Tinga e Clemer contam histórias das conquistas da competição em 2006 e em 2010
Diego Aguirre, técnico do Inter (Foto: Diego Guichard)
É verdade que as indefinições circundam a cabeça de Diego Aguirre, diante de uma equipe ainda em formação. Sem apresentar esquema tático predileto ou sequer uma escalação titular ideal, o treinador persegue o equilíbrio do time dentro de campo. Uma espécie de "estalo", como o que acometeu seu Peñarol, vice-campeão da Libertadores de 2011, ainda na primeira fase, na vitória por 1 a 0 sobre a LDU, no Estádio Centenário, como revelou em entrevista recente.
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Não é preciso, porém, mirar o país vizinho para encontrar inspirações em obstáculos superados na busca pelo título continental. Basta olhar para o próprio histórico do Colorado, bicampeão da Libertadores, em 2006 e 2010. O GloboEsporte.com ouviu o volante Tinga, integrante do elenco das duas conquistas e atualmente no Cruzeiro, e Clemer, que participou como jogador na primeira campanha e como preparador de goleiro na segunda.
Sem fazer inferências à equipe atual, a dupla vencedora lista algumas receitas. Criar fatos novos, adquirir confiança e obter vitórias marcantes, como a que ocorreu diante do Emelec no Beira-Rio, são bons exemplos. Mas, sobretudo, é preciso esbanjar dentro de campo o espírito que a Libertadores requer.
- A Libertadores, por si só, já é muito difícil. Os jogos, além do nível técnico alto, têm uma competitividade grande, o que torna a competição diferente de qualquer outra. Então, se você não der aquele algo a mais em todas as partidas, fica complicado. Até porque todas são decisões, mesmo que o formato mude da fase de grupos para o mata-mata - afirma Clemer.
Inter ainda não encontrou equilíbrio em 2015
(Foto: Alexandre Lops/Internacional)
Enredo semelhante em 2010
Entre as duas campanhas, a de 2010 se assemelha mais à atual. E não apenas pela coincidência de ambas possuírem o sangue charrua no comando técnico da equipe. À época, o Inter de Jorge Fossatti chegou com muito sofrimento às semifinais, após superar os então atuais campeões Estudiantes, em partida antológica nas quartas - o uruguaio não resistiria à oscilação de desempenho e acabaria demitido mesmo com a classificação.
O espírito da equipe na partida em Quilmes seria determinante para os ânimos do elenco. A vaga na semi só foi assegurada com a estrela de Giuliano, que se aproveitou da fumaça dos sinalizadores da torcida rival para descontar aos 48 do segundo tempo. O revés por 2 a 1, combinado à vitória por 1 a 0 no Beira-Rio, assegurou o avanço do Colorado.
- Foi uma campanha diferente, sofrida. Acredito que aquele confronto com o Estudiantes, com o gol do Giuliano num dos últimos lances lá na Argentina, também nos marcou muito. Eliminar o campeão da época daquela forma significou bastante na campanha. A partir dali, o grupo teve tempo pra trabalhar e fazer os ajustes até a semi contra o São Paulo, que era quase uma final antecipada. A equipe encorpou e conseguiu deslanchar até o título - relembra.
Tinga relembra histórias de títulos em 2006 e
em 2010 (Foto: Alexandre Lops/Divulgação)
O triunfo, porém, não foi suficiente. Capitaneada por Fernando Carvalho, a diretoria de futebol co clube criou fatos novos. Para o lugar de Fossatti, chegou Celso Roth. Campeões da Libertadores com o Inter em 2006, Tinga e Rafael Sobis foram contratados, ao lado do goleiro Renan, para dividir as responsabilidades, aumentar a confiança e renovar os ânimos do vestiário. O resultado é conhecido.
- Em 2010, eu cheguei e se falava que estava difícil. Eu não peguei essa dificuldade. A equipe vinha de uma classificação sem passar confiança. Então fui contratado junto com o Sobis e com o Renan para dar esse suporte. O Inter tinha qualidade técnica para ser campeão. Chegamos para dividir essa responsabilidade. É difícil ser contratado para jogar só as finais. Se algo der errado, a culpa é de quem chegou. Por outro lado, dá tranquilidade para os outros. Libera para jogar à vontade. E a chegada do Celso ajudou. Ele conseguiu mudar o time. Em pouco tempo, conseguíamos jogar em outro nível. Eu cheguei com a confiança de quem ia ganhar. Se não, não viria. Não ia correr esse risco - relembra Tinga, em contato por telefone com o GloboEsporte.com.
Campanha segura em 2006
O enredo em 2006 se desenhou com menos sofrimento ao Colorado na campanha pela competição continental. Sob o comando de Abel Braga, o Inter incorporou o estilo de jogo da equipe anterior, vice-campeã do Brasileirão em 2005, e conquistou a Libertadores de forma sólida. O que não quer dizer, porém, que o elenco que deu ao clube o título do Mundial não tenha passado por dificuldades.
Para Tinga, o momento crucial ocorreu no estadual, após a perda do título do Gauchão para o Grêmio na final em pleno Beira-Rio. O revés surgiu como um marco para unir o grupo e, inclusive, para Abel Braga ajustar o time. O volante relembra ainda de uma reunião que teve com o então presidente Fernando Carvalho e Fernandão, capitão da equipe, para remobilizar o elenco.
- O mais difícil não foi nem a competição. Vínhamos jogando bem. O mais difícil foi perder o Gauchão para o Grêmio, sendo que a gente era muito melhor. Sentimos a derrota, mas foi importante. Ali, a gente achou a maneira de jogar. Eu me lembro que eu, o Carvalho e Fernandão tivemos uma conversa. O presidente falou que planejou peça por peça para ser campeão da Libertadores. Nós tínhamos outras lideranças, como Clemer. A partir daquela conversa e daquela derrota, eu falei: "a gente vai ser campeão da Libertadores". Cada um foi em seu grupo ali, de cinco, seis jogadores e mobilizou o elenco - conta o volante.
Colorado foi campeão da Libertadores pela
primeira vez em 2006 (Foto: Daniel
Boucinha/Divulgação Inter)
Clemer ressalta que o espírito vencedor da equipe já contagiava o vestiário desde o início da campanha, mas relembra um momento especial que o fez acreditar que o sonho do título estava perto de ser concretizado: o triunfo diante da LDU nas quartas de final.
- O nosso grupo era muito coeso e tinha a consciência do que queria: ganhar um título inédito. O jogo da volta contra a LDU nas quartas de final foi um marco. Perdemos no Equador por 2 a 1, nossa única derrota naquela trajetória, e no Beira-Rio estávamos ganhando por 2 a 0 até o finalzinho. Houve uma falta pra eles na risca da grande área, a barreira posicionada quase dentro do nosso gol. Era difícil de enxergar o batedor. Só vi quando a bola já estava passando em direção ao meu canto esquerdo. Consegui me esticar ainda e dar o tapa pra escanteio. Em seguida o juiz apitou, e o Abel veio correndo na minha direção comemorar aquela defesa. Naquele momento, encerrado o jogo, eu senti que iríamos brigar até o fim pelo título, não tinha volta. Podíamos fazer história. E foi o que aconteceu, felizmente - celebra o camisa 1.
Nada de estalo. É preciso buscar o equilíbrio
Clemer ressalta o "espírito vencedor" das
equipes campeãs (Foto: Alexandre
Lops/Internacional)
Dentro do elenco atual, os colorados evitam pensar que um "estalo" irá levar o time à vitória. Os atletas apostam no período de trabalho que terão pela frente até a próxima partida pela Liberadores, diante da Universidad de Chile, em Santiago, em 16 de abril.
Alex prevê evolução no Inter (Foto: Alexandre Lops/Internacional)
-
Espero que aconteça. Obviamente, cria-se um pouco mais de dúvida diante
do que a gente cria em campo. Precisamos ter mais atenção, mas temos
esse potencial, com opções, maturidade, gente mais rodada. A gente tem
essa possibilidade de pegar um jogo difícil, saber que pode não estar
legal, nas com um espírito de Libertadores é o principal. Se a gente
conseguir esse espírito e agregar com qualidade, vai ficar mais fácil
vencer jogos, mesmo fora de casa. Se conseguirmos encaixar tudo isso
ficaremos cada vez mais fortes - afirma Alex.
*Colaborou Eduardo Deconto
FONTE;
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