Crise técnica, faltas e gramados ruins impedem que marca chegue aos 60 minutos recomendados pela entidade. Embora maior, média da Copa também fica devendo
Goiás x Vitória foi o jogo com mais tempo de bola rolando até agora no Brasileiro (Foto: O Popular)
A partida com mais tempo de bola em movimento foi Goiás x Vitória, na oitava rodada, que teve 62m49s. O mais curioso é que isso não se traduziu em gols, e os dois times ficaram no empate em 0 a 0. Na sequência vem o confronto válido pela sétima rodada entre Chapecoense e Palmeiras, vencido pela equipe catarinense por 2 a 0, com 61m57s. Na terceira colocação aparece Cruzeiro 3 x 0 Flamengo, na nona rodada, com 61m16s, seguido por Figueirense 0 x 2 Santos, pela quarta rodada, que teve 60m05s. Todas as demais 86 partidas registraram menos de 60 minutos de bola rolando.
Vitória x Sport foi o jogo com menos tempo de bola rolando até agora no Brasileiro (Foto: Ag. Estado)
Na média, o Brasileirão teve até agora 52m29s de bola rolando por jogo, praticamente 7m30s a menos que o ideal. A Copa do Mundo, com jogos em bom nível técnico, supera o campeonato nacional, mas também está abaixo da média da Fifa, com 57m36. Vale registrar que o Mundial teve tempo de acréscimo dos árbitros maior em relação ao Brasileiro, tanto no primeiro tempo (1m50 contra 1m24) como na etapa complementar (4m10 contra 3m09). Ainda assim, a média de bola rolando no Mundial ficou cerca de 2m30 abaixo do recomendado. Na comparação da média de gols, a Copa também leva: 2,6 (171 gols em 64 jogos), contra 2,1 (193 gols em 90 partidas) do Brasileiro.
(Imagem: InfoEsporte)
Sérgio Corrêa diz que tempo de bola rolando tem relação com número de faltas (Foto: André Durão)
O presidente da Comissão de Arbitragem da CBF, Sérgio Corrêa, afirma que a estatística tem relação com o número de faltas. Quanto menos o árbitro interrompe o jogo, mais tempo de bola rolando. Na Série A, a média de faltas é de 34 por jogo (3.072 em 90 partidas), enquanto na Copa este número cai para 30 (1.928 em 64 confrontos). Segundo ele, outra diferença está na qualidade dos gramados nos estádios e no próprio comportamento dos jogadores estrangeiros, que não têm o hábito de "encenar" uma infração para enganar o juiz durante as partidas.
Nos campeonatos aqui no Brasil tem jogador que se "lesiona" com a placa de
substituição
levantada só para retardar a saída de campo, e assim ganhar tempo
Sérgio Corrêa
Em 1990, a média de faltas no Brasil era de 58 por partida. Com a ajuda da própria Fifa e, sobretudo, graças ao trabalho da Comissão de Arbitragem que vem realizando cursos regulares com os árbitros e assistentes de todo o país desde 2008, essa média de faltas caiu para 34 por jogo no ano passado e se manteve nas nove rodadas iniciais do Brasileirão de 2014. Apesar da evolução ainda estamos atrás da média de faltas registrada por alguns países como Inglaterra (21), Espanha (27) e Itália (28). Basta assistir aos jogos do Campeonato Inglês para observar que muitas faltas não são marcadas. São jogadas viris, mas sem maldade - afirma Corrêa.
Dos 20 clubes da Série A, o Sport (192) é o time que mais cometeu faltas até a nona rodada. Na última colocação está o Corinthians (118). Uma das maneiras que os árbitros têm para coibir tanto a violência como o antijogo e o rodízio de faltas é através do uso dos cartões. Na Série A foram aplicados até a interrupção para a Copa 413 amarelos (média de 4,5 por jogo) e 20 vermelhos (média de 0,2 por partida). O Coritiba (28) foi a equipe que mais recebeu cartões amarelos, enquanto que o Sport, clube mais faltoso, teve 19. Por sua vez, o Fluminense (13) foi a equipe que menos levou este tipo de advertência. O Bahia (3) registrou o maior número de expulsões, enquanto Atlético-PR, Botafogo, Criciúma, Flamengo, Grêmio, Palmeiras e Vitória tiveram apenas um jogador expulso cada.
O italiano Marchisio foi um dos dez
jogadores expulsos na Copa do 4
Mundo no Brasil (Foto: Reuters)
No Mundial foram aplicados 184 amarelos (média de 2,8 por jogo) e 10 vermelhos (média de 0,15 por partida). Embora estes números indiquem um rigor maior por parte dos nossos juízes, o Brasileirão ainda está atrás de alguns campeonatos europeus no que diz respeito à quantidade de cartões amarelos, como por exemplo o Espanhol (5,48 cartões por jogo) e o Italiano (5,06). Já a média de expulsões é inferior à do Espanhol (0,41), do Italiano (0,33) e do Francês (0,32).
Apesar do número de bolas e de gandulas ao redor do gramado ter aumentado para agilizar o andamento dos jogos ainda se perde muito tempo não só em lances de falta, como também nos laterais, escanteios e tiros de meta. Em média, cada partida da Série A ficou parada 13 minutos por conta da demora na cobrança de faltas. No entanto, nos confrontos Sport 2 x 1 Chapecoense e Bahia 1 x 1 Vitória este tempo chegou a 20m50 e 19m41, respectivamente. Já os arremessos laterais consumiram cerca de oito minutos por jogo, sendo que na partida Vitória 0 x 1 Sport foi registrado 14m11 de tempo perdido só com este tipo de lance. Por sua vez, os tiros de meta tiraram quase 6m50 de cada partida. O caso que chama mais atenção é o da partida Flamengo 1 x 1 Bahia, que teve 11m23 desperdiçados devido à demora dos goleiros na hora de repor a bola. Os escanteios também contribuem para diminuir o tempo de bola rolando, já que cada jogo costuma perder 4m22 com a lentidão das equipes para bater o corner. Neste quesito, o confronto entre Vitória e Sport também se destacou, com 11m18 de tempo perdido.
Crise técnica
Lédio diz que jogadores brasileiros tentam "apitar" o jogo a todo custo (Foto: Reprodução SporTV)
- Vivemos uma crise técnica no Brasil. Os jogadores reclamam de tudo com os árbitros e tentam "apitar" o jogo a todo custo. Ao sofrer uma falta, por exemplo, o jogador demora a se levantar e isso vai "comendo" tempo. Os juízes também contribuem para esta situação, pois são complacentes com a atitude dos atletas, "amarrando" o jogo com uma quantidade excessiva de faltas, muitas delas desnecessárias. A partida não flui, não desenvolve. Tem árbitro que marca muita falta até para se desgastar menos fisicamente.
Enquanto na Copa vemos vários jogos com até cinco minutos ou mais de acréscimo, no Brasileiro os árbitros preferem dar aquele tempo padrão, assinalando um minuto no primeiro tempo e três na etapa complementar.
Vivemos uma crise técnica no Brasil. Os jogadores reclamam de tudo com os árbitros e tentam "apitar" o jogo a todo custo.
Lédio Carmona
- Os árbitros brasileiros são orientados a dar o acréscimo necessário para a recuperação do tempo devido na partida. A gente tem observado uma padronização no tempo dos acréscimos: um a dois minutos no primeiro tempo e três a quatro minutos na segunda etapa. O árbitro não tem que copiar, inventar ou padronizar, mas, sim, recuperar o tempo que efetivamente foi perdido em cada partida.
Gramados ruins também comprometem
Campos em más condições como o Joia interfere no tempo de bola rolando (Foto: Diego Ribeiro)
- Num gramado de péssima qualidade é muito difícil de rolar a bola, manter no pé, fazer as jogadas. A bola rola diferente. Finalizar é difícil também. Como se não bastasse, o número de faltas é muito maior porque o jogo é mais de contato. Você não consegue trocar passes, então a bola sempre fica mais presa.
Apesar de o time pernambucano ter conquistado os três pontos, o atacante Érico Júnior, do Sport, reconhece que tanto o time pernambucano como o Vitória acabaram sendo prejudicados pela má condição do gramado do estádio Joia da Princesa. Além disso, o jogo ficou mais "amarrado", pois o árbitro marcou muitas faltas até para evitar contusões graves.
- O campo prejudicou muito o toque de bola. A grama estava soltando, o chão cheio de lama e qualquer coisa o árbitro marcava falta, até para prevenir alguma lesão. Foi o pior estádio que jogamos até agora e, por isso, creio que a qualidade do jogo não foi tão boa. Sabíamos que seria decidido na bola parada, como foi.
A presença do público nos estádios está diretamente ligada ao nível técnico das partidas. Enquanto na Copa, as arenas ficaram lotadas em quase todos os jogos, no Brasileiro a média de público este ano é de 12.504 espectadores por jogo, inferior inclusive à de 2013 (14.951). O maior público pagante foi de 44.975, no triunfo do Vitória sobre o Fluminense por 2 a 1, no Maracanã, pela terceira rodada. Na média, o Corinthians tem a melhor o melhor desempenho, com 28.095 espectadores por partida. Já o pior público foi no empate em 1 a 1 entre Atlético-PR e Chapecoense, no estádio Willie Davids, em Maringá, pela quinta rodada, com apenas 766 pagantes. O Furacão também tem a pior média da Série A, com 3.804 torcedores por jogo.
Clubes opostos
Drubscky afirma que sempre valoriza a posse de bola nos treinamentos (Foto: Globoesporte.com)
- Isso me deixa muito feliz, pois não é coincidência. Quem acompanha meus trabalhos e minhas palestras sabe que eu sempre peço para valorizar o jogo e a posse de bola. Já temos números interessantes. Hoje em dia temos muitas ferramentas para analisar um jogo de futebol e muitos especialistas. Os números às vezes apontam falhas, mas também podem indicar que estamos indo bem em alguns quesitos. Sempre queremos valorizar o bom futebol.
E. Ribeiro diz que posse de bola ajuda o Cruzeiro a ter mais chances de gol (Foto: Reginaldo Castro)
- É uma característica da nossa equipe, gostamos de ficar com a posse de bola e assim a gente consegue atacar bastante. O Marcelo nos orienta para ficarmos com a bola nos treinamentos, e isso ajuda na hora de manter ela em jogo.
Já nos dez jogos em que a bola menos rolou, Vitória e Atlético-PR aparecem em três partidas cada um. A equipe paranaense não tem nenhum jogo entre os dez confrontos com mais tempo de jogo, e o Leão, apenas um. Para o volante Otávio, do Furacão, a explicação não está na qualidade dos gramados, mas sim no nivelamento entre as equipes e na marcação cada vez mais forte.
- Creio que os gramados não têm interferido. Devido à readequação dos estádios para a Copa do Mundo, os gramados estão bons. Acredito que seja mais porque as equipes têm se dedicado bastante à marcação. O futebol está bem competitivo e acho que por isso temos pouco tempo de bola rolando. É claro que o ideal seria um jogo com mais tempo de bola rolando. Isso seria melhor não só para quem está assistindo ao jogo como para quem está jogando. O futebol está cada vez mais disputado. E o nivelamento das equipes dentro de campo, principalmente quanto à marcação, torna as partidas com menos tempo de bola rolando.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/noticia/2014/07/em-90-jogos-ate-agora-brasileirao-so-tem-4-com-padrao-fifa-de-bola-rolando.html
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