Afeitos ao papo ao pé do ouvido, técnicos defendem postura mais contida. Comandante alvinegro brinca: 'A diferença entre nós é que ele jogava muito'
Encaixados no grupo dos treinadores que costumam poupar as cordas
vocais e que raramente causam atrito à sua volta, Oswaldo de Oliveira,
61 anos, e Cristóvão Borges, 52, à distância, são bem parecidos em seu
modo de trabalhar, na própria personalidade e na origem de suas
trajetórias. No entanto, basta um olhar mais apurado para identificar
que, à medida que detalham a mudança das características ao longo das
respectivas carreiras, os finalistas da Taça Rio trilharam caminhos
inversos.
Ao revisitar suas memórias, o comandante do Botafogo assume que o perfil light nem sempre fez parte de seu dia a dia. Após a saída de Vanderlei Luxemburgo, em 1999, deixou de ser auxiliar, assumiu o Corinthians e se viu diante de um turbilhão de cobranças às quais não estava acostumado. E vez por outra agia com a emoção, se deixando levar com facilidade. Somente com a experiência adquirida é que se acalmou e passou a ser apontado como um sereno inabalável.
- A questão da ansiedade é o ponto principal para mim. Comecei numa
situação especial, num timaço, com assédio grande. Aquilo mexeu comigo,
foi tudo emocionante demais. Eu tinha mais de vinte anos de futebol, mas
como preparador físico. E já dizia que minha vida seria um antes e
depois daqueles momentos. Mas com o tempo fui me habituando a ver as
coisas com naturalidade, mesmo nas circunstâncias difíceis e importantes
- analisou Oswaldo, que não acredita mais em preconceito e acusações de falta de pulso por ser diferente da maioria.
- Existem outras maneiras de se comportar, é difícil falar sobre isso, porque há quem pense de outra forma e tem que existir respeito por todos. Meu caminho é o da ponderação, do papo, do trabalho ao longo da semana para não precisar mudar tudo durante o jogo, me desesperando. Mas não abro mão de erguer a voz quando necessário - reforça o alvinegro, invicto nas 21 partidas que esteve no banco de reservas, na temporada, contra quatro derrotas do rival deste domingo.
Há quase oito meses como técnico do Vasco – desde que Ricardo Gomes sofreu um AVC (Acidente Vascular Cerebral) –, Cristóvão Borges mostrou mudanças em seu comportamento durante as partidas. Inicialmente contido e preocupado apenas em transmitir suas instruções, recentemente passou a gesticular muito, falar mais alto e até mesmo contestar a arbitragem, indicando um veia contrária à do amadurecimento progressivo do colega. Ainda assim, segue discreto e sem grandes exaltações, até mesmo nos lances mais emocionantes de jogos decisivos.
No dia a dia dos treinamentos, mostra-se tranquilo. Mesmo enfático em suas instruções, não costuma levantar a voz, a não ser para elogiar um movimento ou uma boa jogada. Tanto no gramado quanto no vestiário e na concentração, Cristóvão é adepto da conversa ao pé do ouvido. Gosta de unir o auxílio técnico ao emocional e tem em jogadores como o meia Felipe um confidente. O papo particular também é arma de Oswaldo, muito próximo de Fellype Gabriel, por exemplo. Mas nas atividades a participação é intensa e à base de gritos de incentivo.
- Realmente tenho percebido que mudei o comportamento desde que comecei
a ficar à beira do campo. Mas muito disso é também pelo fato de o Vasco
ter disputado muitos jogos decisivos, que têm uma carga de emoção maior
e exigem mais atenção. Algumas pessoas aqui no Vasco dizem que eu me
transformo - brinca Cristóvão, que não pretende mudar sua linha geral.
- Meu trabalho tem um pouco o meu retrato, é da minha natureza. Não posso entrar em qualquer jogo ou em qualquer dificuldade e ficar transtornado. Tem que passar isso (tranquilidade). Mas a equipe ser aguerrida tem a ver com aquilo que conversamos na intimidade - argumenta.
Por fim, Oswaldo - acostumado a liderar as equipes amadoras nas quais era meia-direita - traçou outra diferença que considera primordial entre ele e o colega cruz-maltino - capitão dos times pelos quais passou e integrante da Seleção Brasileira na Copa América de 1989.
- Somos mesmo bastante parecidos. Mas tem um detalhe bem diferente: o Cristóvão jogava muito! - brincou, arrancando gargalhadas na sala de imprensa com sua sinceridade.
Ambos medem forças a partir das 16h deste domingo, no Engenhão, pela final da Taça Rio.
Ao revisitar suas memórias, o comandante do Botafogo assume que o perfil light nem sempre fez parte de seu dia a dia. Após a saída de Vanderlei Luxemburgo, em 1999, deixou de ser auxiliar, assumiu o Corinthians e se viu diante de um turbilhão de cobranças às quais não estava acostumado. E vez por outra agia com a emoção, se deixando levar com facilidade. Somente com a experiência adquirida é que se acalmou e passou a ser apontado como um sereno inabalável.
Cristóvão e Oswaldo orientam os times com estilos parecidos (Foto: Editoria de Arte/GLOBOESPORTE.COM)
- Existem outras maneiras de se comportar, é difícil falar sobre isso, porque há quem pense de outra forma e tem que existir respeito por todos. Meu caminho é o da ponderação, do papo, do trabalho ao longo da semana para não precisar mudar tudo durante o jogo, me desesperando. Mas não abro mão de erguer a voz quando necessário - reforça o alvinegro, invicto nas 21 partidas que esteve no banco de reservas, na temporada, contra quatro derrotas do rival deste domingo.
Há quase oito meses como técnico do Vasco – desde que Ricardo Gomes sofreu um AVC (Acidente Vascular Cerebral) –, Cristóvão Borges mostrou mudanças em seu comportamento durante as partidas. Inicialmente contido e preocupado apenas em transmitir suas instruções, recentemente passou a gesticular muito, falar mais alto e até mesmo contestar a arbitragem, indicando um veia contrária à do amadurecimento progressivo do colega. Ainda assim, segue discreto e sem grandes exaltações, até mesmo nos lances mais emocionantes de jogos decisivos.
No dia a dia dos treinamentos, mostra-se tranquilo. Mesmo enfático em suas instruções, não costuma levantar a voz, a não ser para elogiar um movimento ou uma boa jogada. Tanto no gramado quanto no vestiário e na concentração, Cristóvão é adepto da conversa ao pé do ouvido. Gosta de unir o auxílio técnico ao emocional e tem em jogadores como o meia Felipe um confidente. O papo particular também é arma de Oswaldo, muito próximo de Fellype Gabriel, por exemplo. Mas nas atividades a participação é intensa e à base de gritos de incentivo.
Oswaldo deu broncas no grupo no campo, algo
que o colega evita (Foto: Ivo Gonzalez / O Globo)
que o colega evita (Foto: Ivo Gonzalez / O Globo)
- Meu trabalho tem um pouco o meu retrato, é da minha natureza. Não posso entrar em qualquer jogo ou em qualquer dificuldade e ficar transtornado. Tem que passar isso (tranquilidade). Mas a equipe ser aguerrida tem a ver com aquilo que conversamos na intimidade - argumenta.
Por fim, Oswaldo - acostumado a liderar as equipes amadoras nas quais era meia-direita - traçou outra diferença que considera primordial entre ele e o colega cruz-maltino - capitão dos times pelos quais passou e integrante da Seleção Brasileira na Copa América de 1989.
- Somos mesmo bastante parecidos. Mas tem um detalhe bem diferente: o Cristóvão jogava muito! - brincou, arrancando gargalhadas na sala de imprensa com sua sinceridade.
Ambos medem forças a partir das 16h deste domingo, no Engenhão, pela final da Taça Rio.
Cristóvão e Felipe em particular: mesmo às vezes fora, meia admira o técnico (Foto: Iivo Gonzalez / O Globo)
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