quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Mestra na quadra, Sheilla vive dias de aluna fora do ginásio na Turquia

Melhor oposta do Mundial da Itália, bicampeã olímpica tem aulas de culinária e de turco para buscar uma melhor adaptação à nova rotina como jogadora do Vakifbank


Por
Rio de Janeiro


Sheilla Vôlei Turquia (Foto: Arquivo Pessoal)Sheilla exibe prato de salada (Foto:Arquivo Pessoal)


A decisão de sair do aconchego da casa da avó, em 2004, não foi das mais fáceis. Não para alguém de 20 anos, que iria passar os próximos quatro em outro país. Mas o crescimento que desejava passava pela Itália. Foi lá que a Sheilla de hoje foi forjada, como costuma dizer. Uma década depois, a melhor oposta do último Mundial se impôs um novo desafio. Fez as malas e mudou-se para Istambul para defender o Vakifbank. Há um mês, vem se adaptando ao estilo de jogo da equipe, assim como à nova rotina fora de quadra. Além de uma professora de turco, com quem terá aulas a partir da próxima semana, Sheilla também tem aprendido a comandar as panelas. 

Por necessidade e vontade. Janete Silveira, a amiga de longa data que trabalha como treinadora no vôlei italiano, é a consultora oficial. Envia as receitas, dá as dicas e a socorre, mesmo que a distância. O resultado tem sido compartilhado com orgulho em seu perfil numa rede social. Candidata ao prêmio de Atleta da Torcida, promovido pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e com votação pela internet, a jogadora espera contar com o apoio de seus fãs para tentar colocar o troféu na galeria. 

- Eu não tinha hábito de fazer comida sempre. Só fazia quando dava aquele estalo. Mas era bem pouco mesmo, porque eu tinha empregada em casa e ela deixava tudo pronto para mim. Aqui estou gostando, estou fazendo muitos pratos italianos, massas e risotos que são fáceis e, como eu chego cansada e com fome, já quero descansar e dormir. De vez em quando faço uma carne, legumes, uma coisa mais brasileira. Feijão ainda não, apesar de encontrar aqui, porque não sei fazer mesmo - diverte-se.

Se o Brasil tem passado poucas vezes pelo prato, ao menos o idioma se mantém no dia a dia de Sheilla. As conversas com a búlgara Elitsa Vasileva, que vestiu a camisa do Campinas na última temporada, e com Carolina Costagrande, argentina naturalizada italiana, são muitas vezes em português. Ao lado delas, já conquistou o título da Supercopa.


Sheilla campeã da Supercopa da Turquia de vôlei (Foto: Reprodução / Facebook)
Sheilla comemora título da Supercopa da Turquia 
(Foto: Reprodução / Facebook)


Sheilla e Janete Vôlei Turquia (Foto: Reprodução / Instagram)Sheilla com Janete e a central Carol no Mundial da Itália (Foto: Reprodução / Instagram)


Principalmente da forma de trabalhar de Giovanni Guidetti. Antes de aceitar a proposta, Sheilla buscou informações sobre o técnico, que também comanda a seleção feminina da Alemanha. As referências foram as melhores e comprovadas neste primeiro mês de treinamento. Sob o comando dele, o Vakifbank ergueu duas vezes o troféu da Champions League (em 2011 e 2013). 

- Tinham dito que ele era um dos melhores técnicos do mundo. Realmente posso dizer que Giovanni tem uma visão de jogo muito grande. É perfeccionista também, quer sempre que a gente não erre, faça melhor. E a estratégia dele para jogar contra os outros times é muito interessante. Talvez seja o técnico fora do Brasil que mais dá treino. Às vezes, o da tarde chega a durar duas horas e meia, três horas. Treinamos de manhã musculação e bola. Ele divide em três grupos e eu faço um pouco de defesa de manhã. Estou adorando o treino dele e tenho pouco tempo livre. Tive dois domingos livres, uma segunda e só. Acho que até o Natal não vou mais ter um dia livre. Está muito puxado, porque a gente joga a Copa Turca, a Liga Turca e a Champions League. Estou gostando bastante daqui e acho que eles também estão gostando de mim.

A experiência de bicampeã olímpica é respeitada. A opinião de Sheilla é sempre levada em consideração. Nas ruas, ela também se surpreende ao ser reconhecida por gente que nem imaginava acompanhar sua trajetória nas quadras. Foi assim, na semana passada, durante uma caminhada despretensiosa por um pequeno mercado local.


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- Um turco chegou e veio contar que era meu fã. Começou a falar da minha carreira e vi que acompanhava mesmo. Depois perguntou da Thaísa e deu para ver que acompanhava vôlei. Aqui sempre tem gente que pede para tirar foto. Uns chegam e perguntam se sou jogadora do Vakifbank. Quando veem que sou brasileira, falam: "bicampeã olímpica". Eles me respeitam bastante pelas coisas que conquistei e fiz pela seleção e pelos clubes. Meu técnico gosta muito da maneira como enxergo o jogo. Um motivo que me fez vir para cá foi a possibilidade de um novo desafio. Na carreira de atleta é sempre bom ser instigada a fazer mais. Agora não estou mais no começo, mas no meio para o final da carreira já. Falta menos tempo para eu parar de jogar do que o tempo que joguei. Sabia que aqui encontraria um campeonato forte e que eu seria exigida ao máximo por ser estrangeira.  E estrangeira tem que dar 100% o tempo inteiro, tem que ser a jogadora de decisão. Comecei a crescer, a virar a Sheilla que sou hoje quando fui atuar na Itália. Agora acho importante um desafio para me manter no auge no fim da minha carreira.

E também para ficar mais perto e conhecer ainda melhor a forma de jogar de possíveis adversárias nas Olimpíadas do Rio 2016. O convívio será por duas temporadas. E ainda que a saudade de casa e do marido lhe aperte o peito, Sheilla diz que é o preço a ser pago.

- Espero que o Brenno consiga chegar no dia 31 de dezembro. Ele tem o último jogo com o Pinheiros (é técnico da equipe na LDB) no dia 30 de dezembro, ainda não está definido o local, então se não for em São Paulo vai ser difícil pegar o voo porque ele chegaria às 21h30. Mas eu tenho esperança de passar o Réveillon com ele. É difícil ficar longe dele, da minha avó, da minha família. Sinto saudade, mas estou focada no vôlei, tentando ganhar os jogos que tenho até o Natal, antes de Brenno chegar, de alguém vir me visitar. Estou morrendo de saudade, mas faz parte.    

Mosaico Sheilla Vôlei Turquia (Foto: Editoria de arte)
Sheilla exibe em seu perfil os pratos que 
aprendeu a fazer, passeios e momentos 
com o time (Foto: Editoria de arte)


Vira e mexe se pega com o pensamento perdido por aqui. Mas outras tantas vezes, se vê de volta ao Mediolanum Forum Assago, palco da fase final do Mundial da Itália. Aquele revés - o único da campanha - para os Estados Unidos na semifinal da competição, no dia 11 de outubro, ainda dói. Mais ainda quando teve de rever as imagens dia desses.

- Não tem como não lembrar. É uma derrota que não vou esquecer nunca, assim como não esqueço até hoje as derrotas nas finais dos Mundiais de 2006 e 2010. Mas a vida passa. Um dia a gente teve que fazer um vídeo aqui, do time que tem a Larson (oposta americana) e ainda não havia vídeo de jogo do campeonato turco, então eles me pediram desculpa porque colocaram o daquela partida que a gente perdeu a semifinal. Se eu lembrar do Mundial sempre fico triste, mas também fico alegre pela superação que a gente teve para disputar o terceiro lugar. Aquela amargura, aquela tristeza vai sempre ter, mas faz parte. Vida de atleta não é feita só de vitória, a gente tem que saber superar as derrotas e pensar para frente. Graças a Deus a minha tem muito mais vitória do que derrota (risos).  



FONTE::
http://glo.bo/1ATpjYB

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