quinta-feira, 10 de julho de 2014

Falta de gols, desvalorização e futebol desastroso: a frustrante Copa de Fred

Dono da camisa 9 da Seleção, atacante marca uma vez, vê sonho do título chegar ao fim com vexame e é o maior alvo das críticas dos torcedores após a queda nas semis


Por Belo Horizonte

 
Gols, artilharia, sucesso na Copa do Mundo e volta ao futebol europeu. Tudo isso fez parte do imaginário, e das entrevistas, de Fred antes de o Mundial começar. A competição era vista pelo atacante como a chance de aumentar sua cotação, atrair novamente olhares de clubes de fora do Brasil ou, no mínimo, ganhar poder de negociação no Fluminense para renovar o contrato que termina em dezembro do ano que vem. Passadas seis partidas na Copa, sendo a última o vexame histórico na derrota por 7 a 1 para a Alemanha, o camisa 9 se vê cercado de críticas, contestado e desvalorizado (assista a alguns lances do jogador no torneio no vídeo acima).

Fred foi o maior alvo dos torcedores que lotaram o Mineirão na semifinal disputada no fim da tarde da última terça-feira. Substituído por Willian aos 24 minutos do segundo tempo, o jogador deixou o gramado em que havia marcado 42 vezes na carreira coberto por vaias. Sentado no banco de reservas, viu sua imagem reproduzida nos telões do estádio e novamente não foi perdoado, algo que acontecera algumas vezes durante a partida e ao longo da competição. Nas redes sociais, a comparação com um "cone", que nasceu durante o Mundial, ganhou ainda mais força.

- Isso aí nem me influencia muito. O que me machuca foi o resultado que aconteceu, da forma que aconteceu – disse o atacante, após a derrota para a Alemanha, ao SporTV.
 
Um dos líderes do grupo de Felipão, o camisa 9 teve participação abaixo da crítica na Copa. Fez apenas um gol em 471 minutos jogados (assista no vídeo ao lado) e não deu uma assistência sequer. Nem de longe lembrou o artilheiro da Copa das Confederações do ano passado, com cinco gols. O desempenho naquela competição, aliás, perseguiu o atacante neste Mundial. Na ocasião, Fred também passou em branco nas duas primeiras rodadas, mas recuperou-se e teve participação decisiva no título. Desta vez, futebol ruim e falsa esperança de que poderia ressurgir a qualquer momento. Primeiro, ao marcar na goleada por 4 a 1 sobre Camarões, no fim da primeira fase. Depois, acreditava-se que poderia conduzir o time com a saída de Neymar por grave lesão.


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- Decepção total, porque com certeza é a pior derrota da carreira de todos os jogadores que vivenciaram esse momento de tristeza. Fizemos o pior jogo da nossa vida, e a Alemanha fez o melhor da vida deles. É um momento de muita tristeza e decepção, mas que a gente vai ter de se apegar às pessoas que vão nos ajudar nesses momentos difíceis que nós vamos passar agora. É uma cicatriz que vai ficar marcada durante toda a nossa vida – lamentou o atacante do Fluminense.

Aos 30 anos, Fred disputa sua segunda Copa do Mundo. Na primeira, em 2006, na Alemanha, era reserva de Ronaldo Fenômeno e Adriano e chegou a fazer um gol. Pilar de Luiz Felipe Scolari para o Mundial no Brasil, não correspondeu. A participação, aliás, entra para a galeria das piores de um centroavante brasileiro e pode representar o fim da curta história dele com a camisa amarela.

Fred Alemanha x Brasil, Mineirão (Foto: Reuters)
Fred cumprimenta Felipão e Murtosa 
após vaias e substituição no Mineirão: 
permanência improvável (Foto: Reuters)
números escancaram fraca atuação
 
Os números de Fred na Copa refletem suas atuações. Em seis partidas na Copa do Mundo, ele esteve em campo durante 471 minutos. Mais do que Neymar (457 min) e Hulk (380 min), seus companheiros de ataque na seleção brasileira.

As estatísticas, porém, jogam contra. Fred tem números aquém do que se espera de um camisa 9 da seleção brasileira. Em seis partidas, um gol, nenhuma assistência e apenas 11 finalizações, o que dá menos de dois chutes a gol por jogo. Sofreu um pênalti, na estreia contra Croácia, determinante para a virada por 3 a 1. Mas até nisso foi contestado, acusado de ter simulado a falta, o que acabou o levando a gravar um depoimento para explicar a jogada (assista ao lance no vídeo acima).

Info NÚMEROS Atacantes BRASIL (Foto: Infoesporte)
A apatia também é refletida em números: em toda campanha do Brasil, o 
 centroavante não deu qualquer arrancada e não desarmou o adversário sequer uma vez. Fred percorreu 47,2 Km em todo o Mundial. Menos do que Neymar (49,9 km), por exemplo, que disputou uma partida a menos no torneio. O atleta perde em quase todos os quesitos para seus companheiros de ataque.
E não é só na comparação com os atuais atacantes brasileiros que Fred fica devendo. Desde a Copa de 1978, com Reinaldo, um centroavante titular da Seleção marcava apenas um gol em Mundiais. Serginho Chulapa, em 1982, Careca, em 1986 e 1990, Romário, em 1994, Ronaldo, em 1998, 2002 e 2006, e, por fim, Luis Fabiano, em 2010, marcaram mais gols do que o atual camisa 9. Fred, porém, ainda tem a partida contra a Holanda, no próximo sábado, em Brasília, para tentar melhorar seu número de gols.

FUTURO INDEFINIDO NO FLU

Fred lamentando jogo Brasil x Alemanha (Foto: Reuters)Fred se lamenta durante o jogo contra a Alemanha: futuro indefinido (Foto: Reuters)

A frustrante Copa de Fred também deve interferir na relação dele com o Fluminense. Antes da competição, em nenhum momento ele descartou deixar as Laranjeiras. Desde o fim de 2013, o camisa 9 tenta uma renovação de contrato. O jogador, que recebe 80% do salário de R$ 900 mil da Unimed, pediu mais de 50% de aumento e manifestou o interesse de esticar a permanência no clube até o fim de 2018, quando terá 33 anos. A proposta de Fred foi debatida internamente e encontrou certa resistência. O longo tempo de contrato, mais três anos e com altíssimos valores, gerou questionamentos nos bastidores do clube. Entre os argumentos dos que foram contra, a idade do jogador e o histórico de lesões. Além disso, o Fluminense tem ciência de que nenhuma equipe brasileira, e até de fora do país, pagaria tanto a um jogador com o perfil de Fred.

Uma dívida do Fluminense com Fred no valor de R$ 2 milhões, referente a direitos de imagem atrasados, pode virar moeda de troca em caso de saída do atacante do clube. Dono de 20% dos direitos econômicos do camisa 9, o Tricolor não consegue quitar o débito e considera descontar o valor da parte que detém em uma futura negociação para repassar ao jogador. A Unimed, patrocinadora do clube, é dona dos outros 80%. Antes da Copa, o presidente da parceira, Celso Barros, estabelecia € 5 milhões (cerca de R$ 15,1 milhões) como ponto de partida para negociar Fred, com boa possibilidade de redução, principalmente depois da Copa.

Apesar de restar uma chance a Fred, é fato que sua trajetória pela Seleção está arranhada. E nem um caminhão de gols sobre os holandeses poderá absolvê-lo.

Fred lamentando jogo Brasil x Alemanha (Foto: André Durão / Globoesporte.com)F
red põe a bola na cabeça e tenta se 
encontrar: perdido na Copa perdida 
(Foto: André Durão / Globoesporte.com)


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