terça-feira, 14 de julho de 2015

Tevez volta e faz Bombonera explodir: "O dinheiro não compra a felicidade"

Jogador do povo se emociona com estádio lotado em apresentação, provoca o River Plate e recebe agradecimento da família Maradona: "Voltei por isso. Isso é o Boca"



Por
Buenos Aires


Hoje, segunda-feira, não jogou o Boca - mas a Bombonera ainda assim estava lotada, pulsando como um jogo decisivo de Libertadores. Jogava Carlitos Tevez. Um dos grandes ídolos do clube finalmente consumou o seu desejo de voltar para casa, uma década depois de iniciar a aventura no exterior com o Corinthians. De lá, passou por West Ham, Manchester United, Manchester City, Juventus. Ganhou títulos, currículo internacional e dinheiro. Muito dinheiro. Acontece que, para Tevez, o futebol é muito maior do que isso.

- O dinheiro não compra a felicidade – disse o novo camisa 10, quase no fim de sua apresentação no gramado do estádio em que se consagrou.

Carlos Tevez Boca Juniors (Foto: AP)
Carlos Tevez se rende à Bombonera em seu 
retorno emocionante ao Boca Juniors (Foto: AP)


Tevez completou 31 anos em fevereiro. Está no auge de sua carreira, vindo de uma temporada de 29 gols e o vice-campeonato da Liga dos Campeões, além do título italiano e da Copa da Itália. Mais magro do que quando atuava na Inglaterra, como o próprio definiu, e sedento para voltar a dar alegrias aos xeneizes.

- Voltei por isso. Isso é o Boca. É inexplicável, somente os bosteros vão entender o que significa – contou o jogador do povo, perplexo com a festa que faziam os torcedores.
Provocaçãoao  River

Apresentou-se, portanto, uma oportunidade gigante para provocar o arquirrival River Plate - algo em que Tevez parece ter doutorado. Ele explicou por que financiou um bandeirão, exibido naquele momento pela torcida.


- Isso surgiu quando estava vendo um jogo dos contrários, que se diziam o maior da história. O maior é o Boca, primeiro porque ganha campeonatos. Aí estão todas as Copas, coisa que falta muito para eles. O maior da história somos nós, de longe. Por isso essa bandeira - afirmou.
O bandeirão, no caso, tem a seguinte mensagem acompanhando todos os troféus do Boca: "A história continua... E a escreve os que ganham".

Tevez, depois de pular com os torcedores e cantar uma música pejorativa contra o River, caminhou um pouco mais pelo gramado, chutou algumas bolas na direção da torcida e parou em frente ao camarote de Maradona. A família do Pibe agradeceu a Carlitos pela sua volta numa bandeira amarela, depois jogado em sua direção.

Diego Maradona Carlos Tevez Boca Juniors (Foto: AP)
Família de Maradona agradeceu a Carlos Tevez 
pelo seu retorno ao Boca Juniors (Foto: AP)


Pouco antes, Tevez concedeu uma entrevista coletiva. O contrato foi assinado na frente de toda a imprensa - é válido até dezembro de 2016. Ele abdicou de vencimentos mais pomposos e até de competitividade maior no futebol europeu para retornar ao clube onde foi formado. No Boca, Carlitos disputou 110 jogos e marcou 38 gols entre 2001 e 2004, conquistando quatro títulos: o Apertura, a Libertadores e o Mundial de Clubes de 2003 e a Copa Sul-Americana de 2004.

A ansiedade tomou conta de Tevez durante basicamente um ano. Foi quando ele decidiu voltar e recebeu o presidente Daniel Angelici em Turim para uma conversa formal. Teve de esperar o fim da temporada para bater o pé e conseguir sacramentar o seu retorno.

- Eu me levantava e ia dormir pensando em que dia voltaria ao Boca. O povo do Boca se identifica comigo, e eu, com o povo do Boca.

Carlos Tevez Boca Juniors (Foto: AP)
Carlitos posa com crianças da fundação que 
leva o seu nome (Foto: AP)


O negócio

O Boca, num primeiro momento, conseguiu um negócio bastante vantajoso ao tirar o seu ídolo do Juventus, da Itália. O clube argentino terá que pagar € 6,5 milhões (R$ 22,7 milhões) pelo atacante, mas receberá o valor de volta em negociação envolvendo quatro jovens jogadores.

O valor será pago em parcela única no dia 15 de dezembro de 2016. Além disso, o Boca vai emprestar a promessa Guido Vadalá, de 18 anos, até 30 de junho de 2017, recebendo € 3,5 milhões (R$ 12,2 milhões) no dia 31 de dezembro de 2016 por isso. O Juventus terá ainda opção de compra, a ser exercida até 20 de abril de 2017, no valor de € 9,4 milhões (R$ 32,8 milhões).

Outros três jovens estão envolvidos na transferência: Rodrigo Bentancur, Franco Cristaldo e Adrián Cubas. A Velha Senhora pagará € 1 milhão por cada jogador para ter a preferência de compra, totalizando os € 6,5 milhões que o Boca pagará. Se decidir exercer o direito até o dia 20 de abril de 2017, os italianos terão que desembolsar € 9,4 milhões (R$ 32,8 milhões), € 8,2 milhões (R$ 28,6 milhões) e € 6,9 milhões (R$ 24,1 milhões).


Carlos Tevez Boca Juniors (Foto: Reuters)
Tevez chutou uma dezena de bolas para a 
torcida (Foto: Reuters)


Confira os outros trechos da entrevista de Tevez:

Agradecimento à torcida
- Quero agradecer a todos por virem me ver. Desde o que escrevi quando fui à Itália já me passava pela cabeça voltar. Sentia a falta de todos. Já faz um ano que pensava. Agradeço a todos por me esperarem com esse frio. Eu estaria em casa, no quentinho. E vieram. Tenho que agradecer dentro e fora de campo.

Posição 
- Não sou do tipo que quer jogar em qualquer lugar. O técnico (Arruabarrena) me dirá a sua ideia e entraremos em acordo em cinco minutos. Ele sabe onde posso jogar.

Atlético de Madrid
- Sim. Houve a possibilidade do Atlético. O “Cholo” (Simeone) me chamou. Estava interessado e agradeço publicamente por isso, mas eu tinha uma meta que era voltar para casa.

Estreia
- Gostaria de ter jogado ontem (contra o Sarmiento), já quero estar treinando e que chegue logo sábado para poder demonstrar que estou bem.

Carlos Tevez Boca Juniors (Foto: AP)Atacante diz que houve proposta do Atlético de Madrid, mas desejo de voltar prevaleceu (Foto: AP)


Volta diferente
- O povo se identifica comigo. É mútuo. As pessoas pensam no Boca. Eu sempre pensava que um dia iria voltar para casa. Uma vez que saí, você fica sozinho e é difícil. Cada domingo. O “Mundo Boca” me devorou quando tinha 20 anos. Era muito mais difícil. Agora estou muito mais preparado. É diferente. Agora sou exemplo para meus companheiros, antes o time tinha Flaco Schiavi, hoje cabe a mim ser o conselheiro. Isso implica em sempre dar o exemplo. Aos 31 não é o mesmo que aos 20 e, vindo como venho eu, do nada, a chegar na fama...

Presidente
- O presidente (Daniel Angelici) fez muito. Viajou, entrou em contato comigo. Na primeira conversa já entramos em acordo de tudo. Era difícil. Mas graças a ele e ao Boca, esse sonho se tornou realidade. Agora tem que convencer ele para que fique. Foi ele que me trouxe. Quero que fique.

Riquelme
- Riquelme é um dos maiores. É ídolo do clube. Ele sempre disse que a 10 vai ser dele até que alguém o supere em títulos. Sou amigo de Román, não venho para superá-lo. Venho fazer a minha história, ele já a fez e é o ídolo máximo. Román há um só e é o maior.

Recepção “amigável”
- Vi todos os jogos da tarde e quando chegou 21h cortaram a minha luz. Deram-me boas-vindas à Argentina (risos). Na hora do jogo do Boca cortaram a luz, parecia de propósito, eu juro.

Felicidade
- É um dos dias mais felizes da minha vida, estou em minha casa. Desde que tinha 13 anos eu vinha aqui, era criança e vinha ao gramado e me conheciam, me davam um abraço. E hoje fazem o mesmo e não se paga com nada.

Carlos Tevez Boca Juniors (Foto: AP)
Bombonera esteve lotada para receber o ídolo 
Carlos Tevez (Foto: AP)


Dia mais feliz
- Não há melhor dia que este. Primeiro porque é o meu povo. Segundo, porque não tenho que falar inglês nem italiano (risos). Terceiro, pois estou em família.

Auge
- Aprendi muito na Itália. Como jogador e referência, sobretudo nos dois últimos anos. Volto no meu melhor momento, verdadeiramente é agora. Aos 26 ou 27 anos estava mais gordo que qualquer um. Estou melhor do que nunca, tanto física quanto mentalmente.

O “velho” Boca
- Como torcedor, acho que necessitamos de alegrias e carinho dos jogadores. Ganhar títulos, não apenas jogos. Estava acostumado a festejar campeonatos, temos que conseguir voltar com essa mística. Tratar de dizer a estes garotos o que é o Boca.

Memórias
- A Libertadores de 2003 e o Mundial de Tóquio foram impressionantes. Desde a última bola do pênalti até a minha casa, eu chorei de emoção. Depois ganhei coisas, mas não senti a mesma coisa. Quero ver se posso voltar a sentir isso.


FONTE:
http://glo.bo/1TyqYts?utm_source=link&utm_medium=share-bar-desktop&utm_campaign=share-bar

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