segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Medalha de ouro não caiu do céu: título tem dedo gringo e investimento

Até conquistar o inédito pódio no Mundial da Sérvia, seleção derrubou rivais, ganhou patrocinadores, passou por intercâmbios na Europa e aprendeu a vencer os grandes

Por Direto de Belgrado, Sérvia

Brasil handebol campeão taça (Foto: EFE)Brasileiras comemoram o inédito título mundial de handebol (Foto: EFE)
 
O dia 22 de dezembro de 2013 vai ficar marcado na história do handebol brasileiro. A seleção feminina sagrou-se campeã mundial invicta ao vencer a anfitriã Sérvia por 22 a 20 na decisão. Foi a primeira medalha conquistada pela modalidade no país em um Mundial. O caminho até a taça, porém, não foi percorrido apenas nesses 17 dias de competição na Sérvia. A trajetória começou muito antes, nos idos de 1995, quando a seleção feminina disputou pela primeira vez um Mundial, perdeu os quatro jogos que fez e acabou em 19º entre as 20 seleções participantes. Em 18 anos, foram muitos obstáculos vencidos. Muitos dramas. Muitas derrotas. Muitos momentos vividos por Dara, Alexandra Nascimento e Dani Piedade, que em 2001 e 2003, por exemplo, venciam o Sul-Americano e o Pan-Americano de Santo Domingo, mantendo a hegemonia nas Américas, mas longe de ter qualquer reconhecimento na Europa. Aliado a isso, o sucesso na Sérvia tem o dedo de um técnico estrangeiro, o intercâmbio no exterior e a chegada de patrocinadores, fatores que, juntos, culminaram no sonho realizado.

- Falo sempre. Não podemos esquecer as pessoas que começaram esse projeto. A Zezé, que hoje comenta nossos jogos. As outras atletas do passado também. Para as crianças, que amam o handebol, eu digo, não desistam. Essa medalha significa nosso passado, tudo que batalhamos até agora - desabafou Alexandra, eleita a melhor jogadora do mundo em 2012.

 É um prazer ver o compromisso delas e que essa caminhada deu certo. Jogamos 18 jogos em dois Mundiais e perdemos apenas uma partida. Dificilmente alguém vai bater esse recorde"
Morten Soubak

A trajetória desta geração até o pódio inédito começou, de fato, em 2009, quando o técnico dinamarquês Morten Soubak, campeão brasileiro com o Pinheiros, no masculino, foi contratado para a seleção feminina. Morten chegava com uma meta. Preparar a seleção para o ciclo olímpico de Londres 2012. Nesses quatro anos, começou com um 15º lugar no Mundial de Pequim, na China, mas em 2011 já surpreendeu com um inédito quinto lugar no Mundial de São Paulo. Um ano depois, em Londres, nas Olimpíadas, o Brasil caía nas quartas de final para a Noruega, que acabou campeã, mas conseguia um sexto lugar inédito também.

- Passa muita coisa na minha cabeça. Para as meninas, foi um passeio que começou em 2009. Nesse ano, chamei 48 jogadoras para a seleção, o que é um absurdo. Era meu primeiro ano na seleção e tive muitos problemas. Até de jogadoras que não quiseram mais jogar pela seleção. Em 2010, foram duas fases com as jogadoras da Europa, outro absurdo. E depois, já sabendo que teríamos um Mundial em São Paulo, tivemos que montar um time em um ano para 2011.

Montamos e chegamos às quartas de final, perdendo no último segundo. E nas Olimpíadas, bem, perdemos de novo nas quartas. Isso estava engasgado. É um prazer ver o compromisso delas e que essa caminhada deu certo. Jogamos 18 jogos em dois Mundiais e perdemos apenas uma partida. Dificilmente alguém vai bater esse recorde - disse o técnico Morten.

Info_COLOCACAO_Selecao-Feminina_HANDEBOL_2 (Foto: ARTE ESPORTE)


Os investimentos vieram. Em 2011, pouco antes do Mundial de São Paulo, a Confederação Brasileira de Handebol (CBhb) fechou parceria com o time austríaco Hypo No. A meta era dar rodagem às meninas brasileiras, com o máximo possível de jogadoras atuando no handebol europeu. A CBhb paga parte dos salários, e o Hypo, a outra metade. Do time que disputou o Mundial da Sérvia, seis jogam no Hypo: Dara, Ana Paula, Deonise, Babi, Alê e Fernanda.

comemoração Brasil handebol final Sérvia Mundial (Foto: Site Oficia Serbia2013)Festa na quadra após a dura vitória sobre a Sérvia na final (Foto: Site Oficia Serbia2013)
 
O apoio de empresas também fortaleceu a seleção. O primeiro patrocínio foi o da Petrobras. A parceria com a estatal, iniciada em 2003, foi até 2010 e acabou não renovada pela CBhb, por escolha própria, segundo a empresa. Por ano, a entidade chegou a receber até R$ 2,9 milhões de repasse. Em 2011, no Mundial de São Paulo, já sem a marca BR, o Banco BVA foi o companheiro. O salto financeiro, porém, veio só em 2012, quando os Correios começaram a patrocinar o time. Neste ano, por meio da Lei de Incentivo ao Esporte, o Banco do Brasil passou a investir no handebol dentro do projeto Plano Medalha, criado pelo Governo Federal, por meio do Ministério do Esporte para dar suporte aos esportes com chance de pódio nos Jogos do Rio de Janeiro, em 2016. Ao todo, até lá, serão R$ 9,4 milhões, sendo 4,4 milhões do BB e R$ 5 milhões dos Correios, usados para treinamentos, salários e preparação das seleções masculina e feminina.

 Para 2016, visando a uma medalha em casa, a CBhb não poupará esforços. O técnico Morten Soubak volta para o Brasil, e apesar de ter propostas, deve ficar. Ele, inclusive, não fica no Hypo após o fim da temporada. Vai voltar a morar em São Paulo. Presidente da Confederação, Manoel Luiz Oliveira também pensa em dar mais qualidade ao intercâmbio das meninas. Não é certo que a parceria continue com o Hypo, da Áustria, com o grupo podendo rumar para outras ligas, em países com o handebol mais forte.

- Temos que jogar as melhores ligas. As meninas precisam disputar jogos duros o ano inteiro. E o Hypo precisa investir mais. A parceria está boa, vamos até o fim dela, em junho, e depois vamos conversar. Podemos ficar, mas também podemos buscar outro caminho, em uma liga na Dinamarca, na Noruega. O que não faltam são propostas para a Confederação Brasileira - garantiu Manoel Oliveira.

Info_Selecao-Feminina_HANDEBOL_3 (Foto: Infoesporte)


FONTE:
http://globoesporte.globo.com/handebol/noticia/2013/12/medalha-de-ouro-nao-caiu-do-ceu-titulo-tem-dedo-gringo-e-investimento.html

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