sexta-feira, 25 de maio de 2012

Protagonistas do mais antigo clássico paulista, iniciado em 1913, Corinthians e Santos vão se enfrentar por vaga na final da Libertadores

Por Gustavo Serbonchini e Rodrigo Faber São Paulo

É o destino: Corinthians e Santos protagonizarão um dos clássicos paulistas mais importantes da história pela semifinal da Taça Libertadores da América de 2012. Com a vitória do Peixe nos pênaltis sobre o Vélez Sarsfield nesta quinta-feira, o confronto por uma vaga na decisão se confirmou: enquanto os santistas, atuais campeões, lutam pelo tetra da competição continental, os corintianos vão em busca do título inédito, considerado uma obsessão pela torcida.
A rivalidade alvinegra é quase centenária. Começou no dia 26 de julho de 1913, com vitória santista por 6 a 3, e se destacou, desde o início, pelos longos tabus impostos por ambos os lados. Logo no início da história do clássico, o Santos passou seis anos sem perder para o Corinthians (ou seja, até 1919). O maior período de seca imposto pelo Corinthians foi de sete anos (1976 a 1983). Ao contrário do conhecido tabu da era Pelé, na qual o Timão ficou 22 jogos sem vencer o Peixe apenas pelo Campeonato Paulista, a equipe de Parque São Jorge não foi derrotada pelo rival da Baixada em nenhuma competição profissional daquele período.

Neymar Santos Emerson Sheik Corinthians (Foto: Montagem sobre foto da Reuters)Neymar e Emerson Sheik, esperanças de Santos e Corinthians (Montagem sobre fotos da Reuters)
 
Na Libertadores deste ano, as campanhas dos rivais na primeira fase foram semelhantes. Ambos avançaram como líderes de seus grupos: o Santos com 13 pontos (quatro vitórias, um empate e uma derrota) e o Corinthians com 14 (quatro vitórias e dois empates). A diferença veio no mata-mata. Tanto nas oitavas quanto nas quartas de final, a equipe do Parque São Jorge se classificou empatando sem gols fora de casa e vencendo no estádio do Pacaembu. Já o time da Baixada perdeu as duas fora de casa (2 a 1 para o Bolívar e 1 a 0 para o Vélez Sarsfield), decidindo a vaga com vitórias no Alçapão da Vila Belmiro.
Inevitavelmente, o destaque inicial do confronto é o duelo entre o eficiente ataque do Peixe e a sólida defesa do Timão: liderado por Neymar, o Santos marcou 22 gols em dez jogos (média de 2,2 por jogo), enquanto o Corinthians foi vazado apenas duas vezes na mesma quantidade de partidas (média de 0,2) e detém a segunda melhor defesa da história da competição, atrás apenas do Junior Barranquilla-COL de 1978, que tomou um gol em seis jogos (média 0,17), mas caiu na primeira fase daquele ano.

tite muricy ramalho santos corinthians (Foto: Editoria de Arte/GLOBOESPORTE.COM)Tite e Muricy, os estrategistas de Timão e Peixe
(Montagem: Editoria de Arte/globoesporte.com)
 
Aliás, o time da capital não sofreu nenhum gol jogando como mandante e ainda tem a chance de se sagrar o sexto campeão invicto da história da Libertadores. Peñarol-URU (1960), Santos (1963), Independiente-ARG (1964), Estudiantes-ARG (1969 e 1970) e Boca Juniors-ARG (1978) já conquistaram o feito.
Independentemente do resultado que obtenha contra o Santos, o Corinthians já igualou sua melhor campanha na história da Libertadores. Em 2000, uma das melhores equipes da história alvinegra, com figuras como Marcelinho Carioca, Vampeta, Rincón, Edilson e Luizão, sucumbiu para o arquirrival Palmeiras nos pênaltis, pela segunda vez consecutiva. O campeão seria o Boca Juniors. O roteiro agora é parecido - o Corinthians tem um rival paulista nas semifinais e vê o Boca pintando com força do outro lado da chave.
CORINTHIANS SANTOS
122 vitórias 96 vitórias
555 gols marcados 471 gols marcados
Maior vitória:
11 a 0, em 1920,
na Vila Belmiro
Maior vitória:
8 a 3, em 1927, na Vila Belmiro
O histórico geral de confrontos entre Timão e Peixe, independentemente da competição, apresenta larga vantagem para o time do Parque São Jorge. Em 301 jogos, foram 122 vitórias do Corinthians, contra 96 triunfos do Santos, além de 83 empates. O Alvinegro Praiano balançou as redes 471 vezes, contra 555 gols do rival.
O Corinthians tem um retrospecto equilibrado em seus confrontos com outras equipes brasileiras na história desta competição. Em 10 Libertadores, o clube disputou 20 partidas contra outras equipes brasileiras, conseguindo oito vitórias, cinco empates e sete derrotas, com 23 gols marcados e 23 sofridos.Palmeiras (seis vezes), Flamengo (quatro), Internacional, Botafogo, Grêmio, Atlético/MG e Vasco, duas vezes cada, são os brasileiros que já cruzaram o caminho corintiano no torneio.

O Santos, por outro lado, tem um retrospecto negativo em jogos com outras equipes brasileiras na Libertadores. O Peixe enfrentou 10 vezes seus compatriotas dentro da competição, obtendo apenas três vitórias, além de dois empates e cinco derrotas. Em 1963, o Peixe eliminou o Botafogo nas semifinais da competição (1 a 1 e 4 a 0); em 1984, na primeira fase, o Peixe foi goleado duas vezes pelo Flamengo (4 a 1 no Maracanã e 5 a 0 no Morumbi); em 2005, o Santos foi eliminado nas quartas de final, com duas derrotas diante do Atlético-PR (3 a 2 em Curitiba e 2 a 0 na Vila Belmiro).

Enquanto o Timão vem embalado por uma vitória justamente sobre um compatriota, o Vasco, o Peixe não enfrenta adversários brasileiros na competição continental desde 2007. E a lembrança de cinco anos atrás não é nada boa. Também pela fase semifinal, o Santos acabou eliminado pelo Grêmio por conta de um gol marcado fora de casa pelo Tricolor Gaúcho, que venceu por 2 a 0 no Olímpico e perdeu por 3 a 1 na Vila Belmiro.
Embora a Conmebol ainda não confirme as datas oficiais, Corinthians e Santos devem se enfrentar nos dias 13 e 20 de junho. Para aumentar ainda mais a ansiedade do torcedor, o GLOBOESPORTE.COM selecionou grandes momentos da história do clássico paulista, apresentados abaixo. Relembre e se prepare para este jogaço!


Ronaldo, comemoração gol na Vila Belmiro (Foto: Marcos Ribolli)Ronaldo comemora golaço sobre o Santos na Vila, na decisão de 2009 (Foto: Marcos Ribolli)
 
GRANDES VITÓRIAS DO CORINTHIANS
Maior de todos os tempos (Santos 0 x 11 Corinthians - Paulista de 1920)
Esta é a maior goleada aplicada pelo Timão e sofrida pelo Peixe na história. Jogando na Baixada Santista, o Corinthians abriu 5 a 0 ainda no primeiro tempo. Os santistas, revoltados com a arbitragem, passaram a forçar expulsões e pênaltis. Quando Neco marcou o décimo tento da equipe de Parque São Jorge, Ary, do Alvinegro Praiano, fez gol contra de propósito. O jogo terminou aos 21 minutos da etapa complementar, porque o Santos não tinha jogadores suficientes em campo.

Rei de verdade é o Rivellino! (Corinthians 2 x 0 Santos - Paulista de 1968)
O dia era 6 de março. Havia 11 anos (ou 22 partidas) que o Timão não ganhava do Santos de Pelé em partidas válidas pelo Campeonato Paulista. Com os reforços de Paulo Borges, Buião e Eduardo, o Corinthians, liderado por Rivellino, matou o jogo no segundo tempo, após uma etapa inicial equilibrada: Paulo Borges, o Risadinha, e Flávio, o Minuano, marcaram os gols da redenção. A torcida deixou o Pacaembu cantando: “Com Pelé, com Edu, nós quebramos o tabu!”.

No último suspiro, do jeito que a Fiel Gosta (Santos 1 x 2 Corinthians – Paulista de 2001)

O torcedor do Corinthians que esteve no Morumbi no dia 13 de maio de 2011 dificilmente esquecerá esta data. Os rivais alvinegros brigavam por uma vaga na final do Campeonato Paulista. O Santos, que jogava pelo empate, saiu na frente, mas Marcelinho Carioca igualou o marcador um minuto depois. Quando tudo parecia perdido e a torcida do Santos já comemorava a eliminação corintiana, o meia Ricardinho disparou chute certeiro, de fora da área, sem chances para Fábio Costa, a 15 segundos do fim. Explosão da Fiel e Timão na decisão contra o Botafogo de Ribeirão Preto. A campanha resultaria no 24° título estadual do clube.
 

  Baile ao ritmo de cumbia argentina (Corinthians 7 x 1 Santos – Brasileiro de 2005)
Em todos os clássicos contra o Santos, desde 6 de novembro de 2005, a torcida do Corinthians carrega uma bandeira: "Eterno 7 a 1". Não é para menos. Com um show de Carlitos Tevez, que marcou três gols e infernizou o Peixe no Pacaembu, o Timão construiu uma goleada que ficaria marcada como a melhor exibição da campanha do título nacional, conquistado na última rodada, contra o Goiás. Os torcedores santistas tentam justificar a goleada lembrando que os jogadores pareciam querer derrubar o então treinador, Nelsinho Baptista. Mas o que ficou para a história mesmo foram os gols.



Quando o Rei aplaudiu de pé o Fenômeno (Santos 1 x 3 Corinthians – Paulista de 2009)
Após eliminarem São Paulo e Palmeiras, respectivamente, Corinthians e Santos chegaram à final do Campeonato Paulista. No primeiro jogo, na Vila Belmiro, apenas um nome foi falado: Ronaldo. O Fenômeno marcou dois dos três gols do Timão, sendo que um deles (o que fechou o triunfo), foi classificado por ele próprio como o mais bonito da carreira. Após cortar o lateral Triguinho na intermediária, R9 viu Fábio Costa adiantado e não teve dúvidas: tocou por cobertura, com classe, calando a torcida santista. Presente na partida, Pelé não teve dúvidas: levantou-se e aplaudiu o feito do atacante. O Corinthians ficaria com o título após empate por 1 a 1 no Pacaembu.


pelé santos corinthians campeonato paulista 1971 (Foto: agência Gazeta Press)Pelé infernizava a vida do Corinthians: contra o Timão, 50 jogos, 51 gols (Foto: Gazeta Press)
 
GRANDES VITÓRIAS DO SANTOS
Taça na Vila ou fogo no Parque (Corinthians 0 x 2 Santos - Paulista de 1935)
O primeiro título do Santos de maior repercussão foi o Campeonato Paulista de 1935. Com 23 anos de história – o time foi fundado em 1912 –, o Peixe conseguiu o troféu justamente em cima do Corinthians. Nos pontos corridos, o Alvinegro Praiano venceu o Timão dentro do Parque São Jorge, por 2 a 0, e conseguiu ficar com a taça. Na ocasião, por conta de erros da arbitragem em partidas anteriores da equipe da Baixada em outras competições, houve uma mobilização grande dos torcedores que lotaram o estádio de São Paulo com galões de gasolina e prometeram colocar fogo no local caso o Santos fosse novamente prejudicado.

Curvem-se ao Rei Pelé (Corinthians 4 x 7 Santos - Paulista de 1964)

O maior artilheiro da história do clássico Santos e Corinthians é Pelé, com 51 gols em 50 partidas disputadas. Nesta vitória por 7 a 4, pela antepenúltima rodada do Campeonato Paulista de 1964, o Rei do Futebol marcou quatro vezes, manteve o Peixe na liderança da competição e abriu diferença considerável na tabela de classificação, que praticamente tirou as possibilidades de o Timão conquistar o título daquele ano – o time da Vila foi aos 40 pontos e o da capital ficou com 38, sendo que naquela época cada vitória valia apenas dois pontos. Na última rodada, o Alvinegro da Baixada venceu a Portuguesa por 3 a 2 e conquistou o título.


Última glória antes do jejum (Corinthians 0 x 1 Santos - Paulista de 1984)
Após a conquista deste título do Campeonato Paulista de 1984 em cima do Corinthians, o Santos entra em uma fase de ostracismo e fica longe das glórias até 2002. Em seguida, ser santista passa a ser um sofrimento. Falta de dinheiro, jogadores medíocres e péssimas administrações afundam o clube. Os alvinegros praianos viram alvo de piadas. A competição era disputada nos pontos corridos, e novamente o time da Vila Belmiro fez o jogo que definiu o campeão diante de um dos maiores rivais.



Show e fim da seca. Melhor impossível! (Santos 3 x 2 Corinthians - Brasileiro de 2002)
Depois de uma fase difícil, o Santos venceu o Corinthians com um time formado basicamente por garotos e conquistou, depois de 18 anos, um título importante. Naquela campanha, a diretoria havia dito que não iria contratar mais ninguém por falta de dinheiro, e o então técnico Emerson Leão teve de apostar na base. E assim surgiram jogadores como Diego, Elano, Renato, Alex e, claro, Robinho, o garoto de canelas finas que eternizou um drible - a pedalada - em cima do lateral corintiano Rogério.


Lembrada com carinho, mas não valeu (Santos 4 x 2 Corinthians - Brasileiro de 2005)
A partida não definiu um título, mas tem espaço na memória dos santistas mais novos. Nesta vitória por 4 a 2 diante do Corinthians, no Brasileirão de 2005, o Peixe colocou em campo pela única vez no clássico dois de seus maiores ídolos recentes: Giovanni e Robinho - o maior representante da geração de 1995 e o ícone do time campeão em 2002. O meia marcou dois gols. A partida, porém, é mais lembrada por ter sido anulada pelo STJD após o escândalo da máfia do apito, que manipulou resultados naquela temporada. O jogo remarcado foi recheado de lances polêmicos, expulsões, protestos, invasão da torcida e pênalti não marcado, o Corinthians venceu por 3 a 2, de virada, e disparou na liderança da competição nacional – o Timão acabou campeão daquele ano. Neste jogo, Robinho já havia sido negociado e Giovanni, descontente com a arbitragem, chutou a bola para a arquibancada em sinal de protesto.


FONTE:
 http://globoesporte.globo.com/futebol/libertadores/noticia/2012/05/timao-x-peixe-rivalidade-centenaria-sacode-semifinais-da-libertadores.html

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