segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Entre glória, decepção e choro, Brasil encerra seu melhor Pan fora de casa


País não supera 2007, perde a batalha com Cuba e reclama em várias frentes, mas vê modalidades subindo degraus e garante 24 vagas para Londres-2012

Por Gabriele Lomba, Gustavo Rotstein, João Gabriel Rodrigues e Lydia Gismondi Guadalajara, México

Alguns favoritos caíram, alguns azarões surpreenderam. Vitórias de superação se misturaram a derrotas frustrantes, e o choro foi livre – de emoção ou de reclamação. Assim o Brasil atravessou os Jogos Pan-Americanos de Guadalajara nas últimas duas semanas. Como se esperava, natação, atletismo, judô, vela e vôlei puxaram a fila das medalhas. Foram 141 no total para o país, sendo 48 de ouro. Pouco para bater o desempenho caseiro de 2007 ou para derrubar Cuba, que subiu ao degrau mais alto do pódio 58 vezes e ficou em segundo lugar no quadro, atrás dos Estados Unidos. Ainda assim, os 26 ouros verde-amarelos de Santo Domingo-2003 foram superados com sobra, fazendo do Pan mexicano o melhor do Brasil fora dos seus domínios.

thiago pereira natação medalhas pan-americano (Foto: Satiro Sodré/Agif)O nadador Thiago Pereira viajou de volta ao Brasil com uma coleção de medalhas (Foto: Satiro Sodré/Agif)

- Foi o melhor Pan da história fora do Brasil. Se olharmos para a competição na República Dominicana, ficamos com 60% a mais no número de ouros. Somado aos medalhistas, mostramos que, mesmo sem superar o Rio-2007, conseguimos manter o nível. Ficamos em segundo no total de medalhas e terceiro no total de ouros. Foi o legado de 2007, junto com o trabalho que vem sendo feito – afirmou Marcus Vinícius Freire, superintendente executivo de esporte do Comitê Olímpico Brasileiro.
O país conseguiu 26% das vagas olímpicas que estavam em jogo, e faltaram quatro ouros e 16 medalhas no total para superar o desempenho no Rio. Veja o quadro de medalhas completo – é possível ver as conquistas por países ou por modalidades. Confira abaixo os destaques da campanha brasileira no México.

Os carros-chefes
Pan atletismo 100m rasos Rosângela Santos (Foto: AP) Rosângela Santos: vitória nos 100m (Foto: AP)

Foi com natação, atletismo, judô, vela e vôlei que o Brasil embolsou a maior parte das suas medalhas em Guadalajara. Os nadadores garantiram 24 medalhas, sendo dez ouros, oito pratas e seis bronzes. Dá para incluir aí o aproveitamento perfeito de Cesar Cielo (50m livre, 100m livre e dois revezamentos) e mais um show de Thiago Pereira, que se tornou o maior vencedor do Brasil na história dos Pans, agora com 12 ouros na carreira, superando o mesa-tenista Hugo Hoyama.

No atletismo, mais 23 pódios, sendo dez no degrau mais alto. Destaque para a campeã olímpica Maurren Maggi, no salto em distância, Adriana da Silva e Solonei Rocha, que venceram as maratonas, a "Beyoncé" Rosângela Santos, que brilhou nos 100m rasos, a musa Ana Claudia Lemos, que fez o mesmo nos 200m, o incansável Marilson dos Santos, vencedor dos 10.000m, e o ex-PM Leandro Prates, nos 1.500m. Sem falar nos revezamentos 4x100m feminino e masculno e no ouro de Lucimara Silvestre no heptatlo.

O judô e a vela também mantiveram a tradição de conquistas. Com 13 medalhas, o Brasil viu seis representantes festejando título, todos no masculino: Luciano Corrêa, Leandro Guilheiro, Tiago Camilo, Leandro Cunha, Bruno Mendonça e Felipe Kitadai (que superou até um constrangedor problema intestinal). Na vela, cinco das sete medalhas foram douradas.

No vôlei, 100% de aproveitamento. Na quadra, homens e mulheres derrubaram Cuba na final e garantiram um par de ouros. Na areia, festa idêntica para Alison/Emanuel e Juliana/Larissa, que mantiveram a tradição.

Pan ginástica artística Brasil ouro (Foto: Divulgação/Jefferson Bernardes/Vipcomm)Os meninos da ginástica fizeram bonito em Guadalajara (Foto: Divulgação/Jefferson Bernardes/Vipcomm)
Os passos adiante


O Brasil não conseguiu superar o desempenho de 2007, mas algumas modalidades evoluíram de lá para cá. Na ginástica masculina, o ouro por equipes (milésima medalha do país em Pans) foi o ponto de exclamação da campanha, que ainda viu Diego Hypolito com dois triunfos individuais, no solo e no salto. Na ginástica rítmica, as meninas também fizeram bonito, com sete medalhas (três ouros). O país também melhorou no tiro esportivo (seis medalhas, um ouro), no triatlo (um ouro e um bronze) e no levantamento de peso, com o ouro de Fernando Saraiva.

marcelinho machado basquete brasil x república dominicana pan (Foto: Reuters)O basquete masculino caiu cedo (Foto: Reuters)
As decepções


De Fabiana Murer muito se esperava, mas a campeã mundial do salto com vara não conseguiu repetir em Guadalajara a performance de Daegu e ficou com a prata. Outra Fabiana campeã mundial, a Beltrame, também ficou em segundo lugar no México, no skiff simples peso leve do remo. O basquete verde-amarelo fez feio. No feminino, uma surpreendente derrota para as porto-riquenhas na semifinal e uma amarga medalha de bronze. O masculino fez pior e sequer conseguiu chegar às semis – terminou em quinto. No taekwondo, Natália Falavigna (com a ressalva de que voltava de lesão) e Diogo Silva ficaram sem medalhas – o único a subir no pódio foi Márcio Wenceslau, com o bronze. A ginástica artística feminina deixou o Pan sem ouros e com crise: o debate sobre a seleção permanente criou um racha na equipe verde-amarela. Quem também bobeou foi o futebol masculino: a seleção sub-20 de Ney Franco ficou fora das semifinais.

Maurine futebol brasil pan Guadalajara (Foto: Reuters)Maurine: gol da vitória na semifinal foi uma das histórias mais emocionantes do Pan (Foto: Reuters)

A superação
Não foram poucas as histórias de superação dos brasileiros em Guadalajara. O patinador Marcel Stürmer, que teve seus patins roubados antes de viajar ao México, garantiu o ouro no Pan. No futebol feminino, as meninas sofreram com a morte do pai da lateral Maurine, mas foram à decisão – com direito a gol dela na semi. Perderam nos pênaltis e ficaram com a prata, mas saíram de cabeça erguida. Na maratona, Solonei Rocha ganhou a última medalha de ouro do Brasil e mostrou o orgulho do passado como catador de lixo.

O chororô
Principalmente na primeira metade do Pan, o chororô foi constante nas competições envolvendo brasileiros. A cada derrota, uma reclamação – muitas vezes com razão. De problemas logísticos a critérios de arbitragem, recorde os casos.

FONTE:
http://globoesporte.globo.com/jogos-pan-americanos/noticia/2011/10/entre-gloria-decepcao-e-choro-brasil-encerra-seu-melhor-pan-fora-de-casa.html

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