terça-feira, 10 de novembro de 2015

Interlagos apresenta cara nova para a F-1, mas velhos problemas persistem


Ampliação do paddock é a principal novidade para o GP do Brasil deste domingo



Por
São Paulo


header livio oricchio (Foto: Editoria de Arte)


Pilotos, técnicos, dirigentes, profissionais da Fórmula 1, de modo geral, vão trabalhar já a partir de quinta-feira em um autódromo diferente, em São Paulo, onde domingo será disputada a 44ª edição do GP do Brasil. Interlagos passa por importante reforma. Nesta segunda-feira ainda havia muitos funcionários envolvidos na conclusão da primeira parte do projeto previsto para ficar pronto em 2016. As obras visam a obter dois resultados, em especial: oferecer maior espaço para as equipes e ampliar o paddock, área atrás dos boxes, onde quase tudo acontece na F-1. As instalações existentes até a edição do GP do Brasil do ano passado colocavam Interlagos como o mais deficitário nesse aspecto, dentre todos os circuitos do calendário.

Apesar da reforma, a área do paddock, espaço compreendido entre os boxes, à direita, e a nova edificação das equipes, à esquerda, continua reduzida (Foto: Alexandre Gonçalves)
Apesar da reforma, a área do paddock, espaço 
compreendido entre os boxes, à direita, e a 
nova edificação das equipes, à esquerda, 
continua reduzida (Foto: Livio Oricchio)


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Mas quem visita o autódromo hoje tem a impressão de que os objetivos foram atingidos apenas parcialmente. Por exemplo: o espaço entre a área posterior dos boxes e a nova edificação que recebe as equipes, a que define o paddock, cresceu somente de 8 metros de largura para 10. Manteve-se na extensão.

E mesmo as áreas das equipes não ganhou a dimensão esperada, ainda que o avanço nos dois pontos críticos de Interlagos tenha sido relevante. Melhor: quando tudo estiver pronto, para a edição do GP do Brasil do ano que vem, o autódromo oferecerá algo inédito e de extraordinária serventia, o paddock coberto, com luz e ventilação naturais.

Ainda quanto ao paddock, mesmo com o aumento da área, o do circuito de São Paulo seguirá sendo o mais estreito da F-1, menor até mesmo que nos circuitos de rua. Há razões para isso. A principal é o imenso desnível do terreno. O engenheiro responsável por orientar a definição do projeto, Luis Ernesto Morales, explica: “Para deslocar a construção (da edificação das equipes) mais para o vale estaríamos falando de outra obra, o investimento teria de ser muito maior”. Seria preciso criar uma imensa laje para compensar a vale.

Imagem aérea do Circuito de Interlagos, palco do GP do Brasil de Fórmula 1 (Foto: Divulgação)
Circuito de Interlagos mais uma vez é o palco do 
GP do Brasil de Fórmula 1 (Foto: Divulgação)


Paddock estreito pode criar dificuldades para quem trabalha na F-1, mas há quem goste. Na edição de 2014, o GloboEsporte.com ouviu Niki Lauda, ex-piloto e hoje diretor da Mercedes, sobre o que seria feito em Interlagos, notadamente a ampliação do paddock. Ele disse: “Para quê? Na China o paddock é imenso. Você nunca cruza com ninguém lá. Não existe o clima de corrida que temos aqui. Gosto desse espírito de Interlagos”.

Para não repetir o que sempre acontecia no autódromo, as imensas caixas das equipes não vão mais permanecer no paddock, ocupando espaço vital diante das já severas limitações para deslocamento. “Temos um lugar próprio para essas caixas”, disse Morales. Solução simples, mas de larga repercussão nas necessidades operacionais de todos.

A edificação nova de Interlagos criou novos espaços para as equipes e sobre ela a construção que servirá de área de serviço para o paddock club (Foto: Alexandre Gonçalves)
A edificação nova de Interlagos criou novos 
espaços para as equipes e sobre ela a 
construção que servirá de área de 
serviço para o paddock club 
(Foto: Livio Oricchio)


E quanto à área das equipes, o engenheiro responsável diz que Interlagos disponibiliza, agora, uma área livre para a Formula One Management (FOM). “As divisórias são móveis. Podemos ampliar ou reduzir os espaços para as equipes de acordo com o que nos pedirem.” A FOM nesses casos dá preferência, como não poderia deixar de ser, às escuderias que têm maior número de integrantes nos eventos, Ferrari, RBR, Mercedes, McLaren, ainda que por conta da contenção de custos haja um limite de 57 profissionais.

Na segunda fase do projeto, esse espaço para as equipes vai crescer em extensão, acompanhando os últimos boxes. Isso permitirá ampliar a atual área. Em conversa com integrantes dos times, que nesta segunda-feira trabalhavam na montagem de seus espaços, o GloboEsporte.com ouviu: “Está muito melhor do que era, mas se fizeram tudo novo por que não nos deram maior espaço?”

Na área da Williams, por exemplo, Felipe Massa e Valtteri Bottas terão espaço, individualizados, extremamente exíguo, algo como 1,5 por 3 metros.

As equipes estabelecem por conta própria como ocupar suas áreas. Em geral há uma divisão para os pilotos, uma para as reuniões dos engenheiros com os pilotos, outra para o grupo de marketing, uma quarta destinada aos profissionais de comunicação enquanto a maior delas serve para a instalação das mesas para as refeições.

Esta última permitirá, agora, que as entrevistas com os pilotos e os diretores dos times sejam realizadas lá. Como antes não havia, os encontros dos jornalistas com os personagens do show eram muito tumultuados.
O ponto mais criticado de Interlagos, por vezes motivo de chacota, parece atender, agora, às necessidades de seus profissionais: a cozinha. Cada escuderia tem seus próprios cozinheiros. Era comum integrantes do catering brincarem com alguns jornalistas, chamar a atenção para o fato de ter de deixar panelas no chão, por falta de bancada ou uma pia longa.

A maior reivindicação das equipes foi atendida: uma área para a instalação da cozinha (Foto: Alexandre Gonçalves)
A maior reivindicação das equipes foi atendida: 
uma área para a instalação da cozinha 
(Foto: Livio Oricchio)


A maior disponibilidade de espaço atenuou bastante o problema, assim como a instalação de dois exaustores e do ar condicionado para cada time agradou bastante, ainda que persista a ausência de bancadas, sinalizada por profissionais à reportagem do GloboEsporte.com.

Quem caminha pelo paddock observa o guarda corpo de vidro do andar de cima da edificação das equipes ainda por ser concluído, como tantas outras coisas na obra. Sobre a laje da edificação já existe outra construção, mas ainda na fase de bloco de concreto, sem acabamento, janelas, portas. Ela servirá como área de serviço para o paddock club, localizado sobre os boxes.

Para 2016, os boxes vão ser novos. Ocuparão a mesma área dos atuais, mas serão mais altos.
Paddock club são espaços destinados a empresas, essencialmente. Seus ingressos são os mais caros do evento, pela localização, sobre os boxes, e por disporem de serviço de alimentação, dentre outros. Seis pontes, sobre o paddock, ligarão essa área de serviço, com cozinhas e banheiros, ao paddock club, que ocupará a área superior dos novos boxes em 2016.

A impressionante extensão dessa construção sobre a laje das áreas das equipes, com cerca de 80 metros por 12 de largura, destinada ao paddock club, visa a atender, também, outros usos do autódromo. “Foi concebida de acordo com a filosofia da reforma, ou seja, Interlagos poder ser usado para outros eventos. Conciliamos os dois lados, o das necessidades da F-1 com a vida do autódromo no ano todo”, explicou Morales.

As equipes dispõem, agora, de espaço funcional em Interlagos, ainda que não seja como gostariam (Foto: Alexandre Gonçalves)
As equipes dispõem de espaço funcional em 
Interlagos, ainda que não seja como gostariam 
(Foto: Livio Oricchio)


Opinião

O que primeiro chama a atenção de quem já caminhou pelos paddocks de todos os circuitos da F-1 é, de fato, a dimensão reduzida do existente em Interlagos, mesmo agora, depois da reforma. Não era possível se deslocar sem pedir licença e continuará sendo assim. O argumento da topografia desfavorável do sítio procede. De fato, para estender uma longa laje, como fizeram os responsáveis pelo autódromo da Hungria, por conta de talude ainda mais pronunciado, exigiria um orçamento bem elevado.

O paddock estreito, ainda que desaconselhável, não inviabiliza o sucesso do evento. E a questão é até controversa, diante da visão de personagens como Lauda. O que é incompreensível na reforma de Interlagos, por exemplo, é o uso destinado à construção sobre a área das equipes.
Estamos falando de algo como 80 metros de extensão por 12. Tudo isso para apenas servir de cozinha e banheiro para o paddock club? O engenheiro responsável diz que é possível utilizar apenas parte dessa construção, de acordo com a necessidade do evento, não apenas a F-1.

Seria muito mais interessante para o autódromo, e para a F-1, se houvesse uma escada interna nas áreas das equipes para acessar a área nesse espaço superior. As equipes poderiam realizar ali as reuniões entre pilotos e engenheiros, ou mesmo apenas técnicas, como faz parte da sua rotina nos fins de semana de competição.

As escuderias teriam uma área mais reservada, separada da de serviço, e não tudo junto, como hoje. Mais importante: qual a necessidade de uma área gigantesca de 80 metros por 12 para o paddock club? É perfeitamente possível manter uma área dessa construção destinada ao paddock club e parte dela ser ocupada pelas equipes nesse modelo de ocupação, uma parte no térreo e outra no primeiro andar. Solução adotada em outros autódromos, como Suzuka, por exemplo.

Outro aspecto difícil de ser compreendido é a primeira fase ainda não estar pronta. “As obras começaram em março”, afirma Morales. Funcionários ainda colocavam cimento no solo em algumas partes do autódromo, entregavam os banheiros sem pintura no teto, com o gesso aparente, ainda passavam silicone entre as lâminas de vidro que formam a parede frontal das áreas das equipes, sem nenhuma preocupação com o acabamento.

Quando o teto do paddock estiver coberto não mais será necessário esse silicone para fechar os vãos das lâminas, verdade, mas e hoje, por que não haver nenhuma preocupação com acabamento. O resultado é chocante. “Parece a obra da Índia”, afirmou um integrante da Ferrari.

O piso do paddock, no fim da fase 2 do projeto, vai estar nivelado com o da área das equipes e dos novos boxes. Hoje, há um desnível importante. Na hipótese provável de chuva forte em Interlagos nos próximos dias, a chance de a água invadir a área das equipes é real.

Infelizmente poucas obras no Brasil observam a importância do acabamento, muitos veem como questão supérflua, mas que no fundo não deixam de ser reveladoras da cultura de um povo. No caso, a precisão não é algo cultuado.

A F-1 desembarca em São Paulo proveniente do México. Lá também o autódromo foi reconstruído e em uma extensão muito maior que em Interlagos. E quando o evento chegou no Autódromo Hermanos Rosdriguez, tudo estava pronto, acabado, ao menos os espaços destinados aos profissionais da F1. E funcionando muito bem. Não é o caso de São Paulo. Não foi por falta de tempo. Mas diante do histórico das obras públicas no país, nem um pouco surpreendente.


Horários Circuito corrida GP Brasil (Foto: Globoesporte.com)
Horários corrida GP Brasil (Foto: Globoesporte.com)

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