrota em casa custa caro ao Grêmio, que deixa a zona de classificação à Libertadores e se aloja na quinta colocação, com 12 pontos. Foi o primeiro revés do time de Vanderlei Luxemburgo no Olímpico neste Brasileirão, em quatro partidas. Até então, sequer havia sofrido gols em Porto Alegre.
Centro das atenções mesmo antes de a bola rolar, Ronaldinho seguiu alvo dos repórteres ao fim do jogo. Antes, porém, foi saudado por todos os companheiros no centro do campo. Parecia conquista de título. Poderia soar como provocação aos gremistas, o que ficou ainda mais evidenciado quando Ronaldinho fez menção em ir em direção ao vestiário do clube gaúcho. Depois, deu meia volta, recebeu mais uma onda de vaias e xingamentos. Aos microfones, declarou:
- Sempre é bom vencer aqui. Da outra vez (pelo Flamengo), perdi. Agora ganhei.
Ao Grêmio, coube reclamar da arbitragem de Paulo Cesar de Oliveira, que foi cercado pelos jogadores após a partida.
- Ele é muito arrogante - atestou o atacante Kleber.
Tanto Grêmio quanto Atlético-MG têm semana livre de treinos, seja para juntar os cacos da derrota ou saborear a nova liderança. O clube gaúcho enfrenta, no próximo domingo, às 16h, o Santos, na Vila Belmiro. Nos mesmos dia e horário, o Galo defende o topo da tabela contra a Portuguesa, no Independência.
Ferida nem perto de fechar
A torcida apenas blefou. Adotou uma tática passivo-agressiva e não hostilizou Ronaldinho nos arredores do Olímpico, com gritos, faixas e cartazes, como fizera aos montes no último 30 de outubro, quando o Grêmio derrotou o Flamengo por 4 a 2. Optou por fazê-lo apenas no campo. Assim que pisou na grama em que nasceu para o futebol, às 18h26m, foi soterrado de vaias. Não havia um, dentre os 34.550 gremistas, que se furtara de apupá-lo na provável última vez do jogador no estádio, que será entregue a construtora OAS em março, devido à parceria na construção da Arena.
O arsenal azul não se baseava apenas na voz. Primeiro, a torcida tentou
emplacar uma grande faixa na arquibancada inferior. Como os dizeres
eram ofensivos à mãe do jogador, Miguelina, a Brigada Militar a retirou
de pronto. A cada escanteio que Ronaldinho ia cobrar, brotavam as
famosas faixas brancas com a inscrição “pilantra”.
No entanto, o camisa 49 estava pouco criativo. Foi tocar pela primeira vez na bola apenas aos 11 minutos. Tudo bem para o Grêmio? Nem tanto. A equipe de Vanderlei Luxemburgo, que tinha a estreia de Zé Roberto como a principal atração, até começou melhor, com mais volume. Mas fustigava pouco o gol de Giovanni. O novo camisa 10 fazia jus às suas funções. Dos pés de Zé, saíram as bolas mais redondas e conscientes no ataque tricolor.
Bernard "encarna" fase áurea de R49
Zé estava bem, mas não foi genial. Tampouco essa honra sobrou para seu colega na Copa de 2006. Coube a Bernard, com seus 1m62m, ofuscar as principais atrações. Na antiga casa de R49, o baixinho viveu seus segundos de craque. Com dois chapéusconsecutivos, lembrou Ronaldinho em seus áureos tempos. Aquele garoto leve que, em 1999, havia feito mesmo drible e no mesmo estádio, sobre Dunga no Gre-Nal decisivo do Gauchão. Ou ainda o mirrado reserva da Seleção, que entrou no segundo tempo para desmembrar a defesa da Venezuela na Copa América, sob o comando de Luxa.
Agora, a vítima foi a zaga do Grêmio deste mesmo Luxa. Com a diferença que Bernard não finalizou. Criticado pela torcida do Galo por pecar nesse fundamento, o meia ofereceu a bola a Jô. O ex-colorado completou, de primeira. Em sua primeira partida como titular após o adeus de Victor, Marcelo Grohe precisou buscar a bola na rede já aos 25 minutos da etapa inicial – o primeiro gol sofrido pelo Grêmio no Olímpico neste Brasileirão.
O iminente revés em casa, diante do maior público do Olímpico neste
Brasileiro, pouco mudou a atuação do Grêmio. O time assustou apenas duas
vezes em finalizações aéreas de Marcelo Moreno. Ambas pararam em
Giovanni. O lance de destaque demorou. Aos 42 minutos, Kleber também se
reservou o direito de ter lampejos, passou por três atleticanos na área e
cruzou para trás. Zé Roberto completou, mas o pé de Leonardo Silva
impediu o empate.
Bernard pode ter sido genial, mas Ronaldinho é Ronaldinho. De longe, foi o jogador mais assediado pelos repórteres. Blindado por dezenas de microfones, recebeu a seguinte pergunta, encharcada de ironia, na saída para o vestiário:
- E esse carinho?
- Carinho? Só você está vendo carinho aqui - respondeu, com seu sorriso de praxe.
Grêmio implode volantes, mas não dá certo
Para o segundo tempo, Luxemburgo sacou Edilson e Léo Gago para as entradas de Tony e Rondinelly. A etapa final surgiu promissora. Aos cinco minutos, Zé Roberto arriscou de fora da área, com perigo. Kleber, aos dez, invadiu a área e finalizou nas pernas de Giovanni.
Mas o Grêmio pouco evoluiu a partir de então. E o Atlético-MG seguiu assustando. Ronaldinho cobrou falta com veneno, mas Marcelo Grohe conseguiu evitar o 2 a 0. Aos 22, num contragolpe puxado pelo camisa 49, Jô ficou cara a cara com Grohe. O goleiro novamente defendeu, agora com os pés, e teve seu nome entoado nas arquibancadas.
Nervosa, a torcida cobrava dos jogadores do Grêmio até casos de fair play. Tanto que, pouco antes da chance de ouro despediçada por Jô, ela fez pressão para que o time não colocasse a bola para fora. O zagueiro Leonardo Silva acabou levantando, dispensando o atendimento médico.
Pico é expulso em seu retorno
Aos 29 minutos, Luxemburgo se lançou completamente ao ataque. Tirou Fernando, que levou seu quinto cartão amarelo em seis jogos, e pôs em campo André Lima. Assim, o Grêmio ficou com apenas um volante (Souza), dois meias (Zé Roberto e Rondinelly) e três atacantes (além de André Lima, Kleber e Moreno).
Não faltou disposição e sobrou até destempero emocional. Mesmo sem ter levado amarelo, o reestreante Anderson Pico, oriundo da base e com contrato renovado, foi expulso aos 37 minutos por atingir o adversário no rosto.
O tempo passou e confirmou que a inspiração no Olímpico estava toda depositada em apenas um jogador. E foi congelada aos 25 minutos do primeiro. Esqueçam o "novato" Zé Roberto ou o odiado Ronaldinho. O duplo chapéu de Bernard é a melhor lembrança da noite que passado e futuro disputaram a atenção. Melhor para o segundo.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/jogo/brasileirao2012/01-07-2012/gremio-atletico-mg.html
A derrota em casa custa caro ao Grêmio, que deixa a zona de classificação à Libertadores e se aloja na quinta colocação, com 12 pontos. Foi o primeiro revés do time de Vanderlei Luxemburgo no Olímpico neste Brasileirão, em quatro partidas. Até então, sequer havia sofrido gols em Porto Alegre.
Centro das atenções mesmo antes de a bola rolar, Ronaldinho seguiu alvo dos repórteres ao fim do jogo. Antes, porém, foi saudado por todos os companheiros no centro do campo. Parecia conquista de título. Poderia soar como provocação aos gremistas, o que ficou ainda mais evidenciado quando Ronaldinho fez menção em ir em direção ao vestiário do clube gaúcho. Depois, deu meia volta, recebeu mais uma onda de vaias e xingamentos. Aos microfones, declarou:
- Sempre é bom vencer aqui. Da outra vez (pelo Flamengo), perdi. Agora ganhei.
Ao Grêmio, coube reclamar da arbitragem de Paulo Cesar de Oliveira, que foi cercado pelos jogadores após a partida.
- Ele é muito arrogante - atestou o atacante Kleber.
Tanto Grêmio quanto Atlético-MG têm semana livre de treinos, seja para juntar os cacos da derrota ou saborear a nova liderança. O clube gaúcho enfrenta, no próximo domingo, às 16h, o Santos, na Vila Belmiro. Nos mesmos dia e horário, o Galo defende o topo da tabela contra a Portuguesa, no Independência.
Ferida nem perto de fechar
A torcida apenas blefou. Adotou uma tática passivo-agressiva e não hostilizou Ronaldinho nos arredores do Olímpico, com gritos, faixas e cartazes, como fizera aos montes no último 30 de outubro, quando o Grêmio derrotou o Flamengo por 4 a 2. Optou por fazê-lo apenas no campo. Assim que pisou na grama em que nasceu para o futebol, às 18h26m, foi soterrado de vaias. Não havia um, dentre os 34.550 gremistas, que se furtara de apupá-lo na provável última vez do jogador no estádio, que será entregue a construtora OAS em março, devido à parceria na construção da Arena.
Ronaldinho não foi poupado das vaias no Olímpico (Foto: Vinícius Costa / Agência Estado)
No entanto, o camisa 49 estava pouco criativo. Foi tocar pela primeira vez na bola apenas aos 11 minutos. Tudo bem para o Grêmio? Nem tanto. A equipe de Vanderlei Luxemburgo, que tinha a estreia de Zé Roberto como a principal atração, até começou melhor, com mais volume. Mas fustigava pouco o gol de Giovanni. O novo camisa 10 fazia jus às suas funções. Dos pés de Zé, saíram as bolas mais redondas e conscientes no ataque tricolor.
Bernard "encarna" fase áurea de R49
Zé estava bem, mas não foi genial. Tampouco essa honra sobrou para seu colega na Copa de 2006. Coube a Bernard, com seus 1m62m, ofuscar as principais atrações. Na antiga casa de R49, o baixinho viveu seus segundos de craque. Com dois chapéusconsecutivos, lembrou Ronaldinho em seus áureos tempos. Aquele garoto leve que, em 1999, havia feito mesmo drible e no mesmo estádio, sobre Dunga no Gre-Nal decisivo do Gauchão. Ou ainda o mirrado reserva da Seleção, que entrou no segundo tempo para desmembrar a defesa da Venezuela na Copa América, sob o comando de Luxa.
Agora, a vítima foi a zaga do Grêmio deste mesmo Luxa. Com a diferença que Bernard não finalizou. Criticado pela torcida do Galo por pecar nesse fundamento, o meia ofereceu a bola a Jô. O ex-colorado completou, de primeira. Em sua primeira partida como titular após o adeus de Victor, Marcelo Grohe precisou buscar a bola na rede já aos 25 minutos da etapa inicial – o primeiro gol sofrido pelo Grêmio no Olímpico neste Brasileirão.
Zé Roberto estreou contra o Atlético-MG
(Foto: Lucas Uebel/Divulgação, Grêmio)
(Foto: Lucas Uebel/Divulgação, Grêmio)
Bernard pode ter sido genial, mas Ronaldinho é Ronaldinho. De longe, foi o jogador mais assediado pelos repórteres. Blindado por dezenas de microfones, recebeu a seguinte pergunta, encharcada de ironia, na saída para o vestiário:
- E esse carinho?
- Carinho? Só você está vendo carinho aqui - respondeu, com seu sorriso de praxe.
Grêmio implode volantes, mas não dá certo
Para o segundo tempo, Luxemburgo sacou Edilson e Léo Gago para as entradas de Tony e Rondinelly. A etapa final surgiu promissora. Aos cinco minutos, Zé Roberto arriscou de fora da área, com perigo. Kleber, aos dez, invadiu a área e finalizou nas pernas de Giovanni.
Mas o Grêmio pouco evoluiu a partir de então. E o Atlético-MG seguiu assustando. Ronaldinho cobrou falta com veneno, mas Marcelo Grohe conseguiu evitar o 2 a 0. Aos 22, num contragolpe puxado pelo camisa 49, Jô ficou cara a cara com Grohe. O goleiro novamente defendeu, agora com os pés, e teve seu nome entoado nas arquibancadas.
Nervosa, a torcida cobrava dos jogadores do Grêmio até casos de fair play. Tanto que, pouco antes da chance de ouro despediçada por Jô, ela fez pressão para que o time não colocasse a bola para fora. O zagueiro Leonardo Silva acabou levantando, dispensando o atendimento médico.
Pico é expulso em seu retorno
Aos 29 minutos, Luxemburgo se lançou completamente ao ataque. Tirou Fernando, que levou seu quinto cartão amarelo em seis jogos, e pôs em campo André Lima. Assim, o Grêmio ficou com apenas um volante (Souza), dois meias (Zé Roberto e Rondinelly) e três atacantes (além de André Lima, Kleber e Moreno).
Não faltou disposição e sobrou até destempero emocional. Mesmo sem ter levado amarelo, o reestreante Anderson Pico, oriundo da base e com contrato renovado, foi expulso aos 37 minutos por atingir o adversário no rosto.
O tempo passou e confirmou que a inspiração no Olímpico estava toda depositada em apenas um jogador. E foi congelada aos 25 minutos do primeiro. Esqueçam o "novato" Zé Roberto ou o odiado Ronaldinho. O duplo chapéu de Bernard é a melhor lembrança da noite que passado e futuro disputaram a atenção. Melhor para o segundo.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/jogo/brasileirao2012/01-07-2012/gremio-atletico-mg.html
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