Presidente explica que o clube estava muito perto de fechar os naming rights do estádio e resume transtorno financeiro causado pela interdição
Fechamento do Engenhão já causa problemasfinanceiros ao Botafogo (Foto: Agência Reuters)
Sem querer utilizar a palavra lamentação, o dirigente falou sobre o que o Alvinegro deixará de arrecadar, em período ainda indeterminado, e revelou que estava muito perto de fechar com uma empresa que colocaria seu nome no estádio, o chamado naming rights (direitos de nome, que significa uma parceria para explorar a marca e as propriedades da arena).
- É possível imaginar, mas medir matematicamente, ainda não. Os nossos departamentos já estão debruçados nisso. A gente nunca esteve tão perto de fechar o naming rights do estádio, já estávamos discutindo valores, em um encaminhamento quase para fechar um anúncio oficial.
O valor do acordo iria variar entre R$ 30 milhões e 40 milhões por ano aos cofres do clube.
- Seria um valor menor do que 30 milhões, mas com ações comercias e outras propriedades seria ainda maior do que esse valor - avaliou.
Questionado se com a interdição do estádio, o Botafogo já teria perdido a chance de fechar acordo com as empresas, o mandatário alvinegro foi curto e grosso.
- Ainda não - completou.
Confira mais trechos da entrevista de Assumpção:
Situação interna do Engenhão
Duas questões importantes: primeiro, a postura que o Botafogo teve desde que assumiu o estádio, não foi na minha gestão, foi na gestão do Bebeto de Freitas, até o momento de hoje. Tudo que se refere a manutenção do estádio, pela concessão e obrigação do Botafogo, tem sido feito. A preocupação do Botafogo com esses laudos que têm sido entregues de forma correta para a prefeitura, alertando para determinados problemas são problemas estruturais e pontuais do estádio que o Botafogo vem resolvendo e que nem era da competência do Botafogo. Mas o clube se adiantava e resolvia esses problemas.
Mauricio Assumpção observa atentamente o prefeito, há dois dias (Foto: Edgard Maciel de Sá)
Aqueles apagões que nós tivemos no estádio eram ocasionados por um defeito no sistema de no-break, que o estádio tinha. Na verdade, nós não tínhamos no-breaks, mas sim baterias de caminhões, e o Botafogo resolveu isso. E agora o problema é maior, pois nós vimos que os geradores não suportam a carga para segurar a luz do estádio. Mesmo o no-break estando bem, o gerador não segura a carga. Mas isso, o Botafogo tem resolvido, pois é um problema de manutenção.
Providências
O Botafogo tem uma junta de advogados, que está estudando está questão e que vai orientar o clube em quais providências tomar, de que forma tomar e quando tomar. Esses advogados estão debruçados nessa causa para nos orientar qual o caminho deve seguido para buscar ressarcimento desses prejuízos, que são gigantescos.
Devolução do estádio
O (Carlos Augusto) Montenegro me ligou hoje e a gente tem um diálogo bem tranquilo nessa questão. Mas nesse momento, a decisão não é para a devolução, nesse momento a gente está focado em função dos prejuízos causados pela paralisação das atividades no estádio e todos os prejuízos decorrentes da interdição. Nesse momento, isso não passa pela cabeça da diretoria essa situação.
Impacto em reforços
Quando você fala em um prejuízo de 30 milhões ao ano, é claro que isso vai impactar em qualquer situação do clube, não só no futebol, mas no clube como um todo. Mas tenho muitas pessoas competentes do meu lado. Não teria chegado até aqui após quatro anos de mandato. Para nós, esse momento, foi muito delicado porque, especialmente com essa empresa, nós estamos conversando há seis meses sobre o naming rights e na semana que estamos discutindo valores, acontece isso. Imagina o desânimo que isso não causa?
Deixar de lucrar x Perder dinheiro
Eu deixo de lucrar, mas tenho contratos em vigor, mas que são longos, do próprio estádio. Os patrocinadores da camisa têm placas no estádio. A partir do momento que o estádio não é utilizado, eles perdem exposição. Eles entenderam em um primeiro momento, mas será que vão entender isso sempre? Isso é negócio. Nós assinamos um contrato e temos que cumprir esses compromissos. Como é que eu faço agora? Como entrego o produto para eles? Tem a questão dos camarotes, alguns com três anos de contrato. A própria Ambev com contrato de quatro anos. E fora as outras coisas.
Shows no Engenhão
Um show do Paul McCartney me rende mais do que dez clássicos. Quanto tempo vai ficar fechado? Qual é o prejuízo em relação a isso? São receitas prospectadas. As reais receitas são os jogos, contratos de locação do estádio, que eu já recebi por eles, como filmagens, eventos corporativos. O Botafogo faz a manutenção do estádio, temos o pessoal de limpeza, predial, hidráulica. Tenho contrato com 3, 4 empresas. Se o estádio ficar seis meses sem atividades, quem vai pagar esse pessoal? O Botafogo? São situações delicadas.
Quando chegou a notícia?
Pela concessão, nós somos obrigados a fazer um monitoramento de determinadas questões dentro do estádio e isso vinha sendo feito e os relatórios em cima dessas observações eram entregues para a prefeitura, que tem todos esses. Em 2010, por exemplo, vocês (jornalistas) receberam um relatório desses e naquela época havia uma questão sobre a lona que cobria o estádio, que o Botafogo não fazia a manutenção, que os balões aqui ali e queimavam e nós provamos que fazíamos exatamente o que tinha que ser feito. O que eu entendi de tudo o que aconteceu de terça-feira para cá é que esse monitoramento era feito como deveria ser feito pelo consórcio construtor e, no momento, em que esses laudos convergiram para uma situação de risco, a situação foi passada ao prefeito que determinou a interdição, e com muita propriedade. Não dá para brincar com essa questão.
Problemas internos
Ele (prefeito) deixou claro na coletiva que vai fazer um laudo técnico com toda essas questões. Quem perde isso é a população do Rio de Janeiro. Lá tem meu dinheiro, o de todo mundo. Um estádio que estava orçado em R$ 80 milhões e acabou em R$ 360 milhões, em cinco anos e pouco, começa dar esse tipo de problema. É óbvio que tem que ser investigado com muita propriedade. Eu hoje tenho um problema, na final da Taça Guanabara não tinha água em determinados camarotes, e nem em alguns banheiros do estádio. Por que? Porque a tubulação da água está toda corroída por dentro. Mas ai é um problema que o Botafogo tem que resolver, mas, na verdade, isso é um problema de construção. Se eu ficar esperando para cobrar de quem eu tenho que cobrar, eu não resolvo o problema. A questão dos azulejos (que caem), não é nossa função colocar isso no lugar, mas eu coloco porque sei que se cair na cabeça de alguém, o problema será meu e a gente não quer isso. Então tem uma série de coisas lá dentro e relatórios, que estão nas mãos do prefeito com um monte de problemas de construção do estádio. Ele vai fazer uma auditoria e ver quem tem que ser responsabilizados por esses problemas, se é o consórcio construtor ou se a própria prefeitura.
Caio Martins
Vários aspectos. Se eu for fazer um estádio para o Carioca, eu tenho que ter um público de 10 mil, se for para o Brasileiro, 20 mil. Será que em oito meses eu vou conseguir fazer um estádio para isso? Não sei. Preciso saber quanto tempo vou ficar parado e para que vou querer o Caio Martins. Tudo agora são conjecturas. Existem fatores que dificultam o que eu posso fazer lá.
Acordo para as Olimpíadas
Tinha um acordo. Seis meses antes você tem que limpar o estádio e entregar para o Comitê Olímpico que tem outros patrocinadores. Isso já estava tudo acertado, assim como com a Ambev, com os patrocinadores que eu tenho no estádio e camarotes. Isso já estava, contratualmente, estabelecido antes de assinar.
Volta Redonda e Macaé
Hoje, os estádios que podem receber duas torcidas meio a meio são Volta Redonda e Macaé. Eu disse ao presidente, Rubens Lopes, que o Botafogo joga em qualquer um dos dois sem problemas. A gente prefere jogar em Volta Redonda por uma questão de logística. Ir para Volta Redonda é melhor do que ir para Macaé, que tem a questão do voo sem horário comercial.
“Concorrência do Maracanã”
No Maracanã, quem vai assumir é uma empresa privada e ela vai ter que fazer aquilo dar lucro. Só Flamengo e Fluminense jogando lá, ela vai fazer dinheiro? Ganha-se dinheiro só com jogos de futebol? Não! Exemplos: Morumbi, João Havelange. Se eu tiver 90 partidas por ano, como tive ano passado, pra mim é prejuízo. Poderia ter dois, três shows a mais no ano que não tive. O que a gente tem que entender é que mesmo com Flamengo e Fluminense mandando seus jogos no Maracanã, a empresa quebra. Porque botando público de três, quatro mil pessoas, ela não faz dinheiro.
Futebol Profissional x Futebol Corporativo
Eu ganho mais com futebol corporativo no estádio do que com jogo do futebol carioca. Tenho empresa que paga mais para mim para seus executivos jogarem uma partida no gramado principal, fazerem um churrasco depois, uma comemoração ou uma convenção, do que um espetáculo de futebol. E o pedido que eu tenho de evento nesse nível é altíssimo. Não temo a abertura do Maracanã. Acho que os dois convivem de uma forma muito tranquila.
Abertura Maracanã
Ele (prefeito) me disse que depois das Copa das Confederações o Maracanã estaria aberto aos clubes para o Brasileiro. Se você me perguntar se eu acredito nessa possibilidade, eu diria que acho remota. Eu acho que eles vão abrir para a Copa das Confederações, mas vão ter algumas questões para serem fechadas para a Copa do Mundo. A utilização do Maracanã, plenamente, só acontecerá a partir da Copa do Mundo de 2014. Essa é minha opinião.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/times/botafogo/noticia/2013/03/assumpcao-revela-que-prejuizo-no-engenhao-e-maior-que-r-30-milhoes.html
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