CHAPECOENSE
Vitória sobre o Avaí na noite em que acidente de Medellín completa meio ano coroa com o primeiro lugar do Brasileirão processo de reconstrução cheio de voltas por cima, equilíbrio dentro de campo, fôlego e força em Chapecó
Por Cahê Mota,
Chapecó
A Chape inicia em grande estilo o Brasileiro (Foto: Futura Press)
Vagner Mancini mantém os pés no chão e freia a empolgação. Diz que a
liderança é momentânea. Tudo bem, em um Brasileirão tão longo, alcançar o
topo da tabela na terceira rodada costuma realmente ser algo
temporário. No caso da Chapecoense, porém, trata-se de algo simbólico e
histórico. Primeiro, por ser um feito inédito para um time que disputa a
Série A somente pela sexta vez. E, principalmente, pela forma como tudo
aconteceu. A vitória sobre o Avaí, que alçou o clube ao primeiro lugar,
foi conquistada na noite em que o acidente trágico de Medellín
completou seis meses. Coincidência que ressalta a rapidez de um processo
de reconstrução pautado em seis passos que ajudam a explicar o sucesso:
Capacidade de reação
A liderança do Brasileirão é mais uma resposta da Chapecoense a um
momento que questionamento nesta temporada. Foi assim quando perdeu para
o Lanús, em casa, e emendou uma série de oito vitórias consecutivas.
Quando caiu por 3 a 0 para o Nacional, do Uruguai, e em seguida
despachou o Avaí, na Ressacada, em triunfo determinante para o título
estadual. E agora, depois do 4 a 1 para o Atlético Nacional na final da
Recopa. Ali, levantou-se dúvidas sobre a força do Verdão contra rivais
de maior nível técnico. Como o time respondeu? Com cinco partidas de
invencibilidade, quatro vitórias em sequência - duas na Libertadores e
duas no Nacional - e a ponta da tabela na disputa mais importante do
país.
Descobertas no elenco
Salta aos olhos a maneira com o Chapecoense se redescobre ao longo da
temporada. Mais do que isso: como peças antes pouco destacadas mudam o
rumo da equipe. Foi assim na arrancada que acabou com o título
catarinense, quando Luiz Otávio, Luiz Antonio e Arthur ganharam a
posição no decorrer da competição e não saíram mais. Agora, Jandrei e
Victor Ramos se tornaram peças importantes no sistema defensivo, além de
Seijas, que parece resolver a carência no setor de criação. Entra e sai
que mantém o nível da equipe, fruto da homogeneidade do elenco sem
estrelas.
Conquistas em campo
A máxima é repetitiva, mas futebol é resultado. E as conquistas ao
longo desses seis meses têm sido determinantes para respaldar o trabalho
de Vagner Mancini e aumentar a confiança do elenco. Mesmo em derrapadas
marcantes, como as já citadas acima, nunca colocou-se em dúvida o
planejamento para temporada de reconstrução. Reflexo de uma performance
que só poderia ser considerada decepcionante na Primeira Liga - que foi
jogada com time misto. Campeã estadual, a Chape fez sua parte dentro de
campo e avançaria às oitavas da Libertadores se não fosse a escalação
irregular de Luiz Otávio, conseguiu vencer um dos confrontos da Recopa e
lidera do Brasileirão. Como contestar?
Força na Arena Condá
A nova Chape tem muitas características da equipe campeã da
Sul-Americana. Veloz pelas pontas, forte nas bolas paradas, consistente
defensivamente.... A principal marca, entretanto, é a força da Arena
Condá - já tradicional nas campanhas recentes do clube. A sinergia com o
torcedor, que relembra as vítimas de 29 de novembro a cada minuto 71,
garantiu quase 70% de aproveitamento dos pontos em Chapecó neste
primeiro semestre. São 19 partidas, com 11 vitórias, seis empates e
apenas duas derrotas, para o Lanús, na Libertadores, e para o Avaí,
quando festejou o título estadual. No Brasileirão, 100% contra Palmeiras
e o próprio Avaí.
Muito da regularidade apresentada pela Chapecoense vem de sua
consistência tática. Desde o amistoso com o Palmeiras, em janeiro, com
menos de um mês de trabalho, Mancini definiu o equipe em um 4-3-3, com
volantes livres para avançar ao ataque de maneira alternada e pontas
abertos dos dois lados. E foi assim que o Verdão venceu o Avaí,
segunda-feira, 35 jogos depois. Com 43 jogadores utilizados em 2017, a
Chape muda as peças, mas não as características. É verdade que muitas
vezes o 4-3-3 alternou para um 4-2-3-1 ou até 4-1-4-1, mas tudo fruto
dessa sincronia dos homens de meio-campo. Depois que Luiz Antonio e
Girotto entrosaram e deram equilíbrio ao meio-campo, Mancini teve
segurança até mesmo para fazer testes com Dodô, João Pedro - que deu
muito certo - e agora Seijas no setor.
Preparo físico
Um time que consegue bons resultados com 35 partidas realizadas em
pouco mais de quatro meses merece destacar também a preparação física.
Mesmo em derrotas como as que teve para Avaí, na Ressacada, Lanús,
Nacional e Atlético Nacional, em momento algum a falta de fôlego foi
apontada como determinante. Com um elenco numeroso, a Chapecoense tem
conseguido dosar a carga de treinamentos e poupar peças quando
necessário. A maior prova do planejamento bem feito foi a vitória sobre o
Lanús, em Buenos Aires, no último compromisso de uma maratona de 28
dias fora de Chapecó. Mancini disse após a vitória que valeu a liderança
no Brasileirão que em duelos equilibrados é preciso correr mais que o
adversário. E a Chape tem mostrado que tem perna para isso.
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