Temporada tem sete pilotos na briga pelo título, volta dos pontos corridos, carro incendiado, novo banco de carbono e emoção até a última curva
A Stock Car iniciou a 34ª temporada de sua história disposta a
simplificar, estreitando ainda mais a sua relação com os fãs. Após seis
anos, o sistema de SuperFinal foi extinto. Em vez de selecionar os dez
pilotos mais bem colocados para disputar o título nas quatro etapas
finais, a categoria trouxe de volta os pontos corridos, mas com um
elemento especial: uma pontuação mais apertada, contemplando os 20
primeiros colocados, e com valor dobrado na última etapa do ano, o que
fez com que sete pilotos chegassem à final com chances de título. Uma
etapa, por sinal, mais do que especial: pela primeira vez, a Corrida do
Milhão encerrou a temporada, e trouxe ainda mais emoção à decisão, com
uma forte influência da estratégia na briga pela vitória e pelo prêmio
de R$ 1 milhão.
Foi um final cinematográfico para um ano agitado, que teve estreias de
peso, como as de Rubens Barrichello, Tony Kanaan e Helio Castroneves,
além da adoção de um novo banco de fibra de carbono, mais moderno e
resistente – que passou literalmente por uma prova de fogo logo em sua
primeira corrida. No ano da dolorosa despedida do autódromo de
Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, a Stock viu um carioca fazer história,
com o quinto título do piloto Cacá Bueno. De contrato assinado com a
mesma fornecedora de pneus da Fórmula 1, a categoria entra em 2013
disposta a crescer ainda mais nas pistas do Brasil.
Após a conquista do tetra, em 2011, o novo ano começou com o lema
“todos contra Cacá”. Mas o piloto da RBR Mattheis não se incomodou muito
com isso, e continuou fazendo o que sempre fez: ganhar corridas,
alternando as vitórias com pontos importantes quando não era possível
subir ao topo do pódio. Uma receita que já havia ajudado e muito nas
conquistas anteriores, e que foi fundamental na caminhada rumo ao
pentacampeonato. Com três vitórias na temporada, Cacá se consolidou em
2012 como o maior vencedor em atividade na categoria e se isolou como o
segundo maior campeão da história, atrás apenas do mito Ingo Hoffmann,
dono de 12 títulos. Feliz também com o título brasileiro de seu time de
coração, o Fluminense, e com a gravidez da esposa Talita, Cacá
aproveitou o bom momento e revelou qual é a sua meta na Stock Car:
faturar oito campeonatos. Só faltam três. Os adversários que se
cuidem...
Antes mesmo da largada, os elementos que cercavam a 12ª e última etapa
do campeonato já eram suficientes para atrair a atenção do público: um
prêmio milionário para o vencedor, pontuação dobrada e a decisão do
campeonato, com sete pilotos na disputa pelo título. Mesmo assim, a
prova conseguiu superar as expectativas. Com dez minutos a mais que as
outras etapas da temporada, a corrida trouxe a estratégia à tona, já que
uma entrada longa do Safety Car poderia eliminar a necessidade de
parada nos boxes para troca de pneus e reabastecimento. Ao todo, foram
quatro intervenções, e muitos apostaram nesta hipótese. Porém, isso não
foi suficiente para dar a vitória a Allam Khodair, que liderou desde a
primeira volta, até precisar colocar mais etanol no tanque faltando
apenas duas para o final.
O consumo de combustível também traiu outros pilotos, inclusive Cacá
Bueno, que brigava pelo título. O piloto da RBR Mattheis fez a última
curva na liderança da corrida, mas o prêmio de R$ 1 milhão escapou de
suas mãos a 400 metros da bandeirada. Mesmo garantindo o título com um terceiro lugar,
o competidor viu Thiago Camilo superá-lo no final para se tornar o
primeiro piloto a vencer duas vezes a Corrida do Milhão. O segredo para a
vitória foi um pit stop logo na segunda volta, já que o carro 21
largava apenas na 20ª posição. Uma mistura de sangue, suor e lágrimas, já que Camilo chorou muito e se cortou durante a comemoração.
Quem é Galid Osman? Muitos telespectadores devem ter feito esta
pergunta quando o piloto do carro 28 assumiu a liderança da Corrida do
Milhão a duas voltas da bandeirada. Ele acabou ficando pelo caminho por
falta de combustível, mas seu desempenho – ultrapassando Cacá Bueno com
autoridade – mostrou porque este até então desconhecido piloto paulista
foi o melhor estreante da temporada. Vindo de uma boa temporada na
divisão de acesso, Galid teve boas performances nos treinos
classificatórios e pontuou com regularidade com o carro da equipe FTS. A
nova revelação da Stock Car chamou a atenção da equipe RCM, que contará
com seus serviços em 2013, como companheiro de Thiago Camilo.
Nenhuma as 12 corridas da temporada 2012 foi mais sofrida para pilotos e
equipes do que a sexta etapa, que marcou a despedida do Autódromo
Nelson Piquet, no Rio de Janeiro. Foi a última vez que a Stock Car
visitou o circuito carioca – já modificado pelas obras dos Jogos
Pan-Americanos de 2007 – antes da demolição completa. A área já está
sendo transformada em um parque poliesportivo para as Olimpíadas de
2016.
Em quarenta anos de história, a pista situada no bairro de Jacarepaguá,
Zona Oeste da cidade, recebeu dez GPs de Fórmula 1, além de provas da
Indy e do Mundial de Motovelocidade. Durante os treinos e a corrida, o
clima foi de fim de festa, com operários trabalhando enquanto os pilotos
aceleravam seus carros. Sem o Rio no calendário, a Stock terá uma
compensação para os fãs, e voltará a correr em Goiânia. É mais uma pista clássica que volta ao calendário, após o retorno de Tarumã e Cascavel em 2012.
Das centenas de equipamentos que compõem um carro de competição, nenhum
recebeu mais críticas de pilotos e chefes de equipe ao longo desta
temporada da Stock Car do que os pneus. Os compostos de borracha
fabricados nos Estados Unidos tiveram uma série de problemas nas
corridas, provocando abandonos de favoritos e forçando muitos pilotos a
parar nos boxes de maneira não programada. O ápice da crise foi na oitava etapa, em Cascavel, quando nada menos que 13 competidores tiveram suas provas prejudicadas por furos ou rasgos,
já que um pequeno desnível entre o asfalto e as zebras aumentava a
pressão lateral. A etapa seguinte, em Tarumã, também foi desastrosa para
os competidores: como o asfalto velho era extremamente abrasivo, os
carros tiveram que andar em um ritmo muito abaixo do normal para evitar
problemas, e mesmo assim houve quem precisasse parar nos boxes.
Ao fim do ano, o contrato entre a fornecedora e a categoria foi rescindido, e a Stock Car anunciou um acordo com a mesma empresa que fabrica os pneus da Fórmula 1.
Os novos compostos serão importados da Turquia, e um ex-engenheiro da
McLaren acompanhará a adaptação deles aos carros da Stock em todas as
corridas da temporada 2013.
Mais moderno e mais seguro em caso de impactos, principalmente laterais, com estrutura em fibra de carbono, o novo banco da Stock Car fez sua estreia na etapa de Curitiba, a 10ª da temporada 2012. O equipamento chegou causando estranheza aos pilotos, que precisaram fazer adaptações ao revestimento de espuma especial até chegar à forma ideal.
Para auxiliar os competidores, a categoria teve um dia extra de
treinos, na quinta-feira anterior à prova, mesmo dia em que foi feito um
teste de saída do cockpit em caso de emergência, devido às dimensões
diferentes do banco em relação ao anterior, de alumínio, que era menor.
Quatro pilotos foram escolhidos. Entre eles, Lico Kaesemodel, que
cumpriu a tarefa em seis segundos.
O que o paranaense não imaginava é que transformaria a simulação em
prática apenas três dias depois. Após ganhar dez posições nas primeiras
voltas, o carro 63 sofreu uma quebra na roda traseira em uma disputa por
posição, que logo se transformou em um incêndio. Avisado pela equipe
via rádio, Lico abriu a porta e saltou, antes que as chamas chegassem ao
cockpit. Momentos de tensão que felizmente terminaram bem para o
competidor do carro 63.
- Foi Deus que colocou esse teste na minha frente – disse o piloto, aliviado.
Depois de desbravar as sombrias ruas de Gotham City, o Batmóvel deu as
caras em São Paulo. Mas, ao volante do clássico carro das telinhas, nada
de Homem Morcego, e sim o Homem-Aranha. Isso mesmo, o Homem-Aranha.
Este é o apelido de Helio Castroneves, um dos pilotos convidados
especiais para a Corrida do Milhão, que tem o costume de comemorar suas
vitórias na Fórmula Indy escalando os alambrados dos circuitos. Algo que
ele já fez por três vezes em Indianápolis, após ganhar as tradicionais
500 milhas. Helinho se divertiu ao sentir o gostinho de dar uma volta em
Interlagos com o famoso carro do Batman. Ele guiou uma réplica do
primeiro modelo, usado na série de TV da década de 1960. Entretanto,
nada de acelerar forte. Parece que o possante do Batman, dessa vez,
estava sem superpoderes.
- Espero que o Batman não fique chateado. É um carro clássico, foi legal ter tido essa oportunidade. Mas acho que o Robin deixou alguma coisa solta lá, porque estava difícil para pisar fundo. Liguei até para o Comissário Gordon para ver se resolvia – brincou o "Homem Aranha" das pistas.
É bom que se diga: em momento algum Cacá Bueno desprezou o prêmio
milionário destinado ao vencedor da Corrida do Milhão. Mas, durante todo
o fim de semana que encerrou a temporada 2012, o piloto do carro número
0 deixou claro que sua prioridade não era o dinheiro, e sim o quinto
título na Stock Car. Nas voltas finais, ele esteve perto de conseguir as
duas coisas. Liderava a prova em Interlagos e já havia feito a última
curva do circuito de 4.314 metros quando o carro da RBR Mattheis ficou
sem combustível. No embalo, ele conseguiu cruzar em terceiro lugar.
Perdeu o milhão, mas festejou a suada conquista do campeonato.
- Dinheiro é papel. Penta é histórico – afirmou, orgulhoso de seu feito.
Quando a temporada da Fórmula Indy chegou ao fim, Rubens Barrichello
aceitou o convite da equipe Full Time para disputar a Corrida do Milhão,
que encerrava o campeonato da Stock Car. Empolgado, acabou assinando
para participar das três provas finais. E não fez feio. Em duas delas,
classificou-se para largar entre os dez primeiros, e mostrou uma rápida
adaptação ao “manhoso” carro da categoria, sua primeira experiência em
turismo após 19 temporadas na Fórmula 1. Além disso, a
vontade de voltar ao Brasil depois de mais de duas décadas competindo
no exterior também pesou na decisão de permanecer na Stock em 2013. Será um reforço de peso para a categoria, e deve brigar por pódios ao longo da temporada.
Sete
pilotos chegaram à Corrida do Milhão concorrendo ao título da Stock Car
2012. Quem levou a melhor foi Cacá Bueno, que se tornou campeão pela
quinta vez na categoria (Foto: Fernanda Freixosa / Divulgação)
Cacá Bueno faturou o pentacampeonato na Stock
Car em 2012 (Foto: Rafael Gagliano/Divulgação)
Car em 2012 (Foto: Rafael Gagliano/Divulgação)
Thiago Camilo e Ricardo Maurício na chegada apertada da Corrida do Milhão (Foto: Duda Bairros / Stock Car)
Estreante do ano, Galid Osman liderou a Corrida
do Milhão (Foto: Fernanda Freixosa / Stock Car)
do Milhão (Foto: Fernanda Freixosa / Stock Car)
Cacá Bueno treina enquanto operário trabalha no novo complexo olímpico (Foto: Luca Bassani / Stock Car)
Cacá teve um pneu furado e não pontuou na etapa
de Cascavel (Foto: Marcelo Maragni / divulgação)
de Cascavel (Foto: Marcelo Maragni / divulgação)
Stock Car terá a mesma fornecedora de pneus da F-1 em 2013 (Foto: Duda Bairros / Stock Car)
Mais moderno e mais seguro em caso de impactos, principalmente laterais, com estrutura em fibra de carbono, o novo banco da Stock Car fez sua estreia na etapa de Curitiba, a 10ª da temporada 2012. O equipamento chegou causando estranheza aos pilotos, que precisaram fazer adaptações ao revestimento de espuma especial até chegar à forma ideal.
Lico Kaesemodel ajustado ao novo banco da Stock Car (Foto: Luca Bassani / divulgação)
- Foi Deus que colocou esse teste na minha frente – disse o piloto, aliviado.
7 pilotos | R$ 2 milhões |
4 convidados |
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A temporada 2012 teve o maior número de pilotos na briga pelo
título dos últimos anos. Cacá Bueno, Átila Abreu, Ricardo Maurício,
Daniel Serra, Max Wilson, Valdeno Brito e Nonô Figueiredo chegaram à
etapa final com chances de ficar com a taça, que foi conquistada mais
uma vez por Cacá Bueno. |
Este é o prêmio acumulado por Thiago Camilo com suas duas vitórias
na Corrida do Milhão. Vencedor em 2011, o piloto repetiu a dose em 2012,
e desta vez com uma tática ousada: largando em 20º, ele reabasteceu
logo na segunda volta e foi ganhando posições até tomar a liderança de
Cacá Bueno a 400 metros da linha de chegada. |
As etapas finais da temporada tiveram pilotos de renome
internacional abrilhantando as pistas brasileiras. Rubens Barrichello,
Tony Kanaan, Helio Castroneves e Rafa Matos participaram da Corrida do
Milhão como convidados especiais. Rafa já garantiu participação em toda a
temporada 2013, e os demais cogitam a Stock como opção para os próximos
anos. |
O "Homem-Aranha" Helio Castroneves no Batmóvel
em Interlagos (Foto: Alessandra Horst / Divulgação)
em Interlagos (Foto: Alessandra Horst / Divulgação)
- Espero que o Batman não fique chateado. É um carro clássico, foi legal ter tido essa oportunidade. Mas acho que o Robin deixou alguma coisa solta lá, porque estava difícil para pisar fundo. Liguei até para o Comissário Gordon para ver se resolvia – brincou o "Homem Aranha" das pistas.
Cacá Bueno comemora o pentacampeonato na
Stock Car (Foto: Bruno Terena / Divulgação)
Stock Car (Foto: Bruno Terena / Divulgação)
- Dinheiro é papel. Penta é histórico – afirmou, orgulhoso de seu feito.
Recordista de GPs na F-1, Barrichello gostou de competir na Stock Car (Foto: Miguel Costa Jr. / Divulgação)
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