Preso na Suíça e extraditado ao Uruguai, Eugenio Figueredo declara que empresas de marketing esportivo subornavam dirigentes para evitar novos concorrentes
Eugenio Figueredo, ex-presidente da Conmebol, chega ao Uruguai (Foto: MIGUEL ROJO / AFP)
Junto
com José Maria Marin e vários outros, Figueredo foi preso em maio de
ano passado em Zurique, por policiais suíços que cumpriam um pedido de
autoridades americanas. Mas, à diferença dos demais, não foi extraditado
para os Estados Unidos e sim para o Uruguai, onde já havia uma
investigação em curso sobre a Conmebol. Figueredo está preso e teve
milhões de dólares em bens e dinheiro confiscados.
A
Justiça do Uruguai publicou trechos do depoimento de Figueredo, de 83
anos, que presidiu a Conmebol entre 2013 e 2014. Tanto seu sucessor
(Juan Angel Napout) quanto seu antecessor (Nicolas Leoz) estão em prisão
domicilar. O primeiro em Nova York, o segundo em Assunção - enquanto
aguarda o julgamento de um pedido de extradição aos EUA.
Figueredo deixa claro como as coisas funcionavam na
Conmebol. A cúpula recebia subornos de empresas de marketing esportivo
(Traffic, Torneos y Competencias, Full Play) para entregar a elas os
direitos de transmissão e direitos comerciais sobre os torneios no
continente - Copa Libertadores, Copa América por exemplo - e evitar
concorrência. O pagamento de propinas a cartolas é o centro da
investigação americana que levou dezenas de dirigentes de futebol do
continente para a cadeia.
- Desde que época em que assumiu como integrante
do Comitê Executivo da Conmebol [1993] recebia importantes somas de
dinheiro [...] com a finalidade de manter o status quo de uma perversa
forma de corrupção. [...] Desta forma evitava outras ofertas para a
comercialização dos direitos de transmissão dos torneios organizados
pela confederação. Expressamente reconhece que tal modo de atuar se
traduzia em prejuízo a clubes e jogadores profissionais, no caso do
Uruguai reduzindo notoriamente o dinheiro que deveriam receber aqueles e
estes.
Figueredo declarou que recebia, de
salário, US$ 40 mil mensais - e que cada presidente de federação
nacional embolsa US$ 20 mil. Esses valores nunca constaram dos balanços
da entidade. Durante a passagem de Figueredo pela cúpula da Conmebol, os
presidentes da CBF foram Ricardo Teixeira (até 2012) e José Maria Marin
(2012-2015). Quando Marco Polo Del Nero assumiu (2015), o presidente da
Conmebol já era Juan Angel Napout.
Além do salário, o uruguaio declarou que recebia uma
mesada de US$ 50 mil mensais das empresas de marketing esportivo. Cita a
T&T (Torneos e Traffic) e a Torneos y Competencias, todas
investigadas pelas autoridades dos Estados Unidos.
O ex-presidente da Conmebol disse ainda que recebeu
"importantes somas de dinheiro" da Full Play, empresa que em 2011 tomou
da Traffic os direitos de transmissão da Copa América. A disputa entre
Traffic e Full Play foi resolvida com a criação de outra empresa - Datisa - que passou a fazer negócios com a Conmebol.
-
[Figueredo] confessa ter recebido importantes somas de dinheiro da
empresa Full Play Group SA [...] Recebeu somas superiores às que diz
terem recebido os presidentes das diversas associações, no caso 400.000
dólares cada um [...] Seu conhecimento de tal fato emerge de ter
recebido vários pagamentos por este conceito e por estar informado pelo
próprio HJ [Hugo Jinkis], um dos sócios daquela empresa.
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