domingo, 16 de outubro de 2011

Jefferson sonha homenagear Barbosa e goleiros negros em 2014

Em entrevista exclusiva, goleiro fala sobre o desejo de ser titular na Copa e admite que sua responsabilidade aumentou após jogos pela Seleção


Por Thiago Fernandes Rio de Janeiro


Duas atuações seguras contra a Argentina e um pênalti defendido em momento crítico do amistoso contra o México. Jefferson aproveitou com competência as oportunidades na Seleção Brasileira e hoje já pode ser considerado o reserva imediato de Julio César, depois de ter ido à Copa América como terceira opção.
E as apresentações convincentes pela Seleção levam o goleiro do Botafogo, de 28 anos e 1,88m, a acreditar que está no caminho certo para realizar um sonho: ser o camisa 1 na Copa do Mundo no Brasil em 2014.
Se isso realmente acontecer, Jefferson, habituado a conviver com as superstições alvinegras, terá que suportar mais uma. Em 1950, quando a Copa também foi realizada no Brasil, Barbosa foi o goleiro da equipe que perdeu para o Uruguai na final. O segundo gol da derrota por 2 a 1 na decisão marcou profundamente o futebol brasileiro e o camisa 1 daquela tarde. Barbosa chegou a dizer uma vez que a pena máxima no Brasil era de 30 anos, mas que ele estava condenado à prisão perpétua.

jefferson especial botafogo (Foto: André Durão/Globoesporte.com)Jefferson, paredão alvinegro, exibe as mãos (Foto: André Durão/Globoesporte.com)

Negro como o goleiro de 50, Jefferson sabe que as comparações serão inevitáveis. Mas não as teme e diz que quer fazer uma grande Copa para homenagear Barbosa e todos os goleiros negros que, segundo o atleta, ainda são vítimas de preconceito.

- Quero fazer homenagem não só a ele, como a todos os goleiros negros que existem no futebol. Vários goleiros negros me cumprimentam e dão os parabéns dizendo que através da minha pessoa muita coisa está sendo quebrada no futebol – disse.

Mas os sonhos de Jefferson não se restringem à Copa. Depois de finalmente conseguir se mudar para Niterói, cidade onde mais se sente em casa, o goleiro acha que as coisas podem dar ainda mais certo em campo. Em entrevista concedida no Museu de Arte Contemporânea (MAC), Jefferson falou das chances do Botafogo no Brasileiro, da Seleção e das propostas de fora do país.

mini header Jefferson (Foto: Editoria de Arte / GLOBOESPORTE.COM)
GLOBOESPORTE.COM: O amistoso contra o México foi um jogo-chave para você mostrar seu valor com a camisa da Seleção?
JEFFERSON: Sem dúvida. Essa foi praticamente minha estreia na Seleção principal. Tinha jogado os dois jogos contra a Argentina, mas eram só os jogadores do Brasil que podiam ser convocados. Fico feliz de estrear bem, com a vitória. Ainda mais do jeito que foi, ajudando, e de uma maneira emocionante.

O torcedor do Botafogo sempre o reverenciou, mas as atuações pela Seleção parecem tê-lo apresentado ao resto do país. Sente isso também?
Em todos os jogos a gente tem que mostrar que pode para todo mundo. A responsabilidade aumentou mais depois desses jogos pela Seleção. Mas estou confiante. Estou no caminho certo. O Mano sempre confiou em mim mesmo não jogando. Estou mostrando que tenho condição de ser titular.

Isso é uma obsessão?
Sempre foi. Quem estiver na Seleção e não quiser ser titular é melhor nem estar lá. Sempre respeito meus companheiros, mas do mesmo jeito que o Julio quer ser titular, o Victor quer ser, eu também quero. A amizade fica fora dos campos. Nós nos damos muito bem.

Se você for titular na Copa do Mundo no Brasil, as pessoas podem associar o fato de você ser negro à derrota para o Uruguai em 50, quando o Barbosa era o goleiro da Seleção. Tem medo disso?
Não, pelo contrário. Até aceito esse desafio. Tenho a oportunidade de mudar essa historia. Isso é passado. O Brasil está bem mais desenvolvido nessa questão do racismo e preconceito. Vejo como mais uma oportunidade de mudar esse cenário. Quem sabe não sou titular na Copa para acabar com isso de uma vez?

Vai ser uma chance de fazer uma homenagem ao Barbosa?
Com certeza. Quero fazer homenagem não só a ele, como a todos os goleiros negros que existem no futebol. Vários goleiros negros me cumprimentam e dão os parabéns dizendo que através da minha pessoa muita coisa esta sendo quebrada no futebol. Até quando eu fui para fora disseram isso (Jefferson jogou quatro anos na Turquia). Estou tendo a oportunidade de abrir portas para outros goleiros agora na Seleção.

mosaico Jefferson (Foto: Editoria de Arte / GLOBOESPORTE.COM)
Você já foi alvo de preconceito?
Aqui no Brasil, não. Na Turquia, também não. Todo mundo gostava da gente. Tinha eu e mais três da Guiné. Graças a Deus, sempre fui querido.

Mas você comentou que alguns goleiros negros dizem que você abriu portas. Sente que no Brasil ainda tem preconceito?
Com certeza existe. Não pode esconder que no Brasil existe. Mas são poucas pessoas. São pessoas pobres de espírito. A gente não pode julgar as pessoas pela cor ou pela aparência, mas sim pelo que elas são.

Voltando a falar de Copa, já imaginou uma final contra o Uruguai do Loco?
Ia ser muito bom. Muito bom mesmo. Claro que a gente ainda não sabe como vai estar até lá. Ainda faltam mais de dois anos. Espero estar na Copa como titular.

Se houver o jogo entre Brasil e Uruguai, a torcida do Botafogo vai torcer por quem?
(Risos) Acho que eles vão ficar meio divididos, mas claro que vão torcer pelo Brasil. Não tem cabimento torcer por outro país. Nessa hora todas as bandeiras se unem pelo país.

Na Copa das Confederações também pode ter esse duelo. Já conversou com o Loco sobre isso?
O Loco é meio maluco e daqui a pouco começa a falar. Na Copa América ele falou. Fico feliz pelo Loco, mas é claro que quando estiver lá a gente vai fazer cada um o melhor para o seu lado.

E se tiver pênalti? Será que vai ter cavadinha?
Ele não vai cavar. Ele é maluco, mas não vai cavar. Todo goleiro agora vai ficar parado.

O ambiente e os treinos da Seleção são muito diferentes do Botafogo?
Não muda muita coisa. Eu sempre treinei no Botafogo com muita alegria e determinação e na Seleção é igual. Claro que quando você veste a amarelinha sua alegria é dobrada. Mas quando veste o manto do Botafogo a gente se transforma. A alegria é a mesma.

Faltam dez rodadas para o fim do Brasileiro, e o Botafogo vem de uma grande vitória sobre o Corinthians, depois de tropeçar em casa.  A equipe acredita mesmo que pode levar o título?
Sem dúvida. O que estamos buscando é o título. Não podemos mais perder pontos bobos. Temos que respeitar o adversário, mas entrar para matar os jogos. Empatamos duas seguidas em casa, mas a vitória sobre o Corinthians nos colocou de novo na briga.

O Botafogo não sente que pode chegar tão perto do título desde 1995, quando foi campeão. Vocês sentem essa pressão por poderem fazer história?
A gente sai na rua e os torcedores cobram o título, mas a maioria nos cobra a Libertadores, porque faz muito tempo que o Botafogo não vai. Nosso objetivo é o título. Vamos brigar por isso. Mas se chegar nas últimas rodadas e, infelizmente, não tivermos mais chances, aí vamos lutar com tudo pela Libertadores. Mas nossa meta é o título.

Como está o relacionamento interno de vocês? O Marcio Azevedo e o Everton, por exemplo, já reclamaram publicamente de decisões do Caio Júnior. Como é a relação com o treinador?
Eu não tive oportunidade ainda de conversar com o Everton, e o Marcio Azevedo estava de cabeça quente. Mas o clima é muito bom. Todo mundo respeita o Caio Júnior. Temos um grupo forte, focado no titulo. Quando acontece alguma coisa tipo essa,  resolvemos internamente.

Recentemente, foi especulado que haveria interesse de clubes da Europa em você. Ainda tem vontade de jogar lá?
Interesse eu tenho com certeza, mas estou muito feliz no Botafogo. Se aparecer um clube agora, tem
que primeiro conversar com o Botafogo. Se for bom para o clube, tudo bem. Se não, estou bem aqui
.
Com sua atual situação, você só sairia para um clube de ponta?
Pelo momento que eu passo no futebol, com certeza pensaria duas vezes antes de sair. Quando eu saí pela primeira vez, tinha 22 anos, a situação era diferente. A questão financeira pesava muito. Hoje, a situação profissional pesa mais. Não adianta eu sair do time para ir para fora e ficar sumido
.
E se chegar uma proposta no fim do ano com o clube na Libertadores? Você faria questão de jogar a competição antes de deixar o clube?
Com certeza. O sonho de todos os jogadores é disputar a Libertadores pelo clube que gosta. Minha cabeça não está em sair. Mas se for bom para o Botafogo, a gente analisa.

Saindo um pouco do futebol, o que você gosta de fazer no dia a dia?
Como o tempo é curto, eu gosto muito de estar com minha família. Tento me adaptar às minhas filhas. O que elas querem fazer, eu faço: ir para a praia, para o shopping, ao zoológico, o que for. Sei todos os desenhos de cor. Não tem o que pague a alegria delas.

O seu filme preferido é “Em busca da felicidade”. Sintetiza seu momento agora?
Sem dúvida. O filme é muito emocionante. Todo mundo na Seleção gosta também.

FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/times/botafogo/noticia/2011/10/jefferson-sonha-homenagear-barbosa-e-goleiros-negros-em-2014.html

Um comentário:

Saulo disse...

Tenho certeza que o Jefferson vai conseguir lembrar o Barbosa em 2014. É simplesmente o melhor goleiro do Brasil.

Ronald Rios canta a nova música do Loco e fala da vitória no Pacaembu

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