sexta-feira, 22 de julho de 2011

Ao Globoesporte.com, treinador mostra seu lado bem humorado, fala sobre Seleção, diz que troca ideias com Mano e que é consultado por Juvenal


Por Adilson Barros e Sergio Gandolphi Santos, SP


Muricy Ramalho não gosta de dar entrevistas coletivas. É um fato. Basta dar uma rápida navegada pela internet para conferir as inúmeras vezes em que ele não foi nada cortês com repórteres, principalmente após os jogos. O técnico do Santos não se sente bem no centro de uma roda de jornalistas. Não cansa de dizer que só cumpre esse ritual porque se trata de uma obrigação contratual. Isso não quer dizer, porém, que não seja bom de conversa.
Em entrevista ao GLOBOESPORTE.COM, na última quarta-feira, no CT Rei Pelé, ele provou isso. Extremamente bem humorado, fazendo piadas, falando sobre vários assuntos sem sequer franzir a testa, mostrou uma faceta de seu temperamento que aparece muito pouco na mídia.
Esse comportamento mais leve, Muricy mesmo admite, é reflexo de sua excelente fase. É difícil não pregar no comandante alvinegro o rótulo de “melhor técnico do Brasil na atualidade”. Nos últimos seis meses, conquistou os principais títulos do país: o Brasileirão de 2010, com o Fluminense, o Campeonato Paulista de 2011 e a cobiçada Taça Libertadores, ambos com o Santos, a quem chama de “time da moda”.
Com Neymar como principal figura, o Peixe é badalado. Nos hotéis onde a equipe se hospeda, há sempre um barulhento grupo de fãs esperando pelo craque e por seus companheiros. Muricy revela que ele mesmo tem sido assediado. Virou um "Menino da Vila".

Na entrevista, Muricy conta ainda que mantém contatos constantes com o presidente do São Paulo, Juvenal Juvêncio, que ainda o consulta sobre possíveis contratações para a equipe tricolor (o técnico dirigiu o time do Morumbi por três anos e meio, entre 2006 e 2009). Também diz que conversa sempre com Mano Menezes, que assumiu o comando da Seleção Brasileira em seu lugar, quando o Fluminense não o liberou para a CBF. Garante não dar pitacos na escalação do colega: apenas troca ideias.
Por fim, fala sobre a remontagem do elenco santista após a conquista continental e promete concentração máxima no Brasileirão. Acredita que o time só poderá ir bem no Mundial Interclubes se chegar ao Japão embalado por uma boa campanha na competição nacional.
Confira os melhores momentos do papo com o técnico santista a seguir.

GLOBOESPORTE.COM - Muricy, você vive uma grande fase profissional. Conquistou tudo o que disputou nos últimos meses. E logo depois de ser obrigado a recusar convite para dirigir a Seleção Brasileira (não foi liberado pelo Fluminense). Como você analisa esse seu momento?
Muricy Ramalho
- Em seis meses, três títulos... Eu acredito muito nas coisas corretas. Se eu tivesse cortado aquele momento com o Fluminense, não ganharia Brasileiro, Paulista, nem Libertadores. Então, não me arrependo. Eu tinha aceitado mesmo a proposta da CBF. Só que tinha um compromisso com o Fluminense. Expliquei para o Ricardo Teixeira que não poderia simplesmente largar o clube, ligar lá e dizer que não ia mais. Foi aí que a coisa pegou.

Não acha que pode ter fechado as portas da Seleção com esse episódio? Não. As portas nunca fecham para quem faz as coisas corretas.

Então você ainda planeja dirigir a Seleção...Penso nisso, sim. Mas sem loucura. É como a Libertadores. Todo mundo me perguntava se eu ainda pensava em ganhar essa competição. Eu dizia que sim, mas sem obsessão. Com Seleção é a mesma coisa. A CBF tem sido muito coerente e correta nesse ponto: o treinador tem de cumprir um ciclo de quatro anos, até a Copa do Mundo. E tem de ser assim mesmo. Estou numa boa, tranquilo. Converso com o Mano (Menezes) de vez em quando, temos uma ótima relação. Não penso no lugar dos outros. Meu lugar é aqui.
O Neymar é um popstar. Parece cantor americano"
Muricy Ramalho

Sobre o que você e o Mano falam? Conversaram durante a Copa América? Trocamos ideias. Ele é um amigo. O Sidnei (Lobo, auxiliar de Mano) foi meu jogador. Estamos sempre em contato. Não falamos durante a Copa América, mas antes. O Mano me mandou mensagem parabenizando pelo título da Libertadores. Perguntou sobre alguns jogadores, dei dicas... (faz uma pausa). Sabe como é futebol, né? (risos). Já acham que é um querendo derrubar o outro. Nada disso.

Você hoje está em alta no Santos, mas a Seleção não anda bem. Perdeu a Copa América, o Mano tem o trabalho questionado. Como você analisa essa situação? Poderia ser você lá...A grande questão é ter convicção no que se faz. O Mano tem isso. Antes da Copa América, todos nós brasileiros, torcedores, imprensa, elogiávamos o trabalho. Pediam renovação, a Seleção foi renovada. Pediam um time ofensivo, montou-se um time ofensivo. Todo o planejamento está sendo cumprido. Aliás, a CBF está fazendo com o Mano a mesma coisa que havia combinado comigo na nossa conversa. É preciso ter um pouco de paciência. O cara começou a montar o time agora. É só dar tempo de trabalhar, pois acredito muito que essa equipe chegará forte à Copa de 2014. E outra, o que é importante? Não é a Copa América, nem a Copa das Confederações. O que vale mesmo é a Copa do Mundo.

Você ainda conversa com o Juvenal Juvêncio (presidente são-paulino)?Ele me liga sempre. Acredita muito nas coisas que eu falo. Nunca me chamou para voltar, mas está sempre me perguntando sobre jogadores e tal. É um amigo, um cara muito legal para se conversar. Ultimamente, ele só tem me ligado para dar parabéns, pois estou ganhando pra caramba (risos).
Muricy Ramalho durante entrevista (Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com)Muricy Ramalho participa de papo descontraído
(Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com)

Ele te ligou para perguntar sobre o Adilson Batista? Não. O Adilson é um grande profissional. Quando ele perdeu a final da Libertadores (pelo Cruzeiro, em 2009), eu estava assistindo ao jogo e vi o quanto estava abatido na coletiva. Eu arrumei o telefone dele e liguei. Nunca havíamos conversado. Sabia o que o Adilson estava sentindo, pois tinha passado por isso (em 2006, o São Paulo de Muricy perdeu a final continental para o Internacional). Acabamos ficando amigos. Ele sempre me telefona, a gente também troca ideias. Antes de assumir o Santos, eu liguei para ele para pegar informações (Muricy substituiu Adilson no Peixe).

Vamos falar agora sobre o Santos: o que você pensa sobre o Neymar? Ele te surpreendeu de alguma forma? O Neymar é um fenômeno, um popstar. Parece aqueles cantores americanos. A gente vê nos hotéis, nos aeroportos. É impressionante o assédio. Mas o que é mais legal é que ele aceita numa boa. Está sempre de bem com a vida. A criançada o adora. E, mais importante, nada disso atrapalha o trabalho. Ele joga toda hora, treina sempre, nunca falta, nunca fica fora. Ele me surpreendeu principalmente como pessoa. É um cara muito bacana.

Esse sucesso do Neymar e das outras estrelas do time respinga em você? Tem muito assédio para cima do treinador dos Meninos da Vila? Tem sim. Outro dia, fui ao shopping jantar com a minha esposa. Eu nunca saio, mas nesse dia ela me tirou de casa. Passei em frente ao cinema. Estava passando um filme infantil e umas 40 crianças saíram da fila para tirar foto comigo, pedir autógrafo (risos). Acho que isso faz parte também de todo esse sucesso do Neymar, do Santos. O time está na moda e, claro, sobra para mim também, que sou o comandante.

Não dá nem para ir à praia? (O GLOBOESPORTE.COM convidou Muricy para fazer a entrevista à beira-mar, mas ele recusou, pois disse que nao teria sossego) Eu gosto muito da praia. Juntando período em que morei no Rio e agora aqui, dá quase um ano e meio. Já sou um menino da praia (risos). Quando estava no Fluminenense e morava em Ipanema - morava mal pra caramba, né? (mais risos) -, eu ainda saía, caminhava. As pessoas me reconheciam, mas era mais tranquilo. Aqui em Santos, com os títulos, virou uma loucura. Não saio quase. Não dá.
O Juvenal agora só me liga para dar parabéns. Estou ganhando pra caramba..."
Muricy Ramalho

A diretoria promete segurar Neymar, Ganso e Danilo até o fim do ano e ainda acertou as contratações de jogadores importantes como Ibson, Henrique. Esse time está ficando bem forte, não? Veio o Alan Kardec também, que é bom jogador. A diretoria se mexeu, contratou bem. Mas nós precisávamos mesmo. Na Libertadores, tivemos muitos problemas de reposição. Estávamos num beco sem saída. Primeiro, não podíamos contratar sem saber se iria sair alguém. Na dúvida, trouxemos os jogadores e estamos formado um bom plantel. Vamos disputar o Brasileiro para vencer. Está difícil, mas vamos trabalhar para isso.

E como encaixar no meio de campo jogadores como Arouca, Elano, Ganso, Henrique, Ibson, além do Danilo, que é lateral, mas vem muito bem no meio? O Brasileirão é longo e precisamos ter um grupo com boas opções. É preciso entender também que nós estamos pensando lá na frente. Brasileirão, Mundial, mas também em 2012. São investimentos de médio e longo prazo. Além disso, no fim do ano vamos perder jogadores. Não vamos aguentar o assédio. Já temos de nos preparar para isso.

O Ibson era um jogador que você queria desde que estava no São Paulo. Como você o analisa? O Ibson é um jogador muito versátil, pode atuar como volante, como meia, e todo mundo falava dele. No São Paulo, no Fluminense, eu sempre tinha tentado contratá-lo, mas nunca dava certo, porque os russos não queriam liberar. Agora, felizmente, deu certo. Vai ser muito importante para a nossa equipe.
Pelé Muricy Ramalho Santos Libertadores (Foto: Ag. Estado)Muricy Ramalho comemora título da Libertadores ao lado de Pelé (Foto: Ag. Estado)

Neymar e Ganso estão entre os jogadores que sairão no fim do ano? Até o Mundial, eu acredito que eles ficam. As negociações para isso estão bem adiantadas. Agora, depois, eu não sei. Nós não podemos achar que eles vão ficar aqui para sempre. Não vão. São muito valorizados.
Você sempre foi perseguido por críticas de que não ia bem em Libertadores. E o título veio agora. Na comemoração, recebeu uma bela homenagem do Pelé, que o abraçou no meio do campo. Sua carreira atingiu o ápice? Eu sempre procuro olhar para frente. Mas, sem dúvida, é um momento muito legal. Depois da festa do título, eu fui lá para minha casa em Ibiúna (interior de São Paulo). Na madrugada, fiquei sentado pensando nos motivos desta fase que estou vivendo. Tudo isso aconteceu porque eu trabalhei muito duro, nunca desanimei, tentei sempre melhorar os meus treinos, fugir da rotina. Deu certo, mas não estou parado, não. Agora quero o Brasileiro, depois tem o Mundial...

FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/times/santos/noticia/2011/07/badalado-muricy-revela-ser-amigo-de-rivais-e-ate-da-dica-aos-concorrentes.html

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