Compositor se emociona diante de 45 mil japoneses na vitória da Seleção em jogo fraco. Depois, ganha camisa autografada, mas ex-faxineira lava
De lá para cá, Chico César viu o Brasil ganhar mais duas Copas, as de 1994 e 2002. Mas nenhuma dessas campanhas o fez superar a grande emoção que sentiu ao cantar o Hino Nacional Brasileiro em jogo de Seleção fora do país. Foi num amistoso internacional entre Brasil e Japão, realizado em 13 de agosto de 1997, na cidade de Osaka.
A equipe do Velho Lobo Zagallo ainda se preparava para a Copa da França de 1998. O time venceu os nipônicos por 3 a 0, finalizando excursão pela Ásia que incluiu também partida contra a Coreia do Sul (vencida três dias antes pelo Brasil por 2 a 1). O jogo foi fraco. Uma pelada. Mas Chico teve muitos motivos para nunca mais esquecer aquele dia (assista ao vídeo acima).
Além de cantar o Hino Nacional diante de 45 mil japoneses, virou amigo do então meia Leonardo, na época ainda jogador do Paris Saint-Germain, time em que hoje, 15 anos depois, é dirigente.
- Foi uma sensação muito forte. Estava pela Ásia em uma excursão, em que fiz 16 shows em 25 dias, e as datas acabaram coincidindo. Fiquei muito feliz com o convite da CBF para cantar o hino no jogo e vivi um dos momentos mais incríveis de minha vida – relembrou.
Foi mesmo emocionante. O estádio lotado e eu, aquele baixinho de Catolé do Rocha, cantando o hino do meu país"
Chico César
Os gols foram marcados por Flávio Conceição, aos 20 do primeiro tempo e 14 do segundo, e pelo zagueiro Júnior Baiano, que fechou o placar aos 18. Chico César, no entanto, estava numa espécie de hipnose desde bem antes do início da partida. Na verdade, toda a sua tensão começou no dia em que recebeu o convite.
- Sabia que o jogo seria transmitido pela TV Globo para todo o Brasil. Então, eu não poderia errar. Treinei à exaustão durante vários dias para garantir que não erraria o hino. Foi mesmo emocionante. O estádio lotado e eu, aquele baixinho de Catolé do Rocha (pequena cidade do interior paraibano), cantando o hino do meu país.
Chico relembrou que, ainda na entrada do time em campo, muitos dos jogadores brasileiros o olhavam e simplesmente não sabiam quem era. Exceto Leonardo, que conhecia bem o trabalho do compositor.
- Leonardo me levou ao vestiário, me apresentou ao time e me deu uma camisa oficial da Seleção autografada por todos os jogadores. Acabamos ficando amigos. Foi muito bom conhecer de perto muitos dos craques do futebol brasileiro na época.
Chico César relembra o dia em que 45 mil torcedores silenciaram para reverenciar o hino cantado por ele
(Foto: Phelipe Caldas)
(Foto: Phelipe Caldas)
- Certo dia, quando cheguei em casa, estava a camisa lavada. Dona Anita, toda orgulhosa, me disse que tinha dado um jeito nela, depois de ter ficado com pena ao vê-la 'naquele estado'. Lamentei muito, mas são coisas que acontecem na vida – explicou, aos risos.
O compositor contou também sobre o fascínio dos japoneses pelo futebol brasileiro. Segundo Chico César, a torcida local continuou fazendo festa e cantando mesmo depois de sacramentada a derrota.
- Os japoneses foram muito respeitosos e reverentes tanto ao Hino Nacional como ao futebol brasileiro. Torciam mesmo era pela festa. Foi tudo muito bacana, principalmente porque depois de cantar o Hino assisti ao jogo da beira do campo, bem pertinho de onde a bola estava rolando.
Paixão antiga pelo futebol
Chico César diz que o momento é ainda mais marcante por causa de sua história com o futebol. Como muitos brasileiros, se diz apaixonado por futebol, e por isso foi fascinante viver tão de perto a “emoção do jogo”. Mais ainda pelo lado “nacionalista” de se cantar o hino.
Nascido em Catolé do Rocha, um pequeno município de interior, o músico paraibano explica que começou a se interessar por futebol pelo rádio e pelo jogo de botão. Seu maior ídolo sempre foi o botafoguense Jairzinho.
Chico César com Franz Beckenbauer em Berlim
(Foto: Chico César / Acervo Pessoal)
(Foto: Chico César / Acervo Pessoal)
- Fiquei profundamente encantado com a forma de jogar da seleção holandesa, vice-campeã mundial daquele ano. Era um time espetacular e esteve presente em meu imaginário durante muitos anos. Foi meu primeiro encantamento com o futebol. E ali tomei o meu primeiro porre também – brincou.
A “Laranja Mecânica” de 1974 marcou tanto o músico que, 32 anos depois, quando foi convidado a fazer show na Alemanha às vésperas da final da Copa do Mundo de 2006, ele foi extremamente honesto com Franz Beckenbauer, maior ídolo do futebol alemão e organizador local daquela Copa.
Após o show, ao se encontrar e abraçar o capitão do bicampeonato alemão, Chico César teve que confessar sua magia pelo Carrossel Holandês. Para Chico, Beckenbauer vai ser sempre o “imerecidamente campeão da Copa 74”.
Kawaguchi, Narahashi (Watanabe), Akita, Ihara e Saito; Soma (Michiki), Yamaguchi (Takagi), Honda e Hirano (Jo); Nakata e Kazu. | Carlos Germano, Cafu, Júnior Baiano, André Cruz e Roberto Carlos; Dunga (César Sampaio), Flávio Conceição, Leonardo (Juninho Paulista) e Denilson; Sonny Anderson (Dodô) e Ronaldo (Donizetti). |
Técnico: Shu Kamo. | Técnico: Zagallo. |
Gols: Flávio Conceição, aos 20 minutos do 1º tempo e aos 14 do 2º tempo; e Júnior Baiano, aos 18 minutos do 2º tempo. | |
Local: Estádio Nagai, em Osaka (Japão). Competição: Amistoso Internacional. Árbitro: Pirom Unprasert (Tailândia). Público: 45.754 pagantes. FONTE: http://globoesporte.globo.com/pb/noticia/2012/01/meu-jogo-inesquecivel-chico-cesar-canta-o-hino-em-pelada-da-selecao.html |
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