terça-feira, 1 de novembro de 2011

A melhor da história


Caroline Wozniacki terminará 2011 como número 1 do mundo. Será a segunda vez na carreira que a dinamarquesa encerrará uma temporada no topo da lista. Curiosamente, duas é também o número de vezes que a WTA teve como número 1 no fim de ano uma tal de Serena Williams. Não estou culpando nem criticando ninguém. É só, como já disse, uma curiosidade. Quer dizer, talvez seja culpa de Serena, mas isso é assunto para outra discussão. Não é o ponto deste post.

O objetivo aqui é fazer um levantamento de números e pequenos fatos que, pelo menos para mim, mostram que Caroline Wozniacki é a melhor número-1-sem-Slam da história. É bem verdade que ela não tem muitas concorrentes. Apenas quatro outras atletas atingiram o topo sem um Major no currículo (Clijsters, Mauresmo, Jankovic e Safina). É fato, porém, que Wozniacki lida com a posição de forma muito melhor do que suas antecessoras (especialmente as últimas duas).

Antes de entrar nos números propriamente ditos, deixo logo claro aos reclamões que não é uma comparação de carreiras. Ninguém é louco de colocar na mesa os quatro Slams de Clijsters contra “Roma e Madri” de Safina ou Copenhague e Bruxelas de Wozniacki. Os números a que me refiro são das tenistas enquanto líderes-sem-Slam. Sendo bem claro, aqui não entram na conta os resultados de Clijsters e Mauresmo depois que estas venceram seus Majors. A discussão que levanto é de líderes-sem-Slam, sendo o sem-Slam condição essencial.

Kim Clijsters foi a primeira tenista a chegar ao topo sem vencer um Slam. A belga assumiu a ponta em 11 de agosto de 2003 (seu Slam só viria em 2005) e ficou lá até 11 de outubro do mesmo ano. Neste período, Kim acumulou 15 vitórias e quatro derrotas. Seus melhores resultados foram um título em Filderstadt e um vice no US Open. Números bem modestos – especialmente quando comparados com o que ela viria a alcançar mais tarde na carreira. Mesmo assim, é para ressaltar que o título em Filderstadt veio com vitórias sobre Hantuchova, Mauresmo, Pierce e Henin. E seu US Open daquele ano terminou com derrota para Henin.

Amélie Mauresmo foi a segunda a ocupar o cargo de bode expiatório da imprensa e dos fãs. Durou de 13 de setembro de 2004 a 18 de outubro do mesmo ano. Foram só cinco semanas, período no qual ela disputou apenas um torneio. Jogou Filderstadt e foi vice. Somou três vitórias (Patty Schnyder, Lisa Raymond e Svetlana Kuznetsova) e uma derrota (Lindsay Davenport).

Quase quatro anos depois, foi a vez de Jelena “I had many injuries” Jankovic, a sérvia que vivia reclamando de dores, mas jogava mais torneios do que todo mundo. JJ ficou no topo por 18 semanas. Chegou lá em 11 de agosto de 2008, mas perdeu a liderança na semana seguinte. Só voltou em 6 de outubro. Dessa vez, manteve-se até o começo de 2009. Como número 1 do mundo, ou melhor, dona da posição-que-não-deve-ser-pronunciada (PQNDSP – aos novatos,
recomendo que leiam posts de 2008 e 2009 para entender a sigla), a sérvia anotou 12 vitórias e cinco derrotas. No período, ela foi campeã em Moscou, onde derrotou Dushevina, Pennetta, Dementieva e Zvonareva. Assim como Clijsters, Jankovic disputou um Grand Slam como líder da WTA. Pouco fez.  Em uma chave fraca, caiu nas oitavas do Australian Open de 2009. Venceu Meusburger, Flipkens e Sugiyama. Tombou diante de Marion Bartoli e logo depois perdeu a ponta para não mais recuperar.
Dinara Safina foi outra dona da PQNDSP. Ela passou 26 semanas como líder do ranking – mais do que as três anteriores. Chegou em 20 de abril de 2009, saiu em 11 de outubro. Voltou em 26 de outubro e ficou no topo até 1º de novembro. Ao todo, foram 41 vitórias e 11 derrotas e três títulos. “Roma e Madri”, como diria Serena Williams, e Portoroz, onde derrotou Majeric, Pervak, Camerin, Brianti, Errani. E ninguém me pergunte por que uma número 1 do mundo disputaria um torneio desse nível.
A irmã de Safin não lidou bem com a pressão, mas foi, até então, a número-1-sem-Slam que teve mais sucesso em Slams. Foi vice em Roland Garros/2009 e fez uma semi em Wimbledon. As derrotas nestes torneios, no entanto, machucaram. Primeiro porque ela era favorita em Paris e jogou muito, muito mal contra Kuznetsova, que ficou com o título. Segundo porque Venus fez de Safina um capacho. Doeu ver aquele “6/0, 6/1″. Sorte de Safina que durou pouco. O público do All England Club ficou constrangido pela russa. Por fim, no US Open daquele ano, Safina caiu na terceira rodada, diante de Petra Kvitova.

Chegamos, então, a Caroline Wozniacki, a moça que mais tempo passou (ainda passa) na posição de líder-sem-Slam. Tirando uma semana em fevereiro deste ano, quando Clijsters assumiu a ponta, a dinamarquesa é número 1 do mundo desde 1º de outubro de 2010. Ela tem 60 vitórias e 18 derrotas como ocupante do cargo. Além disso, são cinco títulos: Indian Wells, Charleston, Bruxelas, Copenhague e New Haven.

Sim, sim, eu sei. Tirando IW, os torneios são praticamente irrelevantes para uma líder de ranking. Mas o fato é que Wozniacki é quem parece mais à vontade nesta ingrata posição que faz todo mundo questionar o ranking, as adversárias, o calendário, as regras e, especialmente ela, Karolina. Carol não adota postura defensiva quando incessantemente bombardeada em coletivas (Safina perdeu a linha) nem tenta mudar seu jogo radicalmente (o que Jankovic tentou sem sucesso).

A atual número 1 continua sendo ela mesma, com todos defeitos e qualidades. E não tem resultados assim tão ruins em Slams desde que assumiu a ponta. Fez uma semifinal no Australian Open (perdeu para Na Li), caiu na terceira rodada em Roland Garros (para Hantuchova), ficou nas oitavas em Wimbledon (Cibulkova foi a algoz) e avançou até a semi no US Open (Serena passeou em quadra).

Épocas diferentes, gerações distintas, adversárias com diversos estilos de jogo. Como quase sempre no tênis, é impossível fazer uma comparação 100% justa. Os números, no entanto, estão aí para todo mundo ver. Wozniacki termina mais uma temporada como número 1 do mundo (igualando Serena – e eu ainda rio da ironia enquanto escrevo isso) e já soma mais vitórias do que Clijsters, Mauresmo, Jankovic e Safina. Por isso, considero Wozniacki a melhor número-1-sem-Slam da história.

Concorda, leitor? Use a caixinha e dê seu recado.
Coisas que eu acho que acho:
- “Melhor número-1-sem-Slam” não é necessariamente algo do que se orgulhar. Afinal, um tenista pode passar quatro, cinco, dez anos na frente do ranking sem conquistar um Slam. Lembrando isso, coloco aqui outros números: Clijsters só venceu seu primeiro Major dois anos depois de chegar ao topo; Mauresmo, por sua vez, precisou de um ano e quatro meses para quebrar o jejum; Jankovic e Safina ainda não saíram do zero; e Wozniacki chegará a Melbourne um ano e três meses depois de se tornar número 1.
- Olhando o parágrafo acima, imagino se daqui a quatro, cinco anos não estaremos olhando para Wozniacki com quatro troféus de Major na estante e lembrando de como ela “sofreu” até o primeiro Slam.
- Uma ressalva. Como eu deixei bem claro no post, os números são das tenistas enquanto número 1. Ou seja, não entram na conta o vice de Safina na Austrália, o vice de Jankovic no US Open ou o vice de Wozniacki em Flushing Meadows. As quatro tiveram belos resultados (ninguém chega por acaso ao topo) antes da liderança. Mas não é a batalha pelo trono que conta aqui. O que vale no post é o período de reinado.

FONTE:
http://globoesporte.globo.com/platb/saqueevoleio/2011/10/26/a-melhor-da-historia/

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