sábado, 4 de junho de 2011

Memórias do tri: o coração no saibro de Paris e a 'felicidade pura' de Guga

Dez anos depois, brasileiro lembra a maior emoção que sentiu numa quadra

Por Alexandre Cossenza Florianópolis

O ponto longo, que viu Michael Russell correndo de um lado para o outro da quadra tentando impedir o inevitável, terminou com um smash. Pouco depois, Gustavo Kuerten usava a raquete como lápis e desenhava um coração na quadra Philippe Chatrier para ajoelhar e agradecer o apoio da torcida francesa durante mais de três horas. O gesto foi a maneira encontrada pelo brasileiro para compartilhar o que até hoje ele considera como "felicidade pura", a emoção mais forte sentida em toda a carreira.
Tecnicamente, o jogo do dia 3 de junho de 2001, há dez anos, valeu apenas uma vaga nas oitavas de final em Roland Garros. Guga, porém, viu aquela virada contra um desconhecido - que teve até um match point - como uma segunda vida no torneio. Em conversa com o GLOBOESPORTE.COM na sede de sua empresa, em Florianópolis, o ex-número 1 do mundo tentou explicar o que sentiu naqueles rápidos minutos após o triunfo.
- Terminou com essa minha felicidade pura. Acho que numa quadra de tênis eu nunca senti algo tão forte. Talvez toda essa enxurrada de sensações que foram mexendo comigo durante o jogo se transformaram em coisas boas e fui levando aquilo comigo. Então eu me senti o cara mais feliz do mundo ali, batendo (na bola). Eu nem lembrava mais se eram oitavas, se não eram. Eu só falava "cara, parece que ganhei um novo Roland Garros de presente". Eu já era campeão ali porque aquele ano (se perdesse) eu não teria mais chance.
Dez anos depois, Guga acredita que aquela partida foi um microcosmo de sua carreira. O catarinense sempre acreditou que poderia superar adversidades, sempre lutou por seus objetivos e quebrou barreiras. Em 1997, tornou-se o primeiro brasileiro a vencer um Grand Slam em simples. Três anos depois, chegou ao inédito posto de número 1 do mundo. O coração desenhado no saibro simbolizou um pouco de tudo.
- Mesmo sendo ruim, mesmo sendo desagradável às vezes, frustrado, mas pô, tem uma recompensa, tem algo. E eu vou continuar lutando, vou continuar brigando e encontrar uma coisa boa. Se tiver só um pedacinho assim, eu vou lá e acho. Então aquele jogo resumiu muito o que é minha filosofia de vida, minha entrega com o tênis. E aí acho que encaixou, sabe? Para mim, foi a ação mais marcante da minha carreira. Por mais do nada que tenha surgido, por mais espontâneo que tenha sido, acho que só dessa forma mesmo para conseguir fazer algo com tanto sincronismo para o que realmente eu estava pensando. Tentando explicar aqui em 20 minutos, ficou mais fácil fazer aquilo ali, na quadra central de Roland Garros, que pra mim ainda hoje é emocionante.

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