Aos 40 anos, campeão da Libertadores de 98 acredita que Gigante da Colina terá que brigar contra o rebaixamento em 2015. Ele revela amor pelo Clube do Remo
Gian não tem mais a cabeleira dos tempos do Vasco (Foto: Jorge Sauma/GloboEsporte.com)
A
década de 90 foi especial para o Vasco, sobretudo pela conquista
do Campeonato Brasileiro de 1997 e da Libertadores de 1998. A receita
para as vitórias tinha
nome, ou melhor, uma legião de jogadores que logo ganharia o mundo –
Juninho Pernambucano, Felipe, Edmundo, Donizete e um outro,
menos conhecido, chamado Gian. Lá se foram cerca de 20 anos, e o
ex-meia,
atualmente professor em uma escolinha de futebol e assessor na
prefeitura de Castanhal-PA, vê de longe o Gigante da Colina recomeçar,
como ele define o momento da equipe carioca ao retornar para a elite do
futebol nacional.
Gian é professor da escolinha do Castanhal,
localizado distante cerca de 70 km de Belém
(Foto: Ascom/Castanhal)
– É um recomeço. Espero que o Vasco coloque os pés no chão, que
olhe o (Campeonato) Brasileiro como prioridade para permanecer na Série A e não
ser rebaixado novamente, e depois, sim, vislumbrar algo maior. O Doriva é uma
aposta do clube, apesar de ser um bom treinador. Espero que ele possa ter as
peças certas no elenco para iniciar um trabalho legal. A torcida do Vasco é
muito grande e precisa voltar aos tempos gloriosos – disse o ex-jogador, que
desde 2003 mora no Pará.
O reinício em 2015 contrasta com o Vasco que o
ex-jogador
encontrou em 1993. Gian afirma que a fase da equipe, àquela altura,
era diferente não apenas dentro das quatro linhas. E percebe, no
passado, maior
comprometimento da diretoria com o futebol profissional e com a base -
apesar de dizer que conheceu duas versões diferentes de Eurico Miranda, o
todo-poderoso do clube naquela época.
Gian atribui a volta de Eurico ao comando do Vasco – ele reassumiu em dezembro de 2015 – à carência no surgimento de novos dirigentes comprometidos com a causa do futebol. Ficaram, segundo ele, as lembranças de um passado bom, com títulos, porém, que deixou marcas e dívidas trabalhistas que talvez não cheguem ao fim.
– Eu não sei dizer ao certo o motivo do retorno dele. Acompanhei
pouco o trabalho do (Roberto) Dinamite (ex-presidente), mas o time foi
rebaixado (em 2013), ele não conseguiu montar uma equipe competitiva. E o que os
caras (torcedores) querem? Ele (Eurico Miranda) de novo. Tem o
Eurico, mas deveriam ter outras pessoas com ideias novas, justamente para
substituir essas outras. Isso acontece em todo lugar. Aqui (no Pará) não é
diferente.
Ex-meia atuou no Vasco de 1991 a 1998 e depois
retornou em 2005 (Foto: Arquivo
/ Agência O Globo)
Gian deixou o Vasco depois de oito anos para se
transferir à Suíça. Jogou por três temporadas consecutivas e retornou ao Brasil
a pedido de Julio Cesar Leal, o técnico do ex-meia nos tempos da seleção de
base. Foi quando ele encontrou seu verdadeiro clube do coração: o Clube do Remo.
– O treinador do Remo era o Júlio Cesar Leal na época. Ele me ligou
e disse: "Quero que você venha para cá". Ele pediu que o ajudasse no Remo, me
disse que o salário era pouco e o contrato era de quatro meses. Topei o
desafio. A transferência demorou e só chegou perto de um jogo contra o
Paysandu. Fui para o jogo, saímos perdendo, até que aos 44
eu recebo a bola na área e faço o gol. Já tinha pedido para
ser substituído umas três vezes do jogo... A minha história com o
Remo começou aí. O Vasco foi muito importante na minha carreira, aprendi muito,
mas o Remo foi o clube que me fez, é o meu grande clube. Quando eu cheguei,
aquela torcida enorme... Não consegui mais sair do Remo e fiquei. É paixão. Foi
onde vivi os melhores momentos da minha carreira.
O
ex-jogador encontrou um dos grandes momentos de sua carreira logo no
começo dela. Em 1993, foi campeão mundial sub-20 com a seleção
brasileira. Fez, nos últimos minutos de jogo, o gol do título sobre Gana
- em vitória de virada por 2 a 1. O primeiro foi marcado por Yan, seu
parceiro no Vasco. (Relembre no vídeo acima)
Vida no Pará, amigos do futebol e mais sobre a carreira
Nascido em Sertaneja, no Paraná, desde
2003 Gian escolheu o Pará para viver, primeiro em Belém – quando foi
contratado pelo Remo – e agora em Castanhal, distante cerca de 70 quilômetros
da capital. Aos 40 anos, a vida nova é pacata, dividida entre a casa em que
mora, a função de assessor da Secretaria de Esportes da prefeitura e a
escolinha de futebol para crianças no clube que leva o nome do município.
Parar de trabalhar? Voltar para a terra natal? Nada disso passa pela cabeça do
ex-vascaíno.
Nascido em Sertaneja, no Paraná, desde
2003 Gian escolheu o Pará para viver, primeiro em Belém – quando foi
contratado pelo Remo – e agora em Castanhal, distante cerca de 70 quilômetros
da capital. Aos 40 anos, a vida nova é pacata, dividida entre a casa em que
mora, a função de assessor da Secretaria de Esportes da prefeitura e a
escolinha de futebol para crianças no clube que leva o nome do município.
Parar de trabalhar? Voltar para a terra natal? Nada disso passa pela cabeça do
ex-vascaíno.
Gian não tem mais a cabeleira dos tempos do Vasco (Foto: Jorge Sauma/GloboEsporte.com)
– Hoje em dia não dá para parar de trabalhar. Primeiro que eu
gosto de trabalhar com os garotos. Segundo que eu tenho filhos, quatro filhos.
Estou morando em Castanhal, trabalho de manhã na prefeitura, dou aula para a
garotada também. No final de semana, curto meus filhos, três são
do Paraná e um aqui de Belém. Hoje é difícil eu ir embora do
Pará, a maioria dos meus projetos é para cá. Meus negócios no Paraná estão
andando sem eu estar presente. Tenho um negócio de telefonia lá com a minha irmã, que
fizemos sociedade, e uns terrenos também. Hoje, dá para viver sossegado. O
futebol me deu essa oportunidade.
Do futebol, além da vida sossegada, ficaram algumas amizades que
são cultivadas pelas redes sociais. Também são do futebol, claro, as boas, más e
curiosas histórias vivenciadas ao longo de quase 20 anos de carreira. Matsubara, Goiás, América-RN, Portuguesa
Santista, Luzern-SUI, Castanhal e Independente Tucuruí, todos tiveram um papel
especial na vida do jogador.
– Eu atravessei muitos clubes depois da minha saída do Vasco.
Todos os times têm histórias boas. Foram 19 anos de carreira.
Passei três anos na Suíça, joguei no Luzern. Em 91, pela seleção
sub-17, nós pegamos Gana e eles tiraram a gente da
competição nas quartas de final. Depois de dois anos, chegamos até a
final
e ganhamos deles. Passei por Ceará e Goiás, duas vezes. Em uma delas,
dei azar. Eu cheguei para ser 10 e logo em seguida o Geninho trouxe o
Petkovic. Aí não teve jeito. Tive que sentar no banco e assistir ao cara
jogar.
Gian se tornou ídolo da torcida do Remo e
acabou apelidado de "Príncipe"
(Foto: Marcelo Seabra/O Liberal
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