quinta-feira, 28 de março de 2013


Treinador da equipe de vôlei de São Paulo tenta colocar em prática o que aprende no hobby para reverter derrota no primeiro jogo para o Cruzeiro

Por Gustavo Serbonchini e Mônica Ramos Cotia, SP


As mãos que já deram pancadas na bola e garantiram títulos à seleção brasileira hoje são o instrumento para um esporte muito menos agressivo. Para deixar de lado toda a pressão das quadras onde se impõe como treinador após a aposentadoria, Giovane Gávio encontrou no golfe a paz que precisava na busca pelo bicampeonato da Superliga. Em quadra neste sábado às 10h (de Brasília) diante do Cruzeiro, com transmissão da Rede Globo, o Sesi-SP precisa vencer para seguir vivo nos playoffs após uma derrota por 3 a 0 no primeiro jogo da semifinal, na semana passada.
Para colocar as coisas no lugar e traçar um caminho pela vitória, Giovane voltou ao campo de golfe na cidade de Cotia, onde costuma treinar, para respirar fundo e buscar a concentração necessária antes do confronto. Como perdeu o primeiro jogo, o Sesi não pode pensar em derrota se quiser chegar pela segunda vez à decisão da Superliga.

Giovane Gavio técnico Sesi golfe (Foto: Gustavo Serbonchini)Giovane Gavio usa golfe para buscar tranquilidade à beira da quadra (Foto: Gustavo Serbonchini)

– Você é obrigado a tomar decisões em todas as tacadas. Tem de ter paciência para olhar a bolinha, a grama e fazer uma série de analises antes de bater. Mapear tudo. E com o golfe eu comecei a ficar mais esperto em relação a essas estratégias de sair da situação e pensar no que está acontecendo em volta. Como técnico, por eu ter sido jogador, às vezes eu quero tomar a decisão no calor do momento, na raça. E o treinador não pode ser assim. Tem de sair da situação, pensar e ver o que pode falar para ajudar. Você é obrigado a pensar constantemente. Pensar é uma prática. E no golfe você consegue isso.

Giovane se aposentou das quadras em 2005 após conquistar tudo o que se pode conseguir por uma seleção. Foi bicampeão olímpico, da Copa do Mundo, da Copa dos Campeões e do Campeonato Mundial de Vôlei. Foi dele o ponto decisivo na conquista do Mundial, em 2002. Em um saque arriscado, o jogador mandou a bola na risca e fechou a partida em 3 sets a 2 diante da Rússia. No ano seguinte após a aposentadoria, já iniciou a vida como treinador. Começou na extinta Unisul (SC) e está à frente do Sesi desde a criação do time, em 2009. Foi campeão do Campeonato Sul-Americano (2011), campeão da Superliga (2010/2011), campeão do Campeonato Paulista (2009) e tricampeão da Copa São Paulo (2011/2010/2009).

Nas quadras, Giovane era reconhecido por sua raça, técnica e empenho, além de ser um líder. À beira dele, é rígido, mas não é particularmente explosivo. É um treinador mais de conversa. E é exatamente neste sentido que o golfe o ajuda tanto.

– A gente joga com outras pessoas, mas no golfe é você contra o campo. Seu relacionamento contra o campo. E isso é desafiador. Falam que é calmo, quieto. E é disso que eu preciso hoje. Saio da quadra estressado, com a cabeça a mil por hora e aqui sou obrigado a abaixar a adrenalina, a ficar tranquilo e voltar a pensar direito de novo.

mosaico Giovane Gavio técnico Sesi golfe (Foto: Gustavo Serbonchini)

Das quadras para o campo

Giovane começou sua trajetória no golfe há cerca de um ano e meio. Após se aposentar e tentar o tênis – desistiu por conta das dores no joelho devido ao impacto com a quadra –, ele encontrou no esporte com o taco o que precisava para seguir sendo competitivo. Multicampeão, o ex-jogador de vôlei não queria deixar de lado a emoção de vencer seus próprios limites e achou uma nova maneira de seguir em busca da superação pessoal.


Giovane Gavio técnico Sesi golfe (Foto: Gustavo Serbonchini)Giovane encontrou no golfe um hobby para o tempo livre  (Foto: Gustavo Serbonchini)

No golfe, a disputa é contra oponentes, mas sempre na tentativa de quebrar as próprias marcas. São 18 buracos para tentar encaçapar a bolinha com o menor número de tacadas. E por mais que haja a preocupação com o adversário, o objetivo é tentar diminuir seu handicap – número de jogadas além do estipulado pelo campo para finalizar a partida, sendo que o objetivo é chegar a zero ou até menos. Atualmente, Giovane precisa de 28 tacadas a mais do que o número base de 72.

– Você já é competitivo desde que começa no golfe em função do seu handicap. Isso é muito bom. Você ter a sensação de disputar novamente. E é isso que falta como ex-atleta. São vinte anos competindo e tendo o gostinho da vitória, e, quando para, não tem mais. Jogando aqui, eu volto a ter essa sensação.

Por ser ex-atleta profissional de alto rendimento Giovane tem vantagens em desvantagens na mudança das quadras para os campos. Sempre se destacou pela força, e seus músculos atrapalham um pouco na hora de fazer o swing para bater na bolinha. Além disso, a sequência de movimentos também é oposta à que fazia em frente à rede. No vôlei, era uma pancada para frente na hora de cortar. No golfe, a rotação é o mais importante.

– Tem todo um processo para entrar no clima, tentar não fazer força. A vida inteira foi fazendo força, mas no golfe é calmo. Essa é uma das coisas que eu gostei. Aqui tem de deixar as coisas ruins para trás, senão a gente pega errado, e a bola vai na direção errada e você não acerta o buraquinho de jeito algum.


Mas ter sido atleta de vôlei também beneficia o atual treinador do Sesi. No esporte desde os 13 anos de idade, Giovane aprendeu que a determinação e a repetição são fundamentais para conseguir o sucesso. E ele tenta fazer isso no campo de golfe. Quando está com a agenda mais tranquila, treina três vezes por semana para aperfeiçoar seus movimentos e vencer seus próprios limites
.
– Eu sempre fui detalhista, perfeccionista, sempre quis o melhor movimento, e isso me ajudou bastante. E a vontade de querer vencer. A gente precisa de treino, repetição. Movimentos têm de ser construídos. É assim nos dois esportes. Os músculos atrapalham um pouco por travar o movimento. Quanto mais suave for, melhor. Então eu pego aqui e fico batendo para memorizar o movimento. E nessa memória você, como ex-atleta, tem mais facilidade.

Giovane Gavio técnico Sesi golfe (Foto: Gustavo Serbonchini)Giovane Gavio acredita na virada do Sesi (Foto: Gustavo Serbonchini)

Para chegar à final

Giovane Gavio técnico Sesi golfe (Foto: Gustavo Serbonchini)Giovane tem usado golfe para desestressar (Foto: Gustavo Serbonchini)

Por mais que tente usar o golfe para esquecer um pouco do momento, Giovane não mente e diz que a semifinal da Superliga vem tirando seu sono. Mesmo assim, o treinador do Sesi confia em uma reviravolta diante do Cruzeiro. A derrota na primeira partida não é motivo para desanimo. Ainda mais por conta do retrospecto recente da equipe. A situação é bem parecida das quartas de final da Superliga e da decisão do Campeonato Paulista.
Pelo regional, depois de sair perdendo a partida inicial da série melhor de três jogos por 3 a 2 para o Campinas, o Sesi conseguiu dois triunfos consecutivos sem perder sets e assegurou o bicampeonato. Nas quartas da competição nacional, a história foi bem semelhante frente ao Canoas. Perdeu o primeiro jogo (3 a 2) e venceu os dois seguintes (3 a 2 e 3 a 0) para chegar à semifinal.

– Esse ano está sendo uma constante. Sem dúvida, o fato de ter vivido duas situações como essa nos dá confiança de lutar mais ainda. Assistindo ao jogo, estudando, é possível vencer e enquanto a bola estiver viva vamos lutar por essa classificação – explicou.

E é justamente no golfe que Giovane espera a energia para reverter a situação e chegar a mais uma final.

– Você precisa ter tranquilidade para administrar a euforia da vitória e o desânimo da derrota no playoff. Construir uma semana boa. Aqui, recarrego as baterias para voltar mais centrado. Estamos ansiosos, nervosos, mas estamos dispostos a mudar a situação.

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